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“Há dezenas de fábricas a poluir e ninguém as controla”
António Martins quer ver maior e mais dura fiscalização às indústrias poluentes do concelho de Vila Franca de Xira

“Há dezenas de fábricas a poluir e ninguém as controla”

António Martins cumpre o seu primeiro mandato na Assembleia Municipal de Vila Franca de Xira pelo CDS. Entretanto desvinculou-se e vai terminar o mandato como independente, desiludido com a política interna do partido. O ambiente é a sua grande preocupação e integra a comissão de acompanhamento ambiental da Cimpor e a comissão de ambiente da assembleia. Diz não ter dúvidas: há dezenas de fábricas a poluir sem serem fiscalizadas. E o aumento da co-incineração anunciado para a Cimpor vai trazer mais dores de cabeça. Uma conversa no jardim de Castanheira do Ribatejo, vila onde vive há duas décadas. É um ex-militar da Força Aérea que gosta de pensar pela sua cabeça, abomina a mentira e diz que não anda na política para abanar as orelhas.

É um rosto conhecido na defesa de um melhor ambiente no concelho, em particular na cintura de Alhandra. Satisfaz-lhe o recente relatório que diz que a Cimpor não é culpada?

Se não é a Cimpor então quem polui? Alguém o está a fazer. Temos de ser mais rigorosos nas inspecções às fábricas e indústrias que existem no concelho. Há fábricas em Alhandra que estão a poluir muito, à revelia de todos nós e que não estão a ser controladas. A Cimpor até vai começar a alargar a co-incineração com queima de pneus e isso preocupa-me bastante. Se até agora temos sentido que a qualidade do ar não é boa na vila, quando não há uma co-incineração muito activa, calcule como vai ser quando ela estiver em alta. Debruçamo-nos muito sobre a Cimpor mas ela é um bode expiatório. Há muitas outras indústrias que precisam de ser fiscalizadas, que deitam tanto ou mais cheiro que a Cimpor e que nem sabemos que poluentes estão a libertar porque fogem ao controlo.

Mas a Cimpor é a fábrica de maior dimensão...

A Cimpor aparece nas reuniões com a comissão de acompanhamento muito bem preparada. Sabemos que é uma fábrica e que tem de laborar. É uma cimenteira e por isso sabemos que polui. Mas preocupa-me estes incidentes que têm acontecido regularmente com a Cimpor. Não é normal. São problemas que têm de ser resolvidos e não podem ser uma normalidade. Eles têm de verificar a causa desses problemas e corrigi-los. Virem dizer-nos que os problemas aconteceram porque o material da pedreira era mais grosso e causou entupimentos não é aceitável. Tem de haver trabalho a montante para que as coisas corram bem. Sempre se soube que a cimenteira é uma indústria poluente. Mas há lá outras.

Satisfaz-lhe o papel que a câmara tem tido nesta matéria?

Pode fazer mais. Deve insistir na necessidade de maior fiscalização, inspecção e acompanhamento dos poluidores. Temos de meter mão na poluição que se sente em Alhandra. Já fomos um concelho muito industrializado e trocámos o segundo pelo terceiro sector. Pensámos que íamos melhorar em termos ambientais mas isso não aconteceu. A qualidade é baixa no nosso concelho e temos um passivo ambiental muito perigoso, como acontece na antiga Cimianto. As estradas nacionais que atravessam o concelho estão sobrecarregadas. No concelho nunca se fez um estudo entre o ar que se respira e a qualidade de vida das pessoas. Isto está tudo ligado e não me parece que as coisas vão melhorar nos próximos anos.

Está a cumprir o seu primeiro mandato como eleito na assembleia municipal. Tem assumido bandeiras como a luta pela implementação do programa 1º Direito e a criação de uma rede de cuidadores informais do concelho. Também foi sua a primeira proposta para que as assembleias tivessem intérpretes de língua gestual. Está satisfeito com o que tem alcançado?

Nunca tive experiência de assembleia municipal. Aprendi muito sobre o concelho mas as lutas partidárias é onde me sinto mais desgostoso. Introduzem nas discussões assuntos passados que não me parece que as torne muito positivas. Estou a gostar da experiência e quero levá-la até ao fim, enquanto fizer sentido lá estar. Mas isto tem dado muito trabalho.

“Não vou a reuniões para abanar as orelhas”

Desvinculou-se do CDS e passou a ser independente. Foi o segundo eleito a fazê-lo neste mandato depois de Mário Cantiga (ex-CDU). Sai desgostoso com os centristas de VFX?

Entrei no CDS há sete anos. Conheci pessoas de muito bom nível mas também vi pessoas sem ele e isso deixou-me desiludido e desgostoso. Até mesmo com a política em geral. Abandonei o partido por me sentir completamente desamparado e sozinho. Senti muita falta de apoio. Sempre tive de ser eu a debruçar-me sobre todos os dossiês e fazer as propostas. Ainda cheguei a ser presidente da comissão política concelhia mas demiti-me. Tinha uma estrutura preparada para concorrer à liderança do CDS e enfrentar a Filomena Rodrigues mas a distrital não aceitou, foi protelando e acabei por desistir. Estava a lutar contra uma organização que não quer avançar. Há pessoas com interesses instalados e caminho próprio. Sinto um ziguezague no CDS e temos perdido muitas das nossas bandeiras.

Vê-se como um rebelde?

Não sou um rebelde político mas não sou subserviente. Não sou seguidista. Tenho a minha opinião própria e sempre a coloquei acima de tudo. Não vou para as reuniões só para abanar as orelhas e acredito que há muita gente que só faz isso. Para já não me vejo metido em mais partidos políticos. Estou como independente e de consciência tranquila. Tive de sair do CDS por um imperativo de consciência. Os políticos não podem nem devem ser fundamentalistas. Tanto apoio um bom projecto de esquerda como do centro ou direita. Tem é de ser bom para a população.

A Câmara de Vila Franca de Xira é das que tem ao nível do país uma boa saúde financeira. Avalia positivamente a gestão que tem sido feita pelos socialistas?

A câmara não pode ser um depositário dos nossos impostos. Custa-me ver quando ela fecha o ano com grandes receitas e ainda há tanto por fazer em Vila Franca de Xira. Percebo que é uma gestão muito rigorosa e que temos contas saudáveis mas nem sempre ter contas públicas saudáveis significa bem-estar e qualidade da população. Temos um acumular de riqueza enorme que não está a ser colocado à disposição das pessoas. Também o rio financeiro que corre no concelho não corre à mesma velocidade. Corre melhor em VFX, Alverca e Póvoa do que aqui na Castanheira, por exemplo. O presidente do municipio é prudente em demasia. Temos estado muito debruçados na zona ribeirinha e esquecemos a população interior. Há gente que vive muito longe da realidade do concelho.

A nova revisão do PDM pode dar resposta a esse problema?

Vem oferecer mais do mesmo. Podíamos ter centros e pólos tecnológicos mas enveredámos pelo que é mais fácil, as indústrias que não trazem qualidade, ocupam terrenos bons e não necessitam de trabalhadores com grande qualificação.

Ter na vida os valores de militar

António Martins tem 60 anos e nasceu em Lamego, terra onde ainda regressa com frequência Veio na infância para a região de Lisboa com os pais. Foi mecânico na Força Aérea Portuguesa e passou as últimas duas décadas a viver na Castanheira do Ribatejo. É casado, tem um filho e licenciou-se em gestão e administração pública.
Era consultor independente na Loja do Condomínio mas suspendeu funções desde que foi eleito para a Assembleia Municipal de Vila Franca de Xira. Foi a primeira vez que foi eleito para um cargo político. Entretanto está ligado ao ramo da gestão de condomínios e gestão de conflitos. Assume-se como pessoa simples que leva o dia-a-dia com tranquilidade. Sempre se identificou com a direita democrata cristã. É católico praticante e sempre prezou a ética militar e os valores da solidariedade, companheirismo e justiça. Lida mal com a mentira e o engano. Chegou a ser dirigente da delegação do Vale do Tejo, na altura situada na Castanheira do Ribatejo, da Associação de Spina Bífida e Hidrocefalia de Portugal.

Um coleccionador de notícias

António Martins confessa-se um leitor assíduo de O MIRANTE e um coleccionador de notícias. “Recorto algumas notícias de O MIRANTE e gosto de as guardar. Já vou tendo algumas muito interessantes, sobretudo cartoons”, confessa o autarca, que elogia o papel do jornal e a sua importância na comunidade. “As notícias que conheço de toda a região só as consigo ler em O MIRANTE. É o único jornal que faz isso. Digitalmente tenho uma ligação ao jornal e recebo notificações das novas notícias mas continuo a preferir a edição em papel”, conclui.

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