“Temos que estudar até ao fim da vida e quem não pensa assim desengane-se”
A administradora executiva da empresa municipal Águas de Santarém, Teresa Ferreira, considera-se uma política mas não sente apetência por cargos partidários nem entra em guerras por lugares em listas. Sente-se bem nas funções que está a desempenhar desde 2013 e onde tem mostrado obra. De perfil discreto mas assertiva quando é preciso, a gestora diz que se sente realizada a servir a comunidade.
Desempenha um cargo de nomeação e confiança política há cinco anos. É bom para a auto-estima sentir o trabalho reconhecido?
Claro que sim. Fico muito satisfeita com esse reconhecimento. É um trabalho de equipa de que eu sou apenas o rosto mais visível. O que faço é tentar, o melhor que posso e sei, motivar e gerir essa equipa.
Haver ainda tantas localidades no país sem cobertura de saneamento básico é uma realidade que nos envergonha?
Evoluiu-se muitíssimo nos últimos anos. Houve financiamentos comunitários precisamente para ajudar todos os municípios a atingirem uma taxa de cobertura na ordem dos 90%. Nós candidatámo-nos e ainda com a anterior administração foram lançadas empreitadas de montantes muito elevados. A Águas de Santarém investiu até 2015/2016 cerca de 50 milhões de euros, embora com comparticipação da União Europeia. Mas implicou um esforço muito grande porque uma parte não foi financiada.
Tem havido relutância de alguns cidadãos em ligarem-se à rede de saneamento básico?
De início houve, até porque havia um custo expressivo associado. A actual administração conseguiu inverter isso e actualmente não há custos para fazer a ligação do ramal à rede de saneamento. Mas há um caso ou outro em que é necessário fazer algumas obras, que são a cargo do cliente. Há algumas dificuldades pontuais. E também há os casos daquelas pessoas menos sensíveis às questões do ambiente, que não pagavam nada de saneamento e achavam que estava tudo bem, que gostariam de assim continuar. Obviamente que não pode ser. Em 2017 fizemos cerca de mil ligações e este ano o primeiro mês também foi bom. Vamos chegar ao final deste ano com a cobertura de 90%.
A água é outro problema da agenda nacional e não só. Vivemos um ano de seca severa e nada nos garante que as coisas vão melhorar. Como olha para essa realidade enquanto administradora de uma empresa que tem a missão de assegurar o fornecimento de água às populações?
Naturalmente com muita atenção e alguma preocupação. Não estamos numa situação de alerta, porque houve felizmente a decisão, há muitos anos, de se recorrer a soluções que podiam ser um bocadinho mais caras mas muito mais eficazes, que são as captações subterrâneas. Temos um sistema que nos dá uma segurança que outros municípios não têm, nomeadamente os que optaram por soluções como barragens e águas superficiais. Há cerca de dois anos fizemos planos de segurança para a água e para o saneamento no concelho de Santarém que nos indicavam que não haverá problemas agudos dessa natureza no nosso concelho.
Entretanto houve um ano de seca…
Sim e vejo com preocupação que estamos em Fevereiro e neste Inverno, se somarmos todos os dias em que choveu, se calhar não chega a uma semana. Isso leva-nos a estar atentos e não podemos dizer que, se nos próximos anos a situação persistir, não tenham que ser tomadas outras medidas.
A qualidade da água subterrânea numa zona de agricultura intensiva como a nossa não está em risco?
Não. Temos monitorizações, fazemos sondagens... São cerca de 40 captações activas no concelho de Santarém e houve duas durante o Verão que acompanhámos com um pouco mais de cuidado, uma em Santarém e outra na Moçarria, mas que já estão normalizadas. Eu diria que mal estaria o país se Santarém começasse a ter problemas de abastecimento de água.
Noutros pontos da região já houve problemas com a qualidade da água captada no subsolo devido ao uso intensivo de fertilizantes na agricultura.
Aqui nunca houve registos disso. A qualidade da nossa água é óptima.
Já tem saudades de ver cheias no Tejo?
Tenho. Até porque, quanto mais não seja, a paisagem era lindíssima. Isso demonstra que as alterações climáticas estão a acontecer. Com muita frequência havia cheias em Santarém. Hoje, as minhas filhas, que têm 13 e 8 anos, não se lembram de ver cheias em Santarém.
Os sistemas intermunicipais para gerir as redes de abastecimento de água e de saneamento básico são um modelo cada vez mais comum no país. Santarém vai ficar sozinha até quando?
Não posso responder a isso. O accionista é a Câmara Municipal de Santarém e essa decisão compete ao executivo e não à administração da Águas de Santarém. Acho é que para haver uma decisão dessa natureza tem que se comprovar que é melhor para os munícipes. Se o serviço é melhor, se o equilíbrio tarifário é melhor numa solução dessas ou como está agora. Essas são as questões que devem ser discutidas e avaliadas com um estudo independente e que comprove o que é melhor para o município de Santarém. Se for essa a conclusão eu serei a primeira a apoiar. Mas até hoje não vi essa evidência.
Como viu à distância a polémica que envolveu a criação da Águas do Ribatejo e a saída de Santarém dessa empresa, já lá vão uns 10 anos?
Acompanhei com interesse porque era munícipe de Santarém, mas não participei em nada nem conheço a visão dos decisores dessa época. Porque as decisões têm sempre lógicas que desconhecemos. Na altura teria visto com bons olhos que Santarém tivesse entrado e que tivesse assumido uma posição de relevo, porque o concelho tem mais clientes do que qualquer um dos outros municípios da Águas do Ribatejo. Para além de que Santarém já na altura tinha um bom serviço de água e saneamento. Entretanto as coisas mudaram e já não estamos há dez anos atrás.
É filiada num partido, o PSD, mas não é presença habitual nas listas, seja em eleições internas seja nas autárquicas. É opção sua ou não tem sido convidada?
Sou filiada no PSD desde os 17 ou 18 anos. Fiz o percurso todo da JSD, distanciei-me um bocadinho da actividade partidária, da ida a plenários, durante alguns anos, quando estive fora a estudar, mas desde há alguns anos que acompanho mais de perto. Vou aos plenários, conheço as decisões, tenho proximidade com alguns dos protagonistas das lides partidárias locais, mas para dizer com franqueza nunca senti apetência nem motivação para criar uma lista interna. Fui convidada para listas internas mas expliquei os motivos porque não aceitaria.
E quanto a listas para eleições autárquicas.
Cria-se muito ruído à volta disso. Acho que temos de servir o partido e Santarém com aquilo que melhor podemos oferecer. Aqui na Águas de Santarém estão muitos projectos em curso, se eu fizer uma auto-avaliação do meu trabalho, que é naturalmente sempre enviesada, diria que é positiva, e há projectos para fazer e concluir. Considerou-se que o meu contributo na Águas de Santarém seria melhor para a cidade do que noutro tipo de funções.
A formação superior é uma mais valia mesmo que alguns cursos tenham pouca aplicação prática e/ou reduzida saída no mercado de trabalho?
Continuo a acreditar que sim. É uma mais valia não por que se acabe o curso com tudo sabido, bem pelo contrário. Mas dá-nos uma ginástica mental e metodologias de estudo e aprendizagem que vamos seguir para o resto da vida. Porque temos que estudar até ao fim da vida e quem não pensa assim desengane-se. Há pessoas excelentes que não são licenciadas, que têm uma auto-disciplina e uma capacidade de aprendizagem muito grande mas considero que uma licenciatura ajuda sempre pois dá-nos uma formação de base mais ampla e capacidade de trabalho e de estudo.
Tem feito a sua vida profissional nesta região. Gostava de experimentar um desafio noutro ponto do país ou até no estrangeiro?
Acho que todos temos um momento na vida em que pensamos nisso e eu não estaria a ser sincera se dissesse o contrário. Mas não é nada que eu pense de forma muito séria nem sequer penso muito nisso. Gosto muito de viver em Santarém e há muito trabalho para fazer em Santarém. Já para não falar da qualidade de vida, pois o nosso tempo é muito mais bem aproveitado.
Gestora e política de perfil discreto
Teresa Ferreira, 43 anos, integra o conselho de administração da empresa municipal Águas de Santarém desde Novembro de 2012, tendo assumido o cargo de administradora executiva em Janeiro de 2013. O seu trabalho tem-se destacado pelos investimentos avultados realizados nos últimos anos na rede de saneamento básico, garantindo uma cobertura quase total do concelho.
De perfil discreto mas assertivo, o seu desempenho à frente da empresa tem sido considerado bastante positivo e está agora focado noutro grande objectivo: reduzir as perdas de água na rede pública de abastecimento, que actualmente rondam os 32%. Teresa Ferreira bebe habitualmente água da torneira e garante que a da Águas de Santarém é de muito boa qualidade.
Militante do PSD desde a sua juventude, tem consciência que desempenha um cargo político e que, como tal, está sujeita ao escrutínio da oposição, que diz encarar com serenidade e distanciamento. Considera que as críticas são normais e constituem um factor de motivação para fazer cada vez mais e melhor.
Aponta como defeitos próprios ser por vezes demasiado espontânea e um bocadinho emotiva e ingénua, pois ainda acredita muito nas pessoas. Já quanto às qualidades, considera-se uma pessoa humilde nas relações laborais, apesar do cargo que ocupa, com capacidade de trabalho e de organização.
Casada com José Eduardo Carvalho, presidente da Associação Industrial Portuguesa, e mãe de duas filhas, Marta e Leonor, Teresa Ferreira nasceu em Lisboa em 8 de Outubro de 1974 mas foi viver para Santarém com apenas alguns meses, quando os seus pais vieram trabalhar para a região. É licenciada em Economia e tem um MBA em Gestão de Empresas.
Depois de concluir a licenciatura estagiou numa empresa no Cartaxo, trabalhou na NERSANT como técnica superior e esteve depois alguns anos na empresa Iberscal, onde chegou a directora-geral. No final de 2012 foi convidada pelo presidente da Câmara de Santarém para integrar a administração da Águas de Santarém e meses depois assumiu as funções de administradora executiva.