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Tejo tem potencial para ser a maior instalação desportiva de Vila Franca de Xira

Tejo tem potencial para ser a maior instalação desportiva de Vila Franca de Xira

O presidente da Federação Portuguesa de Canoagem é de Vila Franca de Xira. Chama-se Vítor Manuel Félix e vive em Alhandra, terra que garante estar no mapa da canoagem nacional.

Esteve envolvido nos últimos três ciclos olímpicos da canoagem portuguesa e diz que o balanço é positivo. Confessa ficar triste com a forma como o rio Tejo é tratado pelo poder central, garante que tem um enorme potencial por explorar e admite que há jovens no Alhandra Sporting Club com condições para representar Portugal nas Olimpíadas de Tóquio em 2020.

O rio Tejo tem potencial para ser a maior instalação desportiva do concelho de Vila Franca de Xira e só precisa que haja empenho em desenvolver nele mais actividades de lazer, recreio e desporto, além das várias que já ali são praticadas. A opinião é de Vítor Manuel Félix, 46 anos, presidente da Federação Portuguesa de Canoagem e residente em Alhandra.
“A câmara tem feito um grande investimento em aproximar as pessoas ao rio com a requalificação da frente ribeirinha. O Tejo é uma oportunidade mas as pessoas do nosso concelho acabam por estar muito separadas do rio, o nosso concelho sofre por ser um dormitório, uma zona suburbana, ao fim-de-semana as pessoas preferem ir novamente para Lisboa e não aproveitam todos os recursos naturais que o concelho tem. E nem sabem o que perdem”, lamenta.
Vítor é formado em gestão do desporto e é também chefe da divisão de desporto e equipamentos da Câmara de Vila Franca de Xira. Apesar de garantir que Alhandra já está no mapa nacional da canoagem, confessa que a modalidade ainda tem de crescer muito para que o concelho possa sonhar com um rótulo de capital nacional da canoagem.
Além disso o Tejo continua com três graves problemas por resolver: poluição, navegabilidade e acessibilidade. “O rio tem vários problemas mas o principal é a poluição. Há 30 anos que contacto com o rio e noto as diferenças, está melhor do que antigamente, graças às estações de tratamento que vieram despoluir muito o rio e também a algumas indústrias poluidoras que fecharam portas. Mas de vez em quando há descargas que metem em causa o rio”, diz.
Outro dos problemas é o assoreamento do rio. “Um barco só consegue navegar até Valada (Cartaxo), isso coloca em causa os peixes e a pesca. E depois há que olhar para a acessibilidade ao rio. Se quiser colocar um barco no Tejo só temos três cais no concelho. E mais para cima pouco há”, alerta.
O dirigente nota que o poder autárquico tem pouco poder de decisão no plano hidrográfico e aponta o dedo ao poder central por alguma inacção que se vive em relação ao maior rio ibérico. Vila Franca de Xira tem sido um dos concelhos que tem alertado publicamente para a necessidade de se olhar para o rio com olhos mais atentos. “O poder central tem algumas responsabilidades nesta situação. Precisa de ser mais rigoroso na fiscalização das empresas que poluem, assegurar a navegabilidade do rio e criar postos de acostagem das embarcações”, defende.

Um pioneiro da canoagem na zona
Vítor Félix teve uma infância de rua em Alhandra e de proximidade com o rio. Foi aí que surgiu a sua ligação à canoagem. Aos 12 anos começou a praticar vela na secção náutica do Alhandra Sporting Club e aos 16 anos foi dos primeiros, juntamente com Rui Câncio, a fixar a canoagem enquanto modalidade no clube e no concelho. Para o dirigente era “desejável” que a região tivesse mais clubes de canoagem, já que os poucos que existiam foram definhando até ao esquecimento. “Temos clubes em Salvaterra de Magos, Abrantes e Barquinha, mas precisávamos de muitos mais”, confessa. Actualmente a canoagem tem 3 mil praticantes federados em 150 clubes do país.
“Somos um concelho que tem o privilégio de ter 20 quilómetros de frente ribeirinha. Mas apesar do Tejo ser um bom local para a prática da modalidade não é o ideal para treinar canoístas olímpicos. Estamos muito perto do mar, há forte influência da corrente. O ideal é treinar em barragens ou águas paradas. Aqui também temos o facto do rio ser muito largo e haver muita predominância de vento, que levanta ondulação e impede os treinos”, revela.
Vítor Félix é presidente da federação mas nunca optou por fazer dessa uma ocupação a tempo inteiro, como os seus colegas. “Optei por ter o meu trabalho normal e dirigir a fundação nos tempos livres, que tem sede no Porto. É muito desafiante e complicado, só tenho de estar agradecido à minha família e ao executivo municipal por me apoiarem nesta missão. O sucesso que a canoagem portuguesa tem tido deve ser repartido com a Câmara de Vila Franca de Xira”, conclui.

Críticas à prestação olímpica são “injustas”

Vítor Félix acompanhou na Federação Portuguesa de Canoagem os três últimos ciclos olímpicos portugueses - Pequim (China), Londres (Inglaterra) e Rio de Janeiro (Brasil) - e diz que as críticas da imprensa nacional à prestação olímpica portuguesa são “injustas” e até garante que estes foram “os melhores jogos de sempre” da canoagem portuguesa.
“Tivemos uma medalha de prata em Londres e este ano estivemos sempre perto das medalhas, acabámos com um quarto, quinto e sexto lugar. Temos vindo sempre a crescer. O balanço foi muito positivo, só faltou a cereja no topo do bolo, a medalha. Mas o ciclo olímpico não são só os jogos, é todo o percurso de campeonatos da Europa e do Mundo que se vão realizando e aí obtivemos grandes resultados. Claro que a medalha olímpica é o coroar desse percurso, mas o que fizemos não nos envergonha de maneira nenhuma”, explica a O MIRANTE.
Vítor Félix não esconde que há uma relação directa entre investimento público e obtenção de resultados - Portugal gastou 17 milhões durante quatro anos para preparar os atletas olímpicos. “Só esse valor gastou a Hungria para preparar a canoagem olímpica”, nota. Mesmo assim admite que o dinheiro que foi dado aos canoístas portugueses “foi o suficiente” e que nada lhes faltou.
“O desporto não é matemática, nem sempre 1+1 é igual a 2. Tivemos 8 atletas em prova, foi a maior delegação de sempre da canoagem portuguesa. Temos hoje a melhor geração de sempre na canoagem portuguesa e vão fazer mais um ciclo olímpico em Tóquio”, conclui.

Concelho perto de ter atletas olímpicos

O trabalho feito na formação do Alhandra Sporting Club começa a produzir frutos e um dos sonhos do dirigente é vir a ter atletas da sua terra nos próximos jogos olímpicos. Diz que isso é possível, assim haja empenho e esforço de duas promessas - Fábio Cameira e David Varela. “Eles são jovens [21 e 22 anos] e estão a dar tudo, se eles se empenharem é possível que venham a representar o país nos próximos jogos”, avança.
Actualmente os jovens têm muitas actividades aliciantes para escolher mas o dirigente entende que só cabe aos pais a tarefa de os orientar no melhor caminho. “Felizmente no nosso concelho, fruto dos apoios que a câmara tem dado aos clubes e às infraestruturas que tem construído, o acesso à prática desportiva está muito facilitada e os jovens têm várias opções de escolha. Temos uma centena de clubes com prática desportiva assídua em Vila Franca de Xira. Mas é sempre preciso orientar os miúdos”, defende.

Alhandra envelhecida e sem apostar no Tejo

A freguesia de Alhandra, onde vive Vítor Félix, está “desertificada” e “muito envelhecida”, lamenta o dirigente, que defende uma rápida reabilitação das habitações devolutas do centro histórico para com isso captar novos moradores. Além disso é preciso apostar mais no Tejo numa vertente de lazer e convívio. “O ASC aposta muito na competição mas pouco no lazer. Não há nenhuma empresa a operar aqui no concelho a facultar o acesso à canoagem no rio ou à vela de lazer, ao contrário de outros concelhos. O clube podia dar esse passo, alugar embarcações, realizar passeios, descidas do rio. Podia ser uma forma de se financiar e financiar a competição”, defende.

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