Deixou a ginástica de competição mas continua a ganhar prémios
Gonçalo Roque, de Samora Correia, corre o mundo a dançar em espectáculos internacionais. No Verão passado actuou no famoso Moulin Rouge, em Paris, e actualmente trabalha na Áustria.
Pessoas que vivem com depressão inspiraram a coreografia do ginasta Gonçalo Roque, 30 anos, que venceu a última edição do Mam Talent, um concurso de talentos realizado em Novembro na Polónia. Natural de Samora Correia, Gonçalo foi o primeiro português a vencer um campeonato europeu de ginástica acrobática e a entrar para o ranking mundial.
Com apenas cinco anos começou a praticar ginástica na Sociedade Filarmónica União Samorense (SFUS) e aos 11 encontrou o seu “clube de coração”, a Academia Gimnodesportiva de Samora Correia (AGISC) onde deu os primeiros passos como ginasta acrobata. Gonçalo Roque deixou a ginástica de competição para percorrer o mundo a dançar em espectáculos internacionais.
“Fui convidado para participar num espectáculo em Maiorca. Deram-me 24 horas para decidir se queria fazer parte do projecto. Já tinha recebido outros convites, que sempre rejeitei, até que um dia senti que era o destino a chamar-me e decidi arriscar”, conta o ginasta a O MIRANTE.
Em 2013, conquistou um feito inédito em Portugal, ao ser o primeiro classificado no ranking mundial de ginástica acrobática. Venceu dois campeonatos europeus de ginástica acrobática (2011 e 2013) e várias Taças de Mundo. Da Federação de Ginástica Portuguesa recebeu a medalha de Mérito e Bons Serviços (2012). Em Samora foi galardoado com o Prémio Carlos Gaspar (2011) e recebeu a Medalha de Mérito Municipal (2012). “É um orgulho sem dimensão ter sido distinguido pela minha cidade e pelo meu concelho por todo o meu trabalho e dedicação”.
A banda sonora do filme “The Greatest Showman” ditou o ritmo e a depressão o mote para a coreografia que deu a vitória a Gonçalo Roque e a Kinga Grzsków, do “Duo Destiny”, no concurso de talentos Mam Talent, que se realizou na Polónia, em Novembro.
“A coreografia fala de depressão, esse monstro da nossa sociedade. Através da dança tentamos demonstrar que um amigo, uma palavra, um toque, podem fazer a diferença na vida de uma pessoa que sofre com essa doença”, explica o ginasta que forma dupla com Kinga há três anos. “A nossa ideia nunca foi vencer o programa. Queríamos acima de tudo que as nossas famílias e amigos se orgulhassem de nós”, acrescenta.
Enfrentar preconceitos por andar na ginástica
Na sua juventude, Gonçalo Roque conta que foi vítima de preconceito por praticar ginástica, embora também integrasse uma equipa de andebol. “Era chamado de bailarina da ginástica, por miúdos de 12 anos. Neste momento, com a divulgação que a ginástica tem tido a nível nacional, acho que o preconceito já não é tão grande”.
Nos anos em que representou Portugal ao mais alto nível, a “bolsa” que recebeu “mal dava para pagar as despesas dos fatos”. Valeram-lhe os pais para suportar os custos de viagens, para que pudesse mostrar o seu talento em campeonatos internacionais. “Se assim não fosse teria abandonado a ginástica de competição bem mais cedo”.
Há seis anos deixou a competição e há quatro entrou para o mundo do espectáculo. Já passou pelas Caraíbas, Alasca, Nova Iorque e Califórnia. O último Verão foi passado no cabaré Moulin Rouge, em Paris, e prepara-se para fazer parte da nova produção do Cirque Du Soleil, que vai estrear em 2019, no Canadá. Actualmente dança no show Palazzo, em Graz, na Áustria.
Samora Correia é a sua casa
“A minha ligação a Samora Correia é bastante forte. Sempre que estou em pausa de algum contrato, volto sempre a casa”, diz o ginasta que guarda dessa cidade as “melhores recordações”.
Não se considera um “ídolo” para os samorenses, mas gosta de pensar que “se sentem orgulhosos por levar o nome de Samora Correia para onde quer que vá”. E confessa: “Desde que venci o concurso tenho recebido um carinho incrível, o que me deixa ainda mais orgulhoso das minhas raízes”.
Gonçalo sabe que o corpo não o acompanhará sempre no mundo do espectáculo. Licenciado em Ciências do Desporto, diz que é em Samora que vai viver “quando decidir que será tempo de deixar de ser um saltimbanco”.
Amante da festa brava
Gonçalo diz-se “amante da festa brava, especialmente do convívio e amizades” que criou na Tertúlia Pouco Juízo, da qual faz parte. “É daqueles grupos de amigos em que posso estar meses sem aparecer, mas quando regresso para a Semana Taurina e festas de Samora é como se nunca tivesse estado longe”, conta.
Não gosta de perder os dias em que os toiros andam na manga e as tertúlias se juntam, por isso marca-os na agenda. Corridas de toiros dispensa, mas respeita. Nos últimos anos tem trazido às festas taurinas alguns dos seus colegas de profissão. “Acreditem, vivem os dias mais loucos da vida deles”, diz.