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Poluição ambiental resolve-se com mais fiscalização no terreno
A Reserva Natural do Paul do Boquilobo integra os municípios de Torres Novas e da Golegã

Poluição ambiental resolve-se com mais fiscalização no terreno

O Dia Mundial das Zonas Húmidas, celebrado a 2 de Fevereiro, serviu de mote a uma conversa com Carlos Cupeto, geólogo, professor, conhecedor e defensor da importância destas áreas basilares para a biodiversidade, onde já foi feito muito investimento mas ainda falta alertar consciências.

Quando perguntamos a Carlos Cupeto quais as mais importantes zonas húmidas da região a resposta é imediata: o Tejo. Ligado ao rio durante décadas, enquanto director do Departamento de Recursos Hídricos do Interior da Administração da Região Hidrográfica (ARH) do Tejo, o também professor de Geociências, na Universidade de Évora, e ex-cronista de O MIRANTE, refere que é difícil a sua escolha não recair sobre este rio que tão bem conhece.
Afinal é a partir do Tejo que se formam duas das mais importantes zonas húmidas da região e do país. Uma é o Estuário do Tejo, um dos maiores santuários da Europa, com uma riqueza inestimável em termos de capital natural e de biodiversidade. Outra é a Reserva Natural do Paul do Boquilobo, a primeira área protegida portuguesa a integrar a Rede Mundial de Reservas da Biosfera da UNESCO.
O Paul do Boquilobo é local de abrigo, de reprodução e de alimentação e repouso nas rotas de migração de muitas aves e albergue para uma das mais importantes colónias de garças da Península Ibérica. Situado entre os municípios de Torres Novas e da Golegã, inunda sazonalmente pelo transbordo dos rios Almonda e Tejo e foi, durante muitos anos, afectado pelos esgotos domésticos que ali iam parar sem qualquer tratamento.
Carlos Cupeto realça o esforço e o investimento feito, nomeadamente com a construção da ETAR de Riachos, há cerca de cinco anos, para melhorar a qualidade da água. “Os problemas ao nível dos esgotos domésticos estão resolvidos”, refere o professor, mas acrescenta que tal não é suficiente para acabar com a poluição, pois esta deriva de outro tipo de utilizações como a particular, industrial ou agrícola.
Comportamentos que têm a ver com o nível de consciência de cada um e cuja solução passa pela presença das entidades reguladoras no território. “A gestão local e regional é feita hoje por entidades que não saem do gabinete, têm Internet e drones, fazem uns modelos e uns estudos, mas o mundo real é completamente diferente, é outra coisa”, afirma Carlos Cupeto, realçando que “quando há presença no território há respeito, quando as pessoas se conhecem há vontade e cumplicidade”.

Hoje abrimos a torneira com muita facilidade
Levando a conversa para a sua área de formação, a Geologia, Carlos Cupeto afirma que uma das riquezas da região é a sua geodiversidade, “temos substratos muito diferentes em poucos quilómetros e isso proporciona diversidade”. Aponta ainda o potencial como reserva de água do aquífero da Bacia Tejo-Sado onde se acumulam quantidades “brutais” de água. “Na zona de descarga do Tejo, a sul de Abrantes, temos este aquífero que é incomparável com tudo o resto em termos de água e em termos de potencial. Tem sido, e provavelmente continuará a ser, a nossa sorte”, refere.
Carlos Cupeto explica que nesta zona da bacia do Tejo existem muitos quilómetros de espessura de sedimentos que, nos espaços vazios entre eles, estão preenchidos com água. Como há uma alternância entre camadas permeáveis e camadas impermeáveis, ou seja, entre areias e argilas, estas últimas funcionam como tampão não deixando que os poluentes cheguem à reserva de água.
“Por acaso, ou talvez não, a geologia por vezes é-nos favorável”, graceja o geólogo.
Apesar desta abundância de água o professor refere que cada vez há uma utilização mais intensa deste bem essencial. “Antigamente as populações em meio rural eram populações de baixo consumo, hoje, mesmo no mundo rural, os comportamentos são urbanos e abrimos a torneira com muita facilidade”, remata.

Viver os rios a pé

Carlos Cupeto é dinamizador do grupo de caminhantes “Tejo a Pé”, um grupo que nasceu quando ainda trabalhava na Administração da Região Hidrográfica do Tejo e que todos os meses organiza uma caminhada onde o objectivo é viver os rios a pé. “Não é preciso ter um barco para viver um rio, pode-se vivê-lo das margens”, é o lema que defende. Em Fevereiro estarão pela costa ocidental, junto ao mar e em Março haverá caminhada na Serra de Aire e Candeeiros.

Poluição ambiental resolve-se com mais fiscalização no terreno

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