A terceira tentativa de Pedro Duque para ser presidente da Câmara de Sardoal

É inspector tributário em Santarém, vive em Abrantes e tem um percurso de duas décadas como vereador da oposição na Câmara de Sardoal, a cuja presidência se candidata pela terceira vez consecutiva. Pedro Duque acredita que desta vez vai ganhar e promete um poder próximo das populações, com particular foco na atracção de investimento e reversão do êxodo populacional que tem afectado o Sardoal e de que o próprio é um exemplo.
Foi candidato à presidência da Câmara de Sardoal em 2017, em 2021 e é, novamente, em 2025. O PS não tinha mais alternativas? Tinha. O PS, felizmente tem tido uma evolução gradual e bastante interessante em termos de quadros. No entanto, até por via do resultado que tive nas últimas eleições, e da equipa que se manteve, e que iremos inclusivamente reforçar, penso que tinha todas as condições para ser candidato. Aliás, a minha escolha foi feita por unanimidade, não houve qualquer tipo de dúvidas em relação a isso. Sinto-me capaz, com motivação e cada vez com maior conhecimento do que é a realidade do concelho.
Esses desaires eleitorais não lhe afectaram a auto-estima nem lhe esmoreceram o alento? Não, porque temos que contextualizar sempre. Vimos de uma trajectória de crescimento paulatino. A primeira vez que fui candidato, em 2017, tivemos cerca de 30% dos votos. Estamos a falar após o final do primeiro mandato do actual presidente, com aquelas dificuldades acrescidas quando se disputa uma eleição contra um presidente em exercício que vai para o segundo mandato. Em 2021 já foi como vimos, foi por uma unha negra que não vencemos. Penso que teve a ver com algum desgaste relativamente à gestão social-democrata levada a cabo por este presidente e complementado com o reconhecimento que vou granjeando por parte da população. Sou uma pessoa presente, que conhece a realidade de trás para a frente, conheço os dossiês na íntegra.
É um vereador já com muitos anos de oposição... Já sou vereador desde 2005. Sou um veterano.
Já vimos que é um homem persistente. Acredita que à terceira vai ser de vez? Não tenho a mínima dúvida. Não gosto de ser sobranceiro nem de auto--elogios, mas a avaliar pelas abordagens e pela receptividade que vamos tendo, pelas mensagens que ouvimos, penso que a vitória do PS tem tudo para acontecer.
Não ter Miguel Borges como adversário pode ser uma vantagem? Poderá ser uma vantagem, mas em certa medida poderá representar uma desvantagem também. Gosto sempre de ser muito cauteloso nas avaliações que faço. Miguel Borges tem sido um presidente carismático, muito efusivo nas suas posições e demasiado incisivo em variadas áreas…
Incisivo em que aspecto? Em determinadas áreas, nomeadamente na educação, na cultura e também, por exemplo, em questões relacionadas com a saúde. São todas importantes no dia-a-dia do Sardoal, mas digamos que o direccionamento e o investimento em larga medida nessas áreas, que é visível, com obra feita até recentemente, não foi acompanhado de investimento noutras áreas.
Houve um desequilíbrio nas opções de investimento? Foi dada demasiada prioridade, por exemplo, à cultura? Não diria demasiada, até porque todos estes investimentos, e faço sempre esta ressalva com toda a sinceridade, quer na educação quer na cultura, trazem mais-valia ao concelho. O que é preciso perceber é se o concelho tem dimensão para suportar investimentos tão acentuados nessas áreas e depois não pode também, de uma forma sustentada, investir na mesma proporção noutras áreas.
Como por exemplo? Por exemplo na área económica, no incentivo à iniciativa privada.
Que investimento em concreto acha que teve uma dimensão demasiado elevada? Por exemplo, temos um centro cultural que dignifica imenso o Sardoal, temos uma escola nova, vamos inaugurar agora a biblioteca, vamos começar também a obra da creche. São todas obras de importância indiscutível, mas é preciso perceber se a dimensão do investimento feito veio de alguma forma impossibilitar que se possa fazer investimentos da mesma ordem de grandeza em áreas como a económica e da habitação.
Há muita restrição à construção no concelho? Sim, o Plano Director Municipal (PDM), em vigor há 30 anos, é muito restritivo no que diz respeito às áreas de construção. Isso nunca foi uma prioridade. O próprio parque industrial do Sardoal, que se encontra esgotado, só há cerca de três ou quatro anos é que viu concluídos os arruamentos. O parque industrial devia ser um ponto de captação, de atracção de investimento e nunca foi uma prioridade. Só a partir de 2012 ou 2013 é que se deu um impulso à revisão do PDM, muito por insistência dos vereadores do PS.
Se esta terceira candidatura correr mal, acabam-se as veleidades autárquicas? Sou filiado no Partido Socialista há muito tempo, desde a Juventude Socialista. Gosto de política, faço parte da comissão política concelhia e também da distrital, sinto-me bem também nas lides políticas regionais e nacionais, mas sou sobretudo um autarca e um defensor dos interesses das minhas origens e dos lugares que piso diariamente. A minha política é essa. Os autarcas e as autarquias são o braço mais eficaz da nossa democracia.
Deve ser frustrante ser autarca há 20 anos, sempre na oposição, sem funções executivas. Sem dúvida que é frustrante, na medida em que não nos tem sido dada a oportunidade de fazer valer a nossa estratégia e a nossa visão. Das nossas propostas, só a do orçamento participativo teve implementação. As outras, que apresentamos em reuniões de câmara ou durante a discussão dos orçamentos, são liminarmente rejeitadas, ou porque se alega que não há meios financeiros, ou porque têm uma proposta melhor. Mas isso também não é de estranhar.
A dificuldade de construir no Sardoal levou-o para Abrantes
Em anterior entrevista a O MIRANTE, dizia ser fundamental travar o êxodo populacional. No entanto, o senhor vive em Abrantes. Não acha que devia dar o exemplo e contribuir para o aumento de população no concelho a que se candidata? É uma questão pertinente e até a costumo utilizar com a maior das franquezas. Sou um exemplo vivo do que foi essa falta de estratégia, na altura em que pretendi construir casa. Trabalhava já em Santarém mas não prescindi de ficar perto das minhas origens. Fui uma das vítimas dessa falta de espaços urbanizáveis. Vivo em Abrantes porque na altura em que casei e me quis fixar nalgum lado esbarrei nessa dificuldade no concelho do Sardoal. E como na família existiam terrenos em Abrantes, optei por lá. Mas atenção que moro a cinco ou seis quilómetros da Câmara do Sardoal.
Ainda tem esperança de um dia poder viver no seu concelho? Não tenho a mínima dúvida. Sou um sardoalense e um alcaravelense. Tenho lá a minha horta, as minhas oliveiras, em Alcaravela, e passo lá a esmagadora maioria dos meus tempos livres.
Morar fora do concelho não pode ser um óbice na campanha eleitoral? Nunca achei que fosse, até porque as pessoas vêem-me lá, faço parte de algumas associações...
Qual é a receita mágica para reter e atrair população para viver no Sardoal? A receita mágica, se alguém a tivesse, já a tinha aplicado. Não tenho dúvidas disso. Mas será sempre um complemento entre as condições de habitabilidade, ao nível de ter uma boa escola, de ter também boas condições para dar cultura às pessoas; e acho que a cultura no Sardoal não vai muito ao encontro dos gostos da população…
É elitista? Não lhe quero chamar isso. O presidente Borges sempre teve a perspectiva de fazer crescer, de alguma forma de reeducar culturalmente as pessoas, mas o facto é que passados estes anos todos o número de frequências dos espaços e dos eventos públicos por parte dos sardoalenses não tem vindo a aumentar significativamente. Mas voltando atrás, para se fixar pessoas é também preciso haver boa resposta ao nível da saúde e, sobretudo, haver emprego e condições para as pessoas se fixarem. É por aí que passa a mensagem principal da nossa candidatura: incutir alguma ambição.
Ambição em que sentido? Enquanto estratega e gestor do concelho não veria qualquer problema que o Sardoal fosse também um concelho dormitório, porque temos uma auto-estrada a três ou quatro quilómetros. Podia-se e devia-se potenciar a habitação diferenciada, não tanto na vertical mas uma habitação com lotes maiores. E temos espaço para isso. Outro ponto que temos sempre focado é o da ampliação zona industrial.
Se for eleito, qual será a sua primeira medida? Temos muitas. Temos um programa em elaboração, estamos a ouvir pessoas a quem reconhecemos competências, estamos a ouvir as associações, mas a nossa prioridade vai ser obviamente habitação e crescimento económico, embora sejam medidas que não têm efeitos imediatos.
E medidas com efeitos imediatos? Temos duas ou três preocupações. Uma delas tem a ver com o saneamento financeiro, porque a liquidez financeira do município está a degradar-se, e perceber o que é possível fazer. Outra é a necessidade de uma reorganização urgentíssima dos serviços. Os serviços perderam, de uma forma que diria acentuadíssima, a proximidade.
O município está a prestar um mau serviço à população? Está a prestar um serviço muito deficitário em determinadas áreas. Nomeadamente naquelas funções que afectam mais directamente o quotidiano das pessoas, como manutenção e limpeza do espaço público.
Trabalhar na Autoridade Tributária pode ser uma mais-valia na gestão autárquica? Sem dúvida. Trabalhando na Autoridade Tributária, e ainda para mais na inspecção, penso que não oferecerá dúvidas a ninguém de que sou uma pessoa que prima pelo rigor financeiro.
É um homem de contas certas? De contas certas e um homem cauteloso, mas também ambicioso. O meu objectivo será sempre fazer as coisas de forma equilibrada.
Qual foi o maior pecado da gestão de Miguel Borges e do PSD? Foi um pecado gradual, que foi ocorrendo de uma forma, se calhar, imperceptível para quem está no poder, que é a perda de proximidade com as pessoas. Também acho que a gestão de Miguel Borges viu a floresta sempre mais como um risco do que como uma oportunidade. E na área da olivicultura o município também não foi suficientemente pró-activo. O único apoio que dava era na ajuda do transporte das águas ruças e, este ano, até isso deixou de ser dado. Chegámos a ter perto de uma dezena de lagares há não muitos anos e neste momento mais de 50 por cento da azeitona produzida no Sardoal é moída nos concelhos limítrofes.
Mas essa não é uma competência do município. Não é, mas o município não teve pró-actividade de incentivar a iniciativa privada. Porque com medidas mais assertivas poderia ter fixado mais uma dúzia de postos de trabalho.
O mote da sua candidatura é “Fazer Diferente”. O que é que pode fazer de substancialmente diferente num concelho pequeno, com pouca população e escassas receitas? Fazer diferente é a constatação inequívoca de que foi feito alguma coisa, posso é não concordar que se tenha investido só em certas áreas. Era o que faltava que passados 70 milhões de euros - que foi o valor que o Estado central transferiu para o Sardoal nestes 12 anos - não houvesse aqui alguma coisa construída. Fazer diferente é fazer noutras áreas em que entendemos que é necessário intervir, com rigor na utilização dos recursos, seja humanos, seja financeiros. Os recursos humanos do município não são de mais mas estão distribuídos de forma desequilibrada. Em áreas administrativas há recursos mais do que suficientes e em áreas mais operacionais existe uma carência gritante de recursos humanos. Há também uma grande carência de maquinaria e de viaturas.
A proximidade à auto-estrada e os bons acessos, só por si, não se traduzem em desenvolvimento. Não, porque têm de se criar condições para as pessoas se fixarem, ou com emprego ou com condições para habitabilidade. Não podemos ter medo de falar em crescimento e, quanto antes, partirmos para a ampliação da zona industrial e criação de espaços com condições para as pessoas se poderem fixar com outra facilidade. Tudo isto acompanhado por maior pró-actividade no apoio à iniciativa privada, que é imprescindível para o crescimento do concelho. Sem aumento de população e de emprego as receitas próprias nunca vão aumentar.
Faz sentido existirem concelhos de dimensão tão reduzida? Não se ganharia escala com a união de alguns municípios como se fez com as freguesias? É uma questão pertinente, mas pelo conhecimento que tenho e pela filosofia que tenho incutida, acho que quanto maior proximidade tiverem os órgãos autárquicos maior é a sua assertividade e maior é o sucesso com que são aplicados os recursos públicos. Sou muito crítico das gestões feitas à distância. Não é por aí. O Estado também não poupou praticamente nada com a agregação de freguesias. Sou contra qualquer tipo de agregação de concelhos.
Um veterano da política com longo percurso na oposição
Pedro Duque nasceu a 5 de Julho de 1973 no lugar de Panascos, freguesia de Alcaravela. Aos 16 anos entrou para a Juventude Socialista (JS) e chegou a criar um núcleo do partido na sua freguesia. Entretanto afastou-se um pouco da política e regressou em 2005 quando foi convidado pelo candidato à presidência da Câmara do Sardoal, Fernando Morais. Nas eleições autárquicas de 2017 e 2021, foi o cabeça-de-lista à câmara, tendo conseguido eleger dois vereadores.
Aos 16 anos começou a jogar futebol no Clube Desportivo Alcaravela, onde era guarda-redes. Jogou até aos 27 anos. Foi director e presidente do clube depois de ter arrumado as chuteiras. Aos 40 anos voltou a jogar futebol mas só para manter a boa forma física. Hoje já não calça as chuteiras. Em criança cantou no rancho folclórico da terra e ainda faz parte de várias colectividades. É casado e tem uma filha, que é advogada recém-formada.
Licenciado em Gestão de empresas, é inspector tributário no serviço de Finanças de Santarém, onde trabalha há mais de vinte anos. Os quase 200 km que faz por dia nunca o fizeram equacionar trocar Abrantes, onde vive, pela capital de distrito. E a intenção é mesmo regressar ao concelho de origem, quando houver mais facilidade para construção.