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“Não sou pessoa para estar quinze dias de férias”

“Não sou pessoa para estar quinze dias de férias”

Personalidade do Ano Vida - Diamantino Duarte Administrador Delegado da Resitejo

Começou a trabalhar aos nove anos, como moço de recados numa farmácia, e desde então a sua vida tem sido uma autêntica correria. Diamantino Duarte é há muitos anos Administrador Delegado da Resitejo - Sistema Intermunicipal de Lixos do Médio Tejo e presidente dos Bombeiros Voluntários de Santarém. Antes disso desempenhou um vasto número de cargos. Homem do associativismo, formado na universidade da vida, costuma dizer que só não tem tempo quem não quer.

Em Janeiro de 2012 entrevistámo-lo e dizia-nos que não tinha férias há seis anos. Já conseguiu tirar uns dias de descanso desde essa altura?

Vou conseguindo tirar um dia ou outro, aproveitando quando tenho de sair em serviço para algum sítio e juntando mais um dia ou dois. Mas nunca tiro quinze dias de férias seguidos. Se os tirasse acho que até me sentia mal. Não sou pessoa para estar quinze dias sem fazer nada. Uma semana para mim já chega e até é demais. Estou a caminhar para o fim da vida activa com este ritmo e nessa altura terei tempo para estar com a família.

O que é que o consegue fazer desligar do trabalho?

Só as minhas idas ao Estádio da Luz. É o tempo que tenho para mim.

Há uns anos abdicou da caça por não ter tempo. Entretanto foi abdicando de mais alguns passatempos?

Gostava de ter mais tempo para estar com a família, mas vou conseguindo conciliar as outras actividades. Impus uma regra a mim próprio que é a de almoçar com a família ao domingo. Só em situações muito especiais é que abdico do almoço com a família.

Como é que vai compensando os elementos da sua família pelo tempo que está ausente?

Estando com eles sempre que posso e acompanhando-os o melhor que posso.

Ao longo dos anos tem desempenhado variadíssimas funções, como presidente de junta, presidente de associações e colectividades, lugares de administração... Qual foi aquele em que se sentiu mais útil à comunidade?

Sem dúvida nenhuma que é aqui onde estamos a conversar, na Associação dos Bombeiros Voluntários de Santarém. Dá-me um prazer duplo, que é o de poder fazer um trabalho de que gosto como dirigente associativo, coisa que está no meu sangue, e acima de tudo dá-me o privilégio de saber que estamos a trabalhar numa causa a que uma série de mulheres e de homens se dedicam de alma e coração. Vim para os bombeiros como dirigente em 1994 e tomei posse como presidente em 1995.

A par disso é há muitos anos administrador da Resitejo - Associação de Gestão e Tratamento dos Lixos do Médio Tejo.

É outro cargo que me dá muito prazer. Pela importância do serviço que prestamos em defesa do ambiente e porque, sendo uma empresa que emprega muita gente, estamos a ajudar pessoas com problemas na vida, que precisam de arranjar trabalho para ter o seu rendimento ao final do mês.

Que cargo gostaria de ainda vir a somar no seu vasto currículo?

Nenhum. Acho que cheguei a uma idade em que posso dizer que já desempenhei todas as funções que gostava de desempenhar. Já atingi todas as metas que pretendia mas também é verdade que todos os dias surgem novos desafios.

E o senhor não é de os enjeitar…

Pois não. Se aparecerem, cá estamos para os enfrentar.

A reforma é uma meta à vista ou ainda há muito para pedalar até lá?

Depende do que se entende como reforma. Se for a aposentação, então deve estar à vista, mas não será certamente para ir para o banco do jardim. Até porque estou a preparar a minha vida para continuar a ter alguma actividade, embora não com este ritmo e com estas obrigações diárias de cumprir horários.

E já tem alguma coisa em mente?

Já tenho muitas coisas pensadas e há uma coisa que nunca vou deixar, que é a vida associativa.

Já desistiu de tirar o curso de Direito ou ainda tem essa ambição?

Essa é uma das coisas em que vou pensar quando chegar o momento de desligar alguns botões. Posso nunca o conseguir tirar mas vou pelo menos tentar fazer algumas cadeiras.

Começou a trabalhar ainda menor de idade...

É verdade. Comecei a trabalhar aos nove anos, no dia 3 de Outubro de 1966, numa farmácia. Trabalhava das 8h30 às 22h00 e recebia 60 escudos por mês.

Que mais valia representou essa experiência para a sua vida profissional?

Marcou-me para toda a vida. Para já deu-me o privilégio de trabalhar com a mesma pessoa, o senhor Costa, até 1990. Essa experiência deu-me tudo o que sei na vida. Deu-me os princípios, a disciplina, a percepção de que só conseguimos atingir os nossos objectivos com trabalho, aprendendo a abdicar de algumas coisas como festas e férias, porque tinha de trabalhar… Penso que se não tivesse tido essa aprendizagem não teria atingido os objectivos que atingi.

Hoje muitos jovens acabam as licenciaturas sem terem tido qualquer experiência laboral a sério, nem sequer nas férias. É uma desvantagem para quem se apresta a entrar no mercado de trabalho?

Sem dúvida. Aliás, quase todos os técnicos que trabalham na Resitejo saíram da universidade, foram fazer o seu estágio curricular e depois o seu estágio profissional comigo. E eu verifiquei isso perfeitamente. Uma coisa é o conhecimento académico que trazem de saber lidar com os problemas, de os analisar, que é muito bom. Mas depois têm grandes dificuldades em os aplicar na prática. Costumo dizer que há dois tipos de universidade: a académica, que é essencial, e a da vida. E quem não conseguir assimilar as duas nunca vai atingir os objectivos.

A profissionalização dos corpos de bombeiros é uma das soluções apontadas para melhorar a operacionalidade da protecção civil. Qual é a sua opinião enquanto presidente de um corpo de bombeiros voluntários?

É evidente que tem que haver em todos os concelhos um número de bombeiros em permanência e profissionais. Mas isso tem que ser estudado para que essa realidade conviva com o voluntariado. A solução óptima seria ter só profissionais, só que isso tem que ser avaliado à luz da relação custo-benefício. Isso está a ser analisado mais com o coração do que com a cabeça, atendendo ao que se passou em 2017.

E como é a realidade em Santarém?

O concelho de Santarém tem três corpos de bombeiros voluntários e uma corporação de bombeiros municipais. Se calhar as corporações são à conta e até podiam coexistir todas, mas o responsável da protecção civil do concelho, que é o senhor presidente da câmara, pessoa por quem tenho muita estima, continua a ver a protecção civil, na minha óptica, da forma errada.

Em que aspecto?

Porque com o dinheiro que se gasta em bombeiros no concelho, se isto estivesse organizado de forma diferente se calhar tínhamos a protecção civil a funcionar muito melhor.

Fala de uma possível fusão entre bombeiros voluntários e municipais?

Se eu fosse presidente da câmara não tinha bombeiros municipais mas sim equipas de profissionais em que cada um dos corpos assegurasse as 24 por dia, como deve ser. Já fiz essa proposta ao senhor presidente da câmara e acho que com o mesmo dinheiro conseguia-se ter mais gente operacional. Além disso, as associações de bombeiros voluntários dos concelhos onde há bombeiros municipais são penalizadas nas verbas que recebem da Autoridade Nacional da Protecção Civil. E mais: o Estado não nos paga uma EIP (equipa de intervenção permanente) porque existem bombeiros municipais no concelho de Santarém.

Veria com bons olhos uma fusão dos bombeiros voluntários e municipais em Santarém?

O que veria com bons olhos era uma reestruturação disto tudo para que o concelho pudesse ter mais receitas da Autoridade Nacional da Protecção Civil e a Câmara de Santarém continuasse a ter a mesma despesa ou ainda menor. O que queremos é ter mais bombeiros profissionais ao serviço do concelho de Santarém. E há possibilidade disso. As pessoas têm é que se sentar à mesa e verem isto de forma desapaixonada e não cada um olhando pela sua quintinha.

Dados do ano passado revelam que cerca de 30 por cento dos portugueses nunca fez separação selectiva dos resíduos para posterior reciclagem. É uma realidade preocupante?

É muito preocupante! Mais: é uma realidade que vamos ter de ultrapassar a bem ou a mal.

E como é que isso se faz?

Os políticos deste país vão ter que arranjar coragem de assumir que isso vai ter um custo de popularidade, mas não tenhamos dúvidas que as metas que a União Europeia nos impõe obrigam-nos a tomar esse caminho. Se não for a bem vai ter que ser à força. Vamos ter metas extremamente apertadas para cumprir até 2025, embora o Governo esteja a tentar alargar o prazo até 2030.

E o que definem essas metas?

Que a deposição em aterro, por exemplo, não pode ser superior a 10 por cento da totalidade dos resíduos. Temos também metas na reciclagem do plástico e do vidro que, neste momento, a nível da área da Resitejo, no caso no vidro, estamos ainda aí a 50 por cento de as atingir. Na unidade de tratamento mecânico verificamos que cerca de três mil toneladas de resíduos que lá entram anualmente são vidro que devia ter sido depositado no vidrão.

É um valor preocupante.

As pessoas não se preocupam muito e põem tudo dentro do contentor. E tanto faz porem 10 quilos como porem 20 porque pagam o mesmo. Ao não se pôr o vidro no vidrão estão a cometer-se vários pecados: a obrigar o município a pagar mais dinheiro pela deposição de lixo em aterro, porque os municípios pagam à tonelada; não estão a contribuir para as metas de reciclagem; e estão a contaminar um produto que pode ser reutilizado, que é a matéria orgânica.

A alegria de fazer aquilo de que se gosta

É preciso ter algum fôlego para descrever o número de cargos que Diamantino Duarte desempenha ou já exerceu ao longo de muitos anos de vida pública. Começou a sua vida activa a trabalhar numa farmácia e é já há muitos anos administrador executivo da Resitejo - Associação de Gestão e Tratamento dos Lixos do Médio Tejo e presidente da direcção dos Bombeiros Voluntários de Santarém. Tem também uma empresa de prestação de serviços na área do ambiente.
Casado, pai de duas filhas e avô de uma neta, Diamantino Duarte foi também presidente da Junta de Freguesia de Tremês, vereador da Câmara de Santarém, administrador dos Serviços Municipalizados de Santarém, presidente da União de Santarém e da Federação de Bombeiros do Distrito de Santarém, dirigente da Federação Portuguesa de Caça e do Partido Socialista em Santarém e na Chamusca, entre outros cargos.
O dia-a-dia de Diamantino Duarte continua a ser uma autêntica correria que vai controlando com uma disciplina férrea do tempo, a cumplicidade de boas equipas e abdicando de alguns prazeres e do convívio com a família. Costuma dizer que só não tem tempo quem não quer e que só consegue ter alegria quando está a fazer aquilo de que gosta. Na sua rotina há dois momentos sagrados: o almoço com a família aos domingos e ver o Benfica quando joga no Estádio da Luz.
Nascido no dia de Natal de 1956 em Tremês, concelho de Santarém, onde ainda reside, Diamantino Duarte não frequentou nenhum curso superior mas tem a licenciatura na universidade da vida e ainda não perdeu a esperança de um dia, quando a agenda estiver menos sobrecarregada, tirar o curso de Direito.

“Não sou pessoa para estar quinze dias de férias”

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