Trabalhar nas férias mas só durante duas semanas e apenas quatro horas por dia
Programas de Ocupação de Jovens servem para quem quer “espreitar” como é a vida. Os programas de ocupação dos jovens como o promovido pela Câmara Municipal de Vila Franca de Xira são suaves e de curta duração. Dão para se ter um cheirinho da realidade sem ganhar calos nas mãos nem transpirar muito mas, segundo os participantes, permitem aprender o que não se ensina na escola.
O MIRANTE falou com seis jovens que participam no Programa de Ocupação de Jovens (POJ) da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira que tem como objectivo estimular o contacto com a realidade social e económica local, em contexto laboral, em áreas como a manutenção de espaços verdes, vigilância a exposições e no apoio ao funcionamento do Parque de Campismo, por exemplo.
O programa não tem qualquer comparação com as experiências de trabalho em férias uma vez que cada turno dura apenas duas semanas e o trabalho decorre só em dias úteis com uma jornada de apenas 4 horas. Os participantes recebem uma “bolsa de participação”, correspondente a 5 euros/hora.
Segundo dados da Pordata relativos a 2017, no concelho de Vila Franca de Xira há 14.696 jovens com idades entre os 15 e os 24 anos. Aquela faixa etária corresponde a 15,6% da população total.
É moda usar termos criados pela organização privada americana “Center for Generational Kinetics’ para catalogar grupos etários jovens mas os jovens ouvidos por O MIRANTE não se revêem em catalogações estrambólicas como Geração Z, iGen ou Centennials; Millennials ou Geração Y e Geração Z, por exemplo.
A maioria refere-se à sua geração em modos depreciativos, classificando-a como superficial nos relacionamentos, demasiado competitiva, pouco racional e pouco responsável. Consideram também que, de um modo geral, os jovens da sua idade não estão habituados a lutar por aquilo que querem, são pouco tolerantes e falta-lhes sentido crítico. Fica sem se saber se aquelas características se aplicam a quem fala mas presume-se que não.
Os jovens ouvidos por O MIRANTE vivem com os pais e consideram que um emprego e rendimento estáveis, bem como uma boa gestão das prioridades, são as condições essenciais para se construir a independência financeira mas essa ideia é vista como um plano a longo prazo, pressupondo que são raros os que têm pressa em sair da actual situação de conforto.
Futuro médico no Museu a aprender a relacionar-se com os outros
“Um médico que só sabe medicina, nem medicina sabe”, diz Pedro Figueiredo, de vinte e três anos, da Póvoa de Santa Iria, estudante no quinto ano de Medicina, citando Abel Salazar.
Pedro Figueiredo esteve a trabalhar durante duas semanas de Agosto na recepção do Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira. O trabalho num museu não tem nada a ver com o curso que está a tirar, mas Pedro achou a experiência útil. “Para se exercer medicina não são só precisos conhecimentos científicos, é preciso também saber lidar com os doentes”. Por isso veio à procura de experiências no relacionamento com as pessoas.
O dinheiro que irá receber pelo trabalho destas férias ainda não tem destino, mas Pedro pensa guardá-lo para o que necessitar a longo prazo. Já trabalhou anteriormente no período de férias e utilizou o dinheiro para pagar a carta de condução, apesar de receber uma mesada dos pais e ir juntando o que sobra, já que não tem grandes despesas.
Pela independência pessoal e pela paixão pelas artes
Vanessa Oliveira, de dezoito anos, residente em Alhandra, acabou este ano o Curso de Ourivesaria, da Escola Artística António Arroio, em Lisboa, e trabalha num “call center”. Quer juntar dinheiro para continuar os estudos no estrangeiro, na área das artes e está inclinada a tentar a sua sorte em Inglaterra,porque tem lá família e amigos.
Nos tempos livres desenha peças de joalharia e experimenta criar novos sons pois aprendeu a tocar piano no Conservatório Regional Silva Marques, em Alhandra, e a paixão pela música ficou. Um dos seus sonhos é abrir uma espécie de centro cultural que junte várias artes, abranja a pesquisa e que ajude a patrocinar os materiais, que são muitos caros.
Trabalhou no Museu do Neo-Realismo durante as duas semanas do Programa de Ocupação de Jovens e diz que aprendeu a ser mais organizada e a comunicar melhor com pessoas, para além de ter aprofundado o seu conhecimento sobre o neo-realismo. Vanessa não tem mesada mas pede dinheiro aos pais sempre que precisa. No entanto não gosta de depender deles e por isso arranjou emprego logo que a escola acabou.
Ganhar uns euros para renovar o cartão “RedPass” do Benfica
Rodrigo Teles tem vinte anos e esteve no Parque de Campismo de Vila Franca de Xira a dar apoio à manutenção. Mora em Vila Franca de Xira com a mãe uma vez que o pai já faleceu e estuda Línguas, Literaturas e Culturas na Faculdade de Letras, em Lisboa apesar de ter a noção de que não haverá grandes oportunidades de trabalhar naquela área. A sua esperança é conseguir seguir as pisadas dos seus familiares que trabalham na TAP, empresa onde o conhecimento de línguas poderá ser uma mais-valia.
Aderiu ao Programa de Ocupação de Jovens por dois motivos. Ter uma primeira experiência laboral mas, principalmente, ganhar algum dinheiro para renovar o cartão “Red Pass” do Benfica que lhe dá acesso a ver os jogos do seu clube. Os seus conhecimentos de línguas serviram para fazer umas traduções para os folhetos do parque de campismo.
Por o pai ter sido forcado amador, Rodrigo cresceu a ver touradas mas não se considera aficionado. Olha para as touradas como eventos sociais e embora ache que aquela tradição deva ser mantida pensa que ela vai acabar por desaparecer devido ao crescente desinteresse de muitas pessoas.
Com o curso de enfermagem veterinária na mira
Inês Pires tem dezoito anos, mora em Alhandra e esteve a trabalhar na Quinta Municipal da Subserra na manutenção dos espaços. Tem uma paixão por animais e gostava de seguir enfermagem veterinária, num curso que é ministrado em Castelo Branco, no entanto ainda lhe falta completar a disciplina de Matemática para ter o 12º ano em Ciências.
Anda à procura de um primeiro emprego e ingressou no POJ para ganhar algum dinheiro, ajudar os pais e ficar com algum currículo. Vai estudar à noite no próximo ano lectivo e quer arranjar um emprego durante o dia.
Considera que o trabalho na Quinta da Subserra é um pouco cansativo, mas acredita que nada se consegue sem esforço. Aprendeu a fazer coisas novas, a trabalhar em equipa e a manusear alguns instrumentos agrícolas. Já tinha participado num projecto da escola durante o qual teve oportunidade de fazer voluntariado no Canil Municipal de Vila Franca de Xira e na Associação Abrigo, em Azambuja, de que gostou bastante.
Aprender a ter sentido de responsabilidade
Bernardo Graça, de dezasseis anos, mora em Vialonga, estuda no 12º ano na área de Línguas e Humanidades. Pensa seguir Publicidade e Marketing pois gostava de trabalhar na organização de eventos.
O Programa de Ocupação de Jovens foi a sua primeira experiência laboral e sente que o trabalho na Quinta Municipal da Subserra tem sido enriquecedor, pois conheceu pessoas novas que lhe incutiram algum sentido de responsabilidade. Os pais dão-lhe uma mesada que serve para os gastos e para as refeições na escola. Nos tempos livres gosta de sair com os amigos ou de ir para casa de alguns deles ouvir música e ver filmes.
À procura da sua verdadeira vocação
Tem vinte anos, chama-se João Pedro Martins e vive na Póvoa de Santa Iria. Esteve a trabalhar no Parque de Campismo. Desde que acabou o curso profissional de Apoio à Gestão Desportiva, há ano e meio, que se sente um pouco confuso quanto ao que irá fazer no futuro. Confessa que ainda não descobriu a sua vocação.
Desde o estágio do curso que é treinador na área de formação de futebol no Futebol Clube de Alverca (treina crianças dos 4 aos 16 anos) e adjunto na competição. No entanto gosta de muitas coisas para além do desporto, como marketing, psicologia e música.
O seu primeiro trabalho foi num supermercado e quando acabou o contrato ficou uns meses sem trabalhar. Deu aulas de Educação Física como Actividade de Enriquecimento Escolar (AEC), numa escola no Sobralinho e noutra em Alverca. O dinheiro que vai ganhando utiliza-o para os seus gastos pessoais e sente que irá sair do trabalho no Parque de Campismo com mais uma experiência nova que considera poder vir a ajudá-lo a descobrir a sua vocação.