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“Os associados são muito interventivos e receptivos a inovações”

“Os associados são muito interventivos e receptivos a inovações”

Personalidade do Ano Associativismo - Adega Cooperativa do Cartaxo

A Adega Cooperativa do Cartaxo tem sabido apostar na qualidade e marcar o panorama vinícola nacional, com marcas bastante conhecidas dos portugueses, como o Bridão. Com cerca de 200 associados, a adega é das que paga acima da média e é um exemplo de associativismo, com os associados a participarem activamente. Desde há 64 anos que a cooperativa se tem assumido, cada vez mais, como uma marca do Cartaxo, ajudando o concelho a cimentar o título de Capital do Vinho.

Como é que se gere uma cooperativa?

A estrutura é gerida como nós gerimos a nossa casa, com muito rigor.

Sendo esta uma estrutura com base associativa, mas que gere muito dinheiro e negócios, o que é preciso para que os sócios andem contentes?

Gerimos a Adega Cooperativa do Cartaxo como se fosse uma empresa. Todos nós temos interesse em que ela funcione bem, porque todos nós somos associados e quanto melhor gerirmos a nossa adega, a nossa casa, melhores proveitos iremos usufruir. Tem de haver rigor, tem de haver muita dedicação, muito trabalho. Foi assim que conseguimos chegar até aqui, tendo uma equipa boa, como temos. A direcção e todos os colaboradores trabalham em conjunto.

O que é que se ganha por ser presidente da cooperativa?

Muitas vezes ganham-se cabelos brancos e preocupações, mais do que na nossa vida particular. Mas os sócios colaboram e quando é preciso avançar com projectos há uma boa receptividade.

Para se ser dirigente de uma cooperativa como esta é preciso ter qualidades especiais?

É preciso saber ouvir e manter a calma. Mesmo que se digam coisas que não correspondem à verdade, temos que ter a capacidade de encaixar e de explicar bem as coisas.

Como é que uma cooperativa como a do Cartaxo consegue ombrear com empresas com grande capacidade de promoção?

Temos que ter um bom sector comercial e obter rendimentos para que todos os associados possam estar satisfeitos. E isto também depende da produção, nomeadamente em termos de novas castas plantadas e reestruturação das vinhas velhas. O conjunto de várias situações leva-nos a ter um bom produto que tenha um retorno na parte final para os associados.

Já não estão a aceitar aumentos de área de vinho. Já não têm capacidade para produzir mais?

Este ano fizemos um corte no aumento de área porque esgotámos a capacidade da adega em termos de fermentação e de produto acabado, além da capacidade de armazenagem. Os agricultores queriam fazer novas plantações mas isso representaria problemas para a adega, porque nesta altura não está estruturada para isso. Um aumento da produção ia também implicar que vendêssemos vinho a granel, situação em que não estamos interessados, porque preferimos apostar nas nossas marcas e na qualidade.

É melhor começarem a pensar numa ampliação da adega…

No meu entender acho que não, porque isso vai ter um custo enorme, um investimento muito elevado.

Mas têm vindo a fazer reestruturações das instalações.

Nos últimos anos fizemos determinadas construções. A adega quase todos os anos tem feito investimentos. Claro que os investimentos não se podem fazer todos de uma só vez, porque os encargos são grandes.

E estão previstos mais investimentos na melhoria das instalações?

Ainda este ano vamos fazer investimentos na área da armazenagem e de fermentação. A adega trabalha muito com vinhos tintos, que têm exigências grandes ao nível da fermentação.

Conseguem ter a recepção das uvas organizada?

Quando não chove na altura da vindima as coisas vão rolando com calma mas quando os anos são anos atípicos, ou muito chuvosos, toda a gente quer vindimar na mesma altura, e se não tivermos a capacidade para fazermos a recepção, ficamos todos a perder. Fica o associado a perder e fica a adega a perder porque a qualidade vai baixar. É nessa base que vamos investir no aumento da capacidade de fermentação, que vai libertar também espaço para a recepção.

O Cartaxo ficou conhecido por ser a terra do carrascão. Isso prejudica ou ajuda a imagem da adega?

Essa situação não beneficiou em nada a adega noutros tempos mas hoje penso que essa imagem está afastada porque a adega produz vinhos de qualidade, completamente diferentes. O Cartaxo é hoje visto de uma forma diferente. Basta ver pelos prémios que nós temos vindo a ganhar ao longo destes anos, a nível nacional e a nível internacional.

Para isso tiveram de investir não só na qualidade mas também na promoção?

Não é uma questão de promoção, é uma questão mesmo de qualidade.

Esse é o único segredo para manter a adega como uma referência no sector?

Não é o único segredo, mas se tivéssemos uma boa matéria-prima, para depois podermos ter, na parte final, uma boa qualidade, não conseguíamos chegar onde chegámos. Essa é a grande base ajudada pela parte comercial. As boas promoções fazem-se e consegue-se vender mais alguma coisa, mas o que é importante é realmente uma pessoa acreditar num produto que está a comprar. A melhor publicidade é a publicidade boca a boca. Quando a pessoa compra e fica satisfeita vai voltar a comprar.

Em que medida é que os prémios têm contribuído para o desenvolvimento da cooperativa?

Os prémios nos concursos de vinhos vêm comprovar a nossa qualidade e fazem com que tentemos ser cada vez melhores e fazermos melhores vinhos. Um prémio internacional é sempre um prémio internacional, um vinho medalhado é um vinho medalhado. Tem um valor completamente diferente numa prateleira do que um vinho que não é medalhado.

Os associados acompanham muito a actividade na adega ou limitam-se a deixar cá as uvas?

Os associados actuais já têm uma visão completamente diferente do que há muitos anos. Há 10 ou 15 anos a mentalidade dos associados era a de que vendiam as uvas à adega. Agora é diferente e participam na vida da cooperativa, são interessados e querem estar por dentro dos assuntos. Antes as pessoas não percebiam que tinham uma quota na adega.

Ter associados mais interventivos complica a vida à direcção?

O associado que faça críticas esclarecidas está a ajudar a adega e o universo dos associados. Temos todo o interesse que as coisas caminhem no melhor sentido. Quanto melhor for para a adega melhor é para todos nós. Não somos uma família mas somos quase como uma família.

Uma cooperativa que sabe acompanhar os novos tempos

A Adega Cooperativa do Cartaxo adaptou-se aos novos tempos, cresceu, e é uma referência no sector dos vinhos em Portugal, fruto de uma gestão cuidada ao longo dos anos, de investimentos e da aposta na qualidade. Conseguiu libertar-se do estigma do vinho carrascão e produz anualmente cerca de oito milhões de litros, que são vendidos no mercado nacional e internacional. A adega exporta para países como a China, Brasil, Alemanha, Estados Unidos da América, França, Canadá e estão a crescer as vendas para a Suíça e para o Luxemburgo.
O desenvolvimento desta cooperativa deveu-se à visão sobre como deve ser gerida uma estrutura destas, tendo-se desde muito cedo implementado métodos empresariais. A única diferença é que uma empresa tem um número de sócios reduzido em comparação com a cooperativa, que neste momento tem 200 associados. Já foram muitos mais. O número baixou, mas aumentou-se a área de vinha. Actualmente estão afectos à cooperativa cerca de 900 hectares de vinhas. “Aqui, quando tomamos decisões, temos de pensar num universo de 200 pessoas”, refere o presidente da cooperativa, Jorge Antunes.
A média de idades dos associados anda na casa dos 50 anos, mas há alguns com idades entre os 20 e os 30 anos, que pegaram nas explorações dos avós ou dos pais e apostaram na viticultura. Adega do Cartaxo foi a primeira a aparecer no mercado com um vinho frisante, que ainda hoje é uma referência, o Plexus. Orgulha-se de pagar acima da média aos agricultores e de ter um acompanhamento permanente das culturas. Também apostaram em novas tecnologias e conseguiram levar os associados a melhorarem os transportes de uvas, que actualmente são quase todos feitos em reboques de inox com descarga hidráulica.
A Adega Cooperativa do Cartaxo tem uma história de associativismo com 64 anos, que se comemoram este ano. A cooperativa foi fundada em 1954 por 22 pessoas interessadas na produção vitivinícola, numa região com fortes tradições na área, mas que precisava de mais inovação e profissionalismo. Hoje muita gente conhece o Cartaxo pelo seu vinho, sobretudo o tinto, e isso levou também o município a adoptar a designação de Capital do Vinho. A cooperativa funcionou nas instalações da antiga Junta Nacional do Vinho até 1974, altura em que mudou para as actuais instalações construídas de raiz para o efeito.
Da produção da cooperativa, cerca de 70 por cento é de tintos. Em 2014, a cooperativa foi distinguida com o estatuto de PME Excelência, prémio que tinha obtido também no ano anterior. A visão dos dirigentes da cooperativa é fazer com que esta seja cada vez mais considerada uma referência no sector, assentando os seus valores na Qualidade, Cultura, Rigor, Ética e Respeito.

“Os associados são muito interventivos e receptivos a inovações”

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