Oposição considera muito grave acusação de escultor ao presidente da Câmara de Ourém
Em causa está a confusão em torno do pagamento de uma escultura representando um coração gigante, encomendada para assinalar a vinda do Papa Francisco a Fátima. O autor ainda não viu a cor do dinheiro.
Os vereadores da coligação Ourém Sempre (PSD/CDS) consideraram “muito grave” a acusação que o escultor Fernando Crespo fez à Câmara de Ourém por ter celebrado um acordo com o presidente do município para a criação da escultura do maior coração do mundo e até agora ninguém lhe ter pago pelo trabalho nem saber quando vai receber. A peça foi inaugurada em Fátima a 10 de Maio, a propósito da vinda do Papa Francisco a Portugal.
Como O MIRANTE noticiou na edição de 20 de Julho, Fernando Crespo refere que não só não recebeu pelo seu trabalho, no valor de meio milhão de euros, como está enredado numa teia de indefinições em que ninguém quer assumir os custos da obra, já para não falar nos trabalhos de instalação que rondaram os 25 mil euros.
O vereador Luís Albuquerque (PSD) recordou, na última reunião camarária privada, que desde o início deste processo que os vereadores da coligação Ourém Sempre pediram esclarecimentos ao presidente do município sem obterem qualquer resposta.
“Continuamos sem saber o custo de implantação da escultura, a definição do procedimento ou as condições finais que foram acordadas com o escultor. A câmara não conseguiu prestar aos vereadores os esclarecimentos que são imprescindíveis para que a obra pudesse ser concretizada com total transparência”, referiram os vereadores da oposição em sessão camarária de Março deste ano, tendo proposto a suspensão imediata da execução da obra até haver cabais esclarecimentos e garantias em sede camarária sobre a obra. A proposta da coligação foi chumbada pela maioria socialista e pelo vereador do MOVE (Movimento Ourém Vivo e Empreendedor), António Manalvo.
Os vereadores da coligação PSD/CDS, Luís Albuquerque, Isabel Costa e José Poças das Neves, voltaram a requerer, na reunião de 15 de Junho, que lhes fosse facultado “para consulta” o acordo firmado entre o município e o escultor Fernando Crespo. Pedido que foi novamente reforçado a 7 de Julho, o que nunca aconteceu. “É também premente, a bem da total transparência, perceber este processo. Se o escultor escreve no seu email de 27 de Fevereiro que o seu ‘trabalho será apoiado por um mecenas através da empresa Partner Lux Capital S.A’, como é que o escultor afirma agora, no jornal O MIRANTE “que foi Paulo Fonseca que lhe apresentou os financiadores numa reunião em Lisboa?”, questionam, acrescentando: “Afinal quem é que propôs o mecenas? Quem calunia quem?”.
Recorde-se que a Câmara de Ourém fez alarde da importância da peça mas depois de inaugurada pelo presidente da autarquia, Paulo Fonseca (PS), desvinculou-se da situação mandando o escultor falar com uma empresa que supostamente iria financiar a obra, que entretanto passou o assunto para outra entidade, e até agora nem acordo nem dinheiro.
Escultor de mãos a abanar
O escultor garante que Paulo Fonseca lhe deu luz verde para avançar com a construção da peça escultórica, o que teve de fazer em praticamente metade do tempo que em circunstâncias normais demoraria.
Com a pressa de cumprir o calendário para a visita do Papa, a única coisa que está passada a escrito é uma proposta de acordo com a câmara, aprovada em reunião do executivo de 3 de Março. Na altura, o vereador do PSD, Luís Albuquerque, levantou dúvidas quanto ao valor da peça e ao financiamento da mesma. A ideia era a empresa pagar a peça e ficar com os direitos de autor. Paulo Fonseca respondeu que quem procurou o mecenas foi o escultor, tendo a câmara aceitado o financiamento. “A relação do município é exclusivamente com o escultor e não com essas empresas. O nosso acordo foi apenas com o escultor”, sublinhou então Paulo Fonseca.
Mas Fernando Crespo disse agora a
O MIRANTE que foi Paulo Fonseca que lhe apresentou os financiadores numa reunião em Lisboa e que no regresso foi de boleia com o presidente no carro deste. O escultor, contactado por O MIRANTE, diz que sente um “desconforto muito grande” e manifesta “apreensão” porque, sublinha, “as entidades que se propuseram financiar a peça não o fizeram”.