O MIRANTE dos Leitores | 01-07-2023 15:00

Alhandra e Vila Franca de Xira co-incineradas pela ferrovia

Foi há cerca de 20 anos. O grande salão da Sociedade Euterpe Alhandrense rebentava pelas costuras – a população compareceu em grande número a uma sessão pública do processo de avaliação do projeto de co-incineração de resíduos perigosos na fábrica de cimento de Alhandra.

Foi há cerca de 20 anos. O grande salão da Sociedade Euterpe Alhandrense rebentava pelas costuras – a população compareceu em grande número a uma sessão pública do processo de avaliação do projeto de co-incineração de resíduos perigosos na fábrica de cimento de Alhandra.
Ao contrário do que as pessoas receavam, verificou-se mais tarde que nada havia a recear de tal projecto que vinha corrigir uma situação, essa sim perigosa, de falta de um processo adequado de tratamento de determinados resíduos.
A recordação dessa reunião, que foi muito acalorada e muito dificilmente coordenada, serve no entanto para perceber que os habitantes de Alhandra, fartos de serem vítimas da poluição por emissão de poeiras por parte da cimenteira, não suportavam nem acreditavam em mais promessas e estavam dispostos a tudo para impedir o projecto.
Ora, temos agora de nos defrontar com um novo projecto, muito mais perigoso para Alhandra e para Vila Franca de Xira – a quadriplicação da linha férrea, já anteriormente adiada nesta zona em consequência dos problemas principais que o projecto.
Em Alhandra não há área suficiente para alargar a ferrovia para quatro faixas, a menos que desaparecesse completamente a Avenida Afonso de Albuquerque (a única avenida daquela terra). O próprio proponente limita-se por isso a sugerir a instalação de uma só via adicional, mantendo a já actual situação de “fusível” do sistema. Mesmo assim isso significava a redução a metade da largura da avenida e a proibição de estacionamento! Tudo o que restava aos actuais moradores da avenida era habituarem-se a que os comboios lhes “passassem por dentro” das suas habitações.
Em Vila Franca de Xira, a consecução do projecto significaria a destruição do jardim “à beira rio plantado”, a zona mais nobre de acesso ao rio Tejo – ou seja, a zona cantada por Almeida Garrett nas suas “Viagens pela Minha Terra”.
Ora é evidente que nem Alhandra nem Vila Franca merecem tal destino. Bem se pode dizer que estas duas povoações seriam “co-incineradas”. Espera-se, no entanto, que haja o bom senso de encarar e estudar as alternativas possíveis, que existem. Basta citar o caso de Espinho, onde o problema se resolveu com um túnel com cerca de um km.
Um desvio das duas linhas adicionais, a começar antes da estação de Alhandra e a terminar algures em Povos, é uma solução possível, certamente muito mais cara do que o caso de Espinho, mas é para casos especiais, como este, que têm de ser convenientemente aproveitadas as ajudas comunitárias de que ainda beneficiamos. O que não podemos aceitar é a “co-incineração” de Alhandra e Vila Franca de Xira!
João Rosa

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