Piratas informáticos roubam 138 mil euros a empresário de Vila Franca de Xira
Banco é acusado de não ter feito o suficiente para ajudar a reaver o dinheiro de um empresário da construção civil de Vila Franca de Xira que, até hoje, não quer acreditar no que lhe aconteceu. Caso vai seguir para tribunal.
Meia hora bastou para que piratas informáticos sacarem, no final do ano passado, 138.707 euros a um empresário da construção civil de Vila Franca de Xira. A vítima, de 60 anos, prefere não dar a cara e o nome mas aceitou contar o caso a O MIRANTE para que sirva de alerta a quem confia nos sites dos bancos, o chamado homebanking, que permite realizar pagamentos, transferências e outras operações a qualquer hora a partir de um computador.
Empresário da construção civil desde 1999 herdou o negócio do pai e nos últimos anos sempre realizou os pagamentos da empresa pelo site do seu banco, o Millennium BCP. No dia 19 de Dezembro estava a fazê-lo novamente. Ligou-se, realizou vários pagamentos, um deles à Segurança Social, até que o site lhe apresentou uma informação de que precisaria de ser actualizado. “Como já tinha feito vários pagamentos aceitei. Enviaram-me um PIN para o telemóvel e pediram que o introduzisse no site. A partir desse momento deixei de ter acesso, o site bloqueou e achei que tinha ido abaixo. Voltei a abrir e a informação que aparecia era de estar temporariamente indisponível”, conta.
Ao fim de meia hora sem conseguir entrar e com pagamentos ainda por concluir o empresário lembrou-se de ir a uma caixa multibanco para completar a tarefa. Foi nesse momento que viveu uma sensação de terror: tinham sido feitas 14 transferências, todas superiores a nove mil euros, para contas de titulares chamados “Pietro” ou “Markl”.
“Eu não estava num site falso, estava dentro do site do banco quando tudo aconteceu e as janelas que me apareceram tinham a indicação do banco. Não entendo como é que o site permite que se façam 14 transferências destes valores em apenas meia hora”, lamenta. O empresário não tem dúvidas de que a responsabilidade do que aconteceu é do banco e acredita que não foi caso único nesse dia.
Banco descarta responsabilidades
Os piratas limparam quase toda a almofada financeira que a empresa tinha para pagar salários e subsídios de Natal. Valeram algumas poupanças do empresário para ultrapassar a dificuldade. Porque do banco, critica, não recebeu uma atenção ou ajuda. A gestora de conta bloqueou a conta depois do ataque mas depois, lamenta, “zero” apoio. “Fazem como se nunca me tivesse acontecido nada. Isso revolta-me. Ao fim de 15 dias de apresentar queixa na polícia continuava sem saber nada do banco”, lamenta.
Só a 24 de Fevereiro, depois de pôr os advogados em contacto com o banco é que o empresário recebeu uma resposta, fazendo menção a uma exposição que diz nunca ter feito. “A forma fradulenta e maliciosa como foi realizado o processo de criação e validação e subsequentes transacções não são a título algum da responsabilidade do banco, não lhe sendo imputadas quaisquer obrigações de restituição dos valores reclamados”, respondeu o BCP ao cliente, lamentando a fraude de que foi vítima e renovando a disponibilidade dos serviços do banco para colaborar com a polícia.
“Parece uma carta automática e revela a falta de ética para com os clientes. Eu era cliente há muitos anos e vou sair. O respeito deve-se por toda a gente. A minha gestora de conta caiu a pique. No passado pensava que era uma pessoa excelente que estava sempre pronta para ajudar e afinal é tudo fachada. Desde o primeiro dia que têm tentado limpar as mãos deste problema e ainda enviam esta carta vergonhosa”, lamenta.
O empresário acredita que a justiça irá forçar o banco a pagar. Até porque, alega, mandou o computador da empresa para análise de uma empresa especializada e onde o relatório revela que este não estava nem nunca esteve em contacto com software malicioso. Por esse motivo, alega a vítima, apenas o site do banco poderia estar directamente sob ataque.
O empresário diz que hoje é impossível operar sem homebanking mas alerta a comunidade para os perigos. “Se não estivesse num site genuíno não teria conseguido fazer os pagamentos que fiz. O meu conselho é para que não confiem em nada dentro dos sites dos bancos. Qualquer um está sujeito a isto e exposto”, apela.
As explicações do banco
Contactada por O MIRANTE, fonte oficial do Millennium BCP evoca o dever de sigilo bancário para não comentar ou responder a questões sobre casos concretos dos seus clientes. Também não confirma ou desmente que o site tenha sido alvo de ataque informático naquele dia e hora. Ressalva, no entanto, que a segurança dos sistemas de informação é muito importante para o banco, “procurando o Millennium BCP adoptar as melhores práticas a cada momento mantendo sempre actualizada a informação sobre avisos de segurança”. Lembra também que tem disponíveis recomendações que os clientes devem observar no acesso ao site e na utilização de equipamentos móveis para acesso aos serviços de homebanking.