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Homem das Arábias morre dentro de fossa da sua pecuária
foto DR Rui Duarte Cordeiro e Simone Cordeiro

Homem das Arábias morre dentro de fossa da sua pecuária

O dono da Herdade da Galega, Rui Duarte Cordeiro, que morreu no fundo de uma fossa de seis metros era um verdadeiro homem das Árabias. A sua morte, a de um dos seus filhos e um empregado, deu brado por todo o país.

Rui Duarte Cordeiro, empresário natural do concelho de Leiria, ligado a vários negócios, morreu dentro de uma fossa na sua pecuária na Chamusca quando tentava prestar ajuda a um dos seus funcionários. Com Rui Cordeiro morreu ainda um dos seus filhos, Gonçalo Pereira Duarte, 30 anos, que também foi em auxílio de Bruno Rodrigues, o funcionário que trabalhava na fossa e que terá sido o primeiro a morrer nesta tragédia. Salvou-se o filho mais novo, Rafael Cordeiro, 20 anos, que também foi acudir ao funcionário, e depois ao pai e ao irmão. Quatro dias depois da tragédia continuava internado no hospital em coma induzido.
“Rui Duarte Cordeiro era um homem das Arábias mais do que um latifundiário”, diz quem o conhecia bem e que lamenta muito a sua morte. A Herdade da Galega, na Carregueira, era um dos seus projectos empresariais mais interessantes, e de certa forma megalómano, mas que estava a começar a ser notícia na região pelos investimentos que entretanto estavam a ser realizados. Tudo começou pela instalação de uma pecuária de criação intensiva de porcos, que levou a grandes investimentos na área ambiental e que chegaram a causar preocupação na população da freguesia. Com esses investimentos começaram a surgir projectos ligados à produção de biomassa, energia solar, floresta, zona de caça, entre outros, numa área de mais de mil hectares comprada à família do professor Moncada, que foi uma figura da freguesia.
A propriedade esteve abandonada durante muitos anos. Foi ocupada a seguir à revolução do 25 Abril de 1974 e serviu, nesses tempos de abandono, para o exercício militar das forças armadas sediadas no Campo Militar de Santa Margarida, em Constância, já que os territórios fazem fronteira.
As notícias que têm saído na imprensa sobre o facto de a propriedade servir de turismo rural e zona de caça associativa não são verdadeiras uma vez que a propriedade é vedada, bem vigiada, e os acessos só são permitidos às pessoas que trabalham na herdade. Mas é verdade que a propriedade está cheia de animais, alguns exóticos, que servem para caçar mas, segundo fonte bem informada, só os amigos e familiares gozavam dessa regalia.
Rui Cordeiro comprou a Herdade da Galega há cerca de 15 anos e as obras de recuperação da casa principal da propriedade foram inauguradas alguns anos depois com a presença de muitos amigos da região de Leiria, de onde era natural, assim como de algumas pessoas da Chamusca, nomeadamente técnicos que também trabalharam para a sua empresa.
Rui Cordeiro tinha vários negócios em África e no Brasil e era proprietário de outras empresas como a Lisotel, Captágua e Tubofuro, que representam apenas uma pequena parcela da sua vasta fortuna e interesses económicos. Tinha quase pronta a inaugurar, no Parque Industrial do Relvão, uma fábrica de injecção de plástico para produção de tubos e depósitos, entre outros materiais.
Tinha avião particular, que era o sinal mais evidente do seu pequeno império, construído em poucos anos, também com a ajuda do seu pai, de quem herdou as empresas que lhe deram a oportunidade de se fazer um empreendedor e um homem de negócios de sucesso.
Rui Cordeiro era casado com Simone Cordeiro, de quem tinha dois filhos menores. Simone natural da região de São Paulo, no Brasil, e filha de um grande produtor de bananas. Era nesta região que Gonçalo Pereira Duarte comandava a ‘Palmito da Fazenda’, uma empresa do Grupo Poçágua, estabelecida dentro da Fazenda Barra do Capinzal. Uma das principais actividades na fazenda era a criação de bubalinos e o cultivo do palmito pupunha.
O MIRANTE falou com vários populares da Carregueira que confirmam que Rui Cordeiro era visto a frequentar o restaurante da Ponte da Chamusca ou a Taberna da Rita, um restaurante do Pinheiro Grande, mas ultimamente com menos frequência. No dia da tragédia almoçou com os filhos na Tasquinha do Carcavelo, no centro da Carregueira. Saiu às 14h30 e uma hora depois deu-se a tragédia.
“Era um tipo do terreno, às vezes rude, mas sem peneiras, sempre a trabalhar. Agora andava a lotear uma pequena parte da Herdade da Galega, junto à zona do Parque do Relvão, para vender a investidores. Há poucos anos mandou arrancar um eucaliptal para semear feno de forma a minorar o impacto da pecuária”, disse a O MIRANTE um empresário da Chamusca que conhece bem o terreno e os interesses instalados. No dia da tragédia, ao almoço, terá dito que não tinha tempo para os amigos e que precisava de rever a sua agenda.

Homem das Arábias morre dentro de fossa da sua pecuária

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