A Agroglobal tem contribuído para mostrar a importância do sector agrícola
Nesta feira os assuntos são tratados com profundidade e profissionalismo. Recuperamos para esta edição parte da entrevista dada a O MIRANTE pelo principal organizador da Agroglobal, Feira das Grandes Culturas, Joaquim Pedro Torres. A agroglobal decorre em Valada do Ribatejo, concelho do Cartaxo, tem uma periodicidade bianual e é um certame essencialmente profissional.
O projecto de uma feira profissional como a Agroglobal tinha condições para ser convincente e hoje temos na feira quase todas as empresas da fileira agrícola, além de empresas que não sendo do sector dão ao certame uma importância cada vez maior, como bancos ou petrolíferas.
Recebemos de bom grado todo o tipo de visitantes mas para nós é importante que se mantenha na Agroglobal um ambiente de partilha de conhecimento agrícola, para que resultem negócios. É essa a razão pela qual estão aqui as empresas.
A Agroglobal contribuiu para transmitir uma imagem diferente daquilo que é o agricultor e a agricultura. Nem sempre a sociedade foi generosa a entender o sector. Este sector foi muitas vezes entendido como um sector menos preparado tecnologicamente e menos evoluído, o que não tem a ver com a realidade.
Temos tido a preocupação de trazer à Agroglobal pessoas de fora do sector, pessoas que formam opinião, que quando aqui chegam ficam muito admiradas com a profundidade e profissionalismo com que os assuntos são tratados.
Houve uma desaceleração de sectores de actividade, como a construção civil e a indústria. A agricultura aguentou muito melhor o embate (da crise) e passou, em termos relativos, a ficar mais valorizada. Mas isso também aconteceu porque finalmente foi conseguindo passar a imagem daquilo que realmente vale.
A agricultura do Ribatejo anda ao melhor nível desde há muito tempo. Não vejo há muitos anos, de Abrantes a Vila Franca de Xira, um hectare de terra que não esteja cultivado ao melhor nível do que se faz no mundo.
A agricultura é uma actividade difícil que normalmente não dá grandes níveis de remuneração do trabalho. De uma forma geral a produção agrícola não especializada é uma actividade que não tem muitas barreiras à entrada. O nível de conhecimento que é preciso está disponível no mercado e qualquer pessoa pode fazer uma cultura de milho mesmo não sabendo plantá-lo, o que faz com que haja muita concorrência e os agricultores não consigam fazer valer factores que os distingam de outras pessoas que decidem fazer agricultura.
A cultura do milho tem passado por vários ciclos de entusiasmo. Neste momento estamos a passar por uma fase menos favorável. Há um enquadramento de preços internacional no qual o produtor português não se sente cómodo e as áreas de produção têm vindo a diminuir um pouco.
[Em relação ao milho transgénico] Há um conjunto de regras que se vão instalando no mercado, por vezes de uma maneira estranha, porque se criam limitações à produção mas não se criam limitações à importação. Se a ideia é ter uma Europa totalmente livre de transgénicos deviam ser proibidas as importações de países que utilizam esta tecnologia de produção. O problema é estarmos a concorrer em termos de preços usando armas diferentes.
A beterraba, em termos produtivos, funciona muito bem em Portugal. O problema é que o mercado mundial do açúcar sofreu muitas transformações. O açúcar de beterraba na Europa era uma produção muito protegida em termos de preços e conseguia proporcionar aos agricultores bons níveis de rentabilidade, mas a entrada de açúcar de outras proveniências dificultou a capacidade de produzir a preços concorrenciais. Mas estudos recentes dizem que há capacidade para produzir beterraba em Portugal, a níveis compensadores.
Quem é Joaquim Pedro Torres
Joaquim Pedro Torres, 61 anos, licenciou-se em 1972 no Instituto Superior de Agronomia em Lisboa. Recebeu em 2009, durante as comemorações do Dia de Portugal, a Ordem de Mérito Agrícola, Comercial e Industrial.
Trabalhou na Divisão de Hidráulica e Engenharia Agrícola da Direcção Regional de Agricultura do Ribatejo e Oeste e teve uma passagem pela banca. Actualmente é detentor de 94% da Valinveste, Investimentos e Gestão Agrícola, vocacionada para a produção agrícola, acompanhamento técnico em explorações agrícolas de terceiros e estudo e preparação de projectos de investimento.