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Fogo 2

Somos um país muito estranho, que não liga ao que de mais valor e riqueza tem. O resultado é a tal pobreza que todos sentimos e vivemos.

Os números do Portugal ardido são impressionantes. Nada de novo. Como sempre a atenção e o esforço do país vão para o combate ao fogo e para o rescaldo. A “longa conversa” do após. Todavia, desta vez há algo diferente. Temos um Presidente da República que diz presente. Será que isto se traduz nalguma coisa de positivo? Só o tempo o dirá. Pelo menos quem sofreu o flagelo do fogo sente o conforto e a esperança que alguma coisa possa mudar mas, e sobretudo, espera que tenha a ajuda necessária no tempo próprio.
A área ardida em Portugal é tanta como em todo o resto da Europa. Isto é, por muito menos bateram-nos à porta para nos governarem, a tal troika. Não fora a distorção de valores e conceitos em que vivemos e haveria muito mais razões agora para que os nossos parceiros nos pedissem contas. Deixo a pergunta: o que vale mais, a floresta ou os bancos? Na verdade o que se perdeu em Portugal é incalculável e está muito longe de nos pertencer só a nós.
Por cá o “negócio do fogo” está mal equacionado, pois a grande fatia do investimento é feita num segmento da fileira não rentável, o apagar fogo. Imagine-se o resultado diferente se os mesmos recursos fossem investidos em limpeza, conservação e valorização da floresta. Para já não falar na valoração da biodiversidade do capital natural associado à floresta. Somos um país muito estranho, que não liga ao que de mais valor e riqueza tem. O resultado é a tal pobreza que todos sentimos e vivemos.
Como sempre, estamos agora nos infinitos debates, com os mesmos de sempre a dizerem as mesmas coisas, muitas delas em que nem eles acreditam. As conclusões são sempre as mesmas e, obviamente, os resultados também; tudo como dantes.
Estranho (?) é que direções gerais como o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), que tutela o setor, e a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) não apareçam a liderar, como lhes compete, este debate; tão pouco se nota a sua existência. Faz isto algum sentido? Eventualmente para compensar quase tudo o resto, tentando mostrar algo diferente, com celeridade foi constituída uma Comissão Interministerial que envolve sete ministros. Apetece perguntar: porque não todo o Governo? Será que pela primeira vez de uma Comissão vai resultar algo que valha a pena?
Na verdade, não há muito mais que se possa dizer e quase tudo para fazer, designadamente povoar o campo. Só com vida o campo é sustentável e a floresta não arde. Começam a surgir alguns bons exemplos, é urgente facilitar a sua disseminação.
Por último, a água. Que me recorde, não li nem ouvi nenhuma palavra sobre a consequência do fogo nos rios e albufeiras. A degradação da qualidade das nossas massas de água é apenas e tão só uma das parcelas mais relevantes da grande equação dos enormes prejuízos do fogo. Desejo que pelo menos um dos sete ministros se lembre deste “pormenor” e que não se refiram à desertificação quando devem usar o termo despovoamento. Pobre país este.
Carlos Cupeto – Universidade de Évora

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