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População de Azambuja saiu à rua contra o aterro
Meia centena de populares saiu à rua para protestar contra o aterro de Azambuja

População de Azambuja saiu à rua contra o aterro

Montanhas de lixo importado e maus cheiros fizeram a comunidade sair à rua para exigir o fim da gigantesca lixeira. Município tenta travar construção de novas células e o Governo anuncia medidas urgentes para deixar de receber resíduos de outros países.

Farta dos maus cheiros, infestações de aves e insectos que se alimentam de lixo, a população de Azambuja saiu à rua em protesto na segunda-feira, 3 de Fevereiro contra o aterro instalado na periferia da vila. Margarida Dotti, uma das promotoras do protesto, que vive a menos de 300 metros da lixeira, explica que diariamente ali são depositadas toneladas de resíduos vindos de outros países, sem qualquer fiscalização.
“Atingiu proporções gigantescas que vão acabar com Azambuja. Ninguém vai conseguir viver aqui se o aterro continuar com os planos de crescimento”, conta a moradora, que aponta desde logo o erro de se ter permitido “construir um aterro à porta de casa das pessoas”. Desde 2017, ano em que a lixeira abriu portas, que o pesadelo de Margarida Dotti tem sido o de viver de janelas fechadas e “pôr o braço à frente do nariz antes de correr para casa porque o cheiro é nauseabundo”.
As queixas e receios contra o “crime ambiental” multiplicam-se entre a meia centena de manifestantes que exigiram o fim do aterro. Teresa Cardoso conta que deixou de colher os legumes que planta na horta, a cerca de 500 metros do aterro, com medo que “tudo esteja contaminado desde que as cegonhas começaram a lá deixar ossos e outras porcarias”.
Hélder Ribeiro conta que até uma carapaça de sapateira encontrou no quintal, para não falar do mau cheiro que se entranha dentro de casa. Clementina Martins acrescenta que é do conhecimento da população que perto da lixeira existem dois furos de água que podem estar contaminados e prejudicar a saúde das pessoas. Depois questiona, para que todos oiçam, o porquê de Azambuja ser “a lixeira da Europa”.

Câmara tenta travar abertura de mais células
Durante a manhã de protesto popular em frente à Câmara de Azambuja, os eleitos do executivo estiveram reunidos e decidiram que a autarquia não vai autorizar o alargamento do aterro, enquanto o processo do seu licenciamento estiver a ser avaliado pelo tribunal. A decisão de não aceitar a alteração do calendário para a “operação urbanística solicitada pela empresa Triaza”, para a construção da segunda e terceira células, foi comunicada pelo presidente à população, com a promessa de ser formalizada na reunião extraordinária de 5 de Fevereiro.
Recorde-se que a Câmara de Azambuja foi obrigada pelo Tribunal a decidir sobre a calendarização para a expansão do aterro, sob pena de ter de pagar uma multa de milhares de euros e de o próprio presidente do município ter de descontar do seu ordenado entre 5 a 10 por cento do salário mínimo nacional por cada dia que passasse da data imposta pela justiça.
Luís de Sousa sublinhou que está do lado da população nesta luta e que a câmara municipal tem feito tudo para que as entidades competentes fiscalizem as condições de funcionamento do aterro. O autarca socialista reafirmou que tem enviado à APA, Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) de Lisboa e Vale do Tejo e Inspeção-Geral da Agricultura, do Mar e do Ordenamento do Território todas as queixas e fotografias tiradas pelos cidadãos.
Sobre a inspecção da CCDR, realizada ao aterro em Dezembro passado, Luís de Sousa afirma a O MIRANTE que no relatório que lhe chegou “dizem que está tudo bem”, resposta que diz estranhar dado o mau cheiro e aparecimento de aves no aterro. O autarca lamentou ainda que a delegada de saúde, a quem já fez chegar o abaixo-assinado com centenas de assinaturas, ainda não se tenha pronunciado sobre o assunto.

Governo não quer mais lixo importado

O aterro de Azambuja, gerido pela empresa Triaza, tal como outros em Portugal, tem estado a receber resíduos vindos de outros países da Europa. A própria Agência Portuguesa do Ambiente (APA) já tinha admitido que Portugal está a receber lixo vindo de 47 países, entre eles Itália e Malta, cujos contentores vão parar em parte a Azambuja. Em 2018, avança o Expresso, Portugal importou 2,2 milhões de toneladas de lixo, dos quais 331 mil são resíduos perigosos.
Dado o aumento de queixas das populações sobre os maus cheiros e infestações de aves e insectos, o Ministério do Ambiente e da Acção Climática, tutelado por Matos Fernandes, avança em comunicado que a partir deste mês vão ser tomadas medidas urgentes que incluem a revisão de licenças e suspensão da entrada de resíduos. No caso de Azambuja, em declarações a O MIRANTE, Luís de Sousa, presidente do município, afirma que tem a garantia da tutela de que Portugal “a partir de 7 de Janeiro não está a receber mais resíduos do estrangeiro”. O aterro de Azambuja terá, no entanto, de continuar a aceitar os “restos das 300 mil toneladas que já tinham sido autorizadas para vir do estrangeiro”.

População de Azambuja saiu à rua contra o aterro

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