Sociedade | 11-09-2011 11:31
A1 "roubou" clientes mas restaurantes que foram paragem obrigatória na EN1 sobrevivem
Eram ponto obrigatório de paragem para quem, há meio século, se punha à estrada, a nacional 1, para uma longa jornada de viagem entre as duas principais cidades do país.O Pôr-do-Sol, aberto em 1967 - meia dúzia de anos depois da construção do troço da autoestrada do Norte entre Lisboa e Vila Franca de Xira - e, alguns anos depois, a Ponderosa, dois restaurantes à beira da EN1, no cruzamento de acesso a Alcoentre, sobreviveram à “fuga” do tráfego da que foi a estrada nacional mais movimentada do país.“Sentimos muito com a construção das autoestradas”, confessou à agência Lusa Miguel Figueiredo, 41 anos, desde 1991 à frente do negócio comprado pelo pai em 1972.Os 25 empregados que chegaram a ter “não tinham mãos a medir” para servir uma média de 200 almoços diários. Com as autoestradas acabaram as viagens de quem ia de Lisboa para o Porto, ou vice versa, mas também, mais recentemente, com a construção da A8 e da A15, dos clientes que vinham da Nazaré, Caldas da Rainha ou Peniche para apanhar a A1 em Aveiras.Agora, os seis funcionários dão conta das 30 a 40 refeições que vão servindo, sendo certo que a maior parte dos clientes opta pelo serviço ao balcão, onde o forte são as sopas e as bifanas.“O trânsito aqui, agora, é quase local. Há também os camionistas, mas já trazem comer de casa e acabam por vir aqui tomar um café e para ir à casa de banho”, disse Miguel Figueiredo à Lusa.Um pouco mais à frente, o Ponderosa perdeu o espaço de lazer: “chegámos a ter tiro aos pratos e uma praça de touros”, disse à Lusa Clara Mendes, também ela a assumir o legado do pai.“A realidade actual não tem nada a ver”, afirmou, frisando o esforço que tem sido feito “para ir sobrevivendo”.Dos mais de 30 empregados, hoje restam oito, mas o espaço mantém, além do restaurante, salão de chá, snack bar e churrasqueira, o motel e uma estação de serviço, tendo ainda inaugurado, em 2002, uma piscina num espaço ao ar livre que recebe festas e eventos.“Temos hoje um tipo de cliente muito diferente”, disse Clara Mendes, convicta de que, há 30 anos, este era o espaço “mais conhecido no trajecto Lisboa/Porto, o que levava a que as pessoas fizessem a própria selecção e nem toda a gente entrava”.O restaurante optou agora por um tipo de refeições mais económicas, para atrair a população residente, nomeadamente os funcionários do estabelecimento prisional de Alcoentre.A menos de uma dezena de quilómetros de Alcoentre, à entrada de Aveiras de Cima, na EN 366, o Pôr do Sol 2 surgiu logo após a conclusão do troço da A1 entre Carregado e Aveiras, em 1980, beneficiando do fluxo de trânsito que aí afluía.Com a construção do troço da A1 até Torres Novas, em 1990, o espaço, de grandes dimensões, ressentiu-se.“Chegámos a ter 50 funcionários. Agora são 15”, disse à Lusa António Sousa, 58 anos, o homem que há 30 anos investiu aqui, depois de ter entrado no mundo da restauração quando, aos 13 anos, se meteu num táxi, em Viseu, e parou na primeira casa que o quis receber como empregado, numa estação de serviço, em Castro d’Aire.“Antes e depois da autoestrada não há comparação possível”, disse, salientando que sobretudo se vive agora um momento em que “está tudo a fraquejar”.O empresário, que possui outros restaurantes na região, tem procurado adaptar-se à diferença da procura. Além do salão para casamentos, aberto há 10 anos, tem uma residencial e também uma estufa e viveiro de plantas.