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“O Campo Pequeno está ligado a todo o país mas tem uma relação especial com o Ribatejo”

“O Campo Pequeno está ligado a todo o país mas tem uma relação especial com o Ribatejo”

Personalidade do Ano Tauromaquia - Campo Pequeno

Paula Resende é administradora da sociedade gestora do Campo Pequeno e é uma mulher num mundo de homens. Gosta de ponderar bem todas as decisões e ter os pés bem assentes na terra mas não hesita em arriscar se sentir que há boas oportunidades de negócio no horizonte. Na sua gestão o Campo Pequeno tem conseguido crescer e afirmar-se nacional e internacionalmente, não apenas como arena tauromáquica mas cada vez mais como sala de concertos e colóquios por excelência.

É administradora nomeada pelo tribunal para gerir o Campo Pequeno (CP) há quatro anos. Como tem conseguido que o espaço se renove e capte novos públicos?

Sou uma mulher que gosta de trabalhar com os pés bem assentes na terra mas que não hesita em arriscar quando sente que há boas oportunidades de negócio. Quem não arrisca não petisca, diz-se. Mas penso em tudo mais do que uma vez.

Qual é a sua formação e como encara este desafio?

Sou licenciada em Direito e faço recuperação de empresas. O Campo Pequeno esteve numa situação delicada que ainda não foi ultrapassada. Foi necessário alguém com o meu perfil para assegurar a gestão. Pessoalmente fui-me apaixonando pelo edifício. Um factor chave é que hoje o Campo Pequeno não é uma praça de toiros, é uma sala multiusos e polivalente. Os principais desafios que enfrentamos são a diversidade, ou seja, fazer a gestão de uma época taurina juntamente com uma época musical e de eventos. E além disso negociar lojas no nosso centro comercial, que tem mais de 70 espaços. Temos de saber adaptar-nos às condições e aproveitar os fluxos de público. A diversidade é a chave do sucesso.

O Campo Pequeno celebrou em 2017 os seus 125 anos. De que forma a cidade compreendeu a importância desta data?

A comemoração dos 125 anos foi um momento alto e teve uma extraordinária repercussão nacional e internacional. Destaco três iniciativas que realizámos. A primeira foi o lançamento de um livro que dá uma perspectiva do Campo Pequeno e da sua interligação à cidade de Lisboa. Realizamos também uma corrida comemorativa com um espectáculo misto de fado com Camané e Nathalie. Participaram os cavaleiros João Moura, António Ribeiro Telles e Luís Rouxinol, os forcados de Santarém e de Lisboa e os toiros vieram das ganadarias Palha, Ribeiro Telles, Oliveira Irmãos, Mário e herdeiros de Manuel Vinhas, Murteira Grave e Passanha, tendo contado também com a charanga a cavalo da Guarda Nacional Republicana. No final do ano tivemos uma actuação de Carlos do Carmo e Raquel Tavares.

É aficionada?

Sim, desde nova. Sou de Lisboa mas tenho raízes na região Oeste. Depois do 25 de Abril vivi na zona de Torres Vedras com os meus pais e ainda lá tenho uma casa de férias para onde gosto de ir quebrar a monotonia e fugir do bulício da cidade. Comecei por gostar mais dos cavalos nas corridas de toiros mas neste momento o toureio a pé desperta-me cada vez mais emoção e interesse. Esteticamente o toureio a pé é de uma beleza muito grande. As corridas mistas estão a voltar e este ano vamos ter uma programação também com corridas mistas. No dia 5 de Abril teremos a nossa primeira corrida com três cavaleiros mas temos a intenção de fazer mais mistas.

Qual a maior virtude do Campo Pequeno neste momento?

É estarmos no coração de Lisboa há 125 anos com muita força, num edifício modernizado, bonito e cuidado. Lisboa sem Campo Pequeno é como um jardim sem flores. E somos o único museu tauromáquico de Lisboa. Todos os dias entro na sala e gosto de contemplá-la. É das mais bonitas que conheço. Sente-se nela uma grande carga emocional, histórica e afectiva. Desde as obras de restauro e requalificação que nos convertemos numa sala multiusos com capacidade para acolher eventos tão diversificados como uma corrida de toiros, ópera, concerto e até reuniões empresariais, congressos e eventos desportivos. Temos sido uma das salas mais requisitadas de Lisboa.

É uma mulher num mundo de homens. Isso aflige-a?

De modo nenhum. Nem nunca tive problemas com isso, a maior parte deles recebe-me muito bem. Eles acham que somos mais frágeis mas enganam-se (sorrisos). Em muitas matérias tomamos a dianteira e ganhamos as batalhas.

Como classifica a ligação entre o Campo Pequeno e o Ribatejo?

Por natureza o Campo Pequeno está profundamente ligado a Portugal mas temos uma relação muito próxima com o Ribatejo. Conheço o Ribatejo e é uma zona de que gosto muito. Vou lá muita vez. O cavalo e o toiro são símbolos da festa brava, do Ribatejo e do Campo Pequeno. É uma honra receber este prémio de O MIRANTE porque é muito importante sermos reconhecidos nessa região.

Sente nos ombros o peso de dirigir a maior praça de toiros do país?

Somos uma referência e tentamos sempre dar o nosso melhor. Os nossos aficionados sabem-no e confiam em nós. Não queremos nem podemos baixar a guarda por isso tentamos sempre fazer mais e melhor. Temos tido cada vez mais lugares abonados [cativos] que são já dez por cento da praça, um número que nunca tinha sido alcançado.

Como lida com os protestos anti-taurinos à porta sempre que há corridas?

As manifestações são um direito mas além disso tem que haver bom senso e educação. É preciso que as pessoas saibam que os seus direitos terminam quando ameaçam os direitos dos outros. Os anti-taurinos quase nunca entendem isto. Provocam e insultam quem não pensa como eles. Os aficionados têm tido uma enorme paciência. Gostaríamos, sem impedir o direito de manifestação, que eles fossem colocados a uma maior distância da praça de toiros. São um número reduzido de pessoas, umas 30 ou 40, quando na praça raramente estão menos de cinco mil aficionados. Esta desproporção explica tudo.

Que futuro desenha para o Campo Pequeno?

O nosso projecto passa por fazer mais e melhor sabendo desde já que trabalhar no Campo Pequeno é um desafio constante e permanente, só possível pela grande simbiose que há entre cada um dos que aqui trabalham com o ADN deste edifício e deste projecto. Queremos trazer os melhores artistas e centralizar no Campo Pequeno eventos do maior significado cultural e trabalhamos para isso. Cada prémio, como este que recebemos de O MIRANTE, significa uma responsabilidade acrescida para fazer mais.

Um passado repleto de história

A praça de toiros do Campo Pequeno, em Lisboa, foi inaugurada a 18 de Agosto de 1892, em pleno reinado de D. Carlos I. É um dos edifícios mais importantes daquela cidade, com um historial rico e variado e uma oferta em várias áreas que vai já muito para além da actividade tauromáquica. Hoje em dia, mais que uma mera praça de toiros, é também uma moderna sala de concertos, colóquios e eventos culturais. Tem também um centro comercial e vários pisos de estacionamento. Os visitantes têm ao seu dispor um museu.
No passado foi o cenário das corridas de toiros em honra dos chefes de Estado estrangeiros que visitavam Portugal até ao 25 de Abril de 1974. Em 1919 foi o centro de recrutamento de voluntários para defenderem a república contra a restaurada monarquia do norte. Em 1936, num comício político ali realizado, surgiu o movimento que iria fundar a Legião Portuguesa.
No último ano o Campo Pequeno celebrou os seus 125 anos, data assinalada com diferentes eventos e várias corridas de toiros, onde também não faltou a primeira grande corrida de
O MIRANTE naquela praça. Uma noite de emoções fortes onde Parreirita Cigano tirou a sua alternativa. Actualmente o Campo Pequeno é visitado por centenas de milhares de espectadores por ano, divididos entre a sala multiusos e o centro comercial.
O Campo Pequeno desfruta hoje do seu momento mais alto de visibilidade e reconhecimento nacional e internacional das últimas décadas, pelo trabalho que tem realizado ao serviço da cultura tauromáquica em Portugal mas também enquanto versátil sala de espectáculos ao serviço de toda a população.

“O Campo Pequeno está ligado a todo o país mas tem uma relação especial com o Ribatejo”

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