Emblemático Manuel Serra d’Aire
A inveja é um desporto nacional. Neste país invejamos os funcionários públicos porque entram tarde e saem cedo e têm muitas regalias; invejamos os políticos porque ganham bem e são todos uns trafulhas; invejamos o vizinho do lado porque é um trambolho e conseguiu arranjar uma boazona vinte anos mais nova, vá lá saber-se como; enfim, invejamos e cobiçamos porque, pura e simplesmente, não tivemos arte, engenho, vontade ou sorte para termos também acesso a essas supostas regalias.
É por isso também que a decisão da Câmara de Abrantes em comprar um Mercedes de 60 mil euros para a presidente mereceu a atenção de muita gente. No fundo, todos gostávamos de ter aquela ‘bomba’, mas como não temos toca a desancar na autarca e na autarquia. Acontece que essa decisão, como alguém já escreveu, denuncia acima de tudo a boa gestão desse município. Afinal de contas, quem é que numa débil situação financeira tem 60 mil euros para comprar um Mercedes e, ainda por cima, dar à troca um BMW com dez anos pela módica quantia de três mil euros?
Em vez de entoarem hossanas, os más-línguas preferiram zurzir na autarca, esquecendo-se que uma figura presidencial não é levada a sério por ninguém se não andar num carro topo de gama. Ponham lá o Presidente da República a circular num Fiat Uno ou numa Renault 4L e vão ver se alguém quer tirar selfies com ele.
Na semana passada acompanhei a onda de indignação que surgiu no Facebook por causa de uma fotografia numa secção satírica de O MIRANTE, o Cavaleiro Andante. A imagem mostrava uns jovens empunhando umas cervejolas durante um desfile carnavalesco em Benfica do Ribatejo e era acompanhada por um texto que pretendia ser humorístico. Embora nisto do humor cada um tenha o seu…
A congregação facebookiana de Benfica insurgiu-se contra a publicação e com razão. Onde já se viu publicarem-se fotos de um cortejo de Carnaval num jornal??!! Onde é que está o direito à imagem? E ainda por cima uma fotografia acompanhada por um comentário a falar de doping e de balão, duas palavras malditas. Precisávamos cá era de outro Salazar para acabar com estas poucas-vergonhas.
Por este andar, um dia destes temos fotografias de bundas no Carnaval do Rio ou de matrafonas de Torres Vedras, de pernas peludas ao léu, escarrapachadas sem qualquer pudor nos jornais ou na Internet. Ao que isto chegou! Por isso aqui fica o meu agradecimento sentido às zelosas gentes de Benfica por esta cruzada em prol da moral e dos bons costumes. E aqui lhes deixo um conselho: para a próxima façam o Carnaval à porta fechada, para esses abelhudos não poderem entrar.
Mal posso esperar para poder levar o meu Bóbi ao restaurante. Com a aprovação da nova lei finalmente faz-se justiça no reino animal, abrindo-se as portas dos estabelecimentos a toda a sorte de animais de estimação e não apenas a algumas privilegiadas cavalgaduras de duas patas. A minha única dúvida prende-se com o seguinte: se o meu Bóbi decidir obrar como é que faço? Levo-o à casa de banho dos homens? Deixo-o fazer o serviço no chão e depois apanho? Peço ao empregado para limpar? Ciente de que me podes ajudar, aqui deixo estas angustiantes interrogações.
Saudações caninas do
Serafim das Neves