Incandescente Serafim das Neves
Em Abrantes há uma história deliciosa de um buraco que se abriu no chão e que engoliu um bocado de um muro e parte de um passeio na Rua de São João Baptista de Ajudá. Tudo se passou há quatro anos e tudo continua na mesma porque acontecimentos extraordinários merecem ser preservados. E ainda bem que assim é.
O interessante é que as grades que foram colocadas no local para evitar que alguém caísse no tal buraco, não têm um pingo de ferrugem, apesar de chuvas e de humidades, nem foram roubadas ou vandalizadas. Se é milagre ou não, o pároco local decidirá e vai ter tempo para isso porque o buraco não vai ser tapado tão depressa.
Lá mais para sul, em Vila Franca de Xira, o vereador do Bloco de Esquerda na câmara municipal, Carlos Patrão, propôs, mais de quarenta e quatro anos depois do 25 de Abril, retirar o nome do Marechal Carmona, Presidente da República nos tempos da outra senhora, da ponte que atravessa o Tejo desde 1951, ligando aquela cidade ao Porto Alto.
Numa altura em que toda a gente conhece a ponte por ponte de Vila Franca de Xira é bom e justo haver alguém como o autarca do BE que nos vem recordar que a mesma tem o nome desse republicano ilustre que, antes de ter sido Presidente, foi designado, a 15 de Outubro de 1910, para integrar a comissão de reestruturação do exército, pelo Governo Revolucionário Republicano.
No teu último e-mail referes o facto de haver uma brigada anti-Natal que tentou incendiar a casa do Natal do Cartaxo, deitou fogo ao comboio natalício de Rio Maior, decapitou um dos camelos dos Reis Magos e fez outras tropelias, como roubar algumas luzinhas de Natal em Santarém. Eu tenho que dizer que compreendo aquelas atitudes. Elas resultam desta repressão actual contra tudo o que antigamente ocupava a juventude.
Antes mandávamos uns piropos às moçoilas mas agora é proibido. Mesmo fazer declarações de amor não é aconselhável porque pode configurar assédio. E já nem falo das miúdas que iam lá a casa estudar matemática quando as nossas mães não estavam e que acabavam por participar em animadas lutas de almofadas, porque agora os jovens não lhes abrem a porta com receio de virem a ser acusados de coisas impróprias.
Os pobres coitados também não podem ir aos ninhos, nem apanhar passarinhos com visgo e muito menos atirar setas feitas de varetas de guarda-chuvas aos gatos. Andar de carrinhos de rolamentos nas descidas implica serem detidos pela polícia; praxar colegas é uma actividade terrorista... A repressão social está em níveis elevadíssimos. Vê lá tu que até já nem se pode fumar nas casas de banho da escola. E muito menos ir espreitar as miúdas a tomarem banho depois das aulas de educação física!! Eu nem sei como é que um rapaz se faz homem hoje em dia.
O poeta António Gedeão, que é tão celebrado e aclamado, tinha um poema que começava com o verso, “Encontrei uma preta...”. Quem o recitar agora sem mudar preta para negra vai levar no carolo do pessoal do Bloco de Esquerda, mesmo daqueles bloquistas que no seu tempo de juventude aclamavam o autor desse poema chamado “Lágrima de preta”. E quem não mudar a canção “Atirei o pau ao gato” para “Ofereci peixinho fresco ao amigo gato”, pimba! Também leva!!
É por tudo isto que eu até me admiro que a rapaziada anti-Natal ainda não tenha grafitado nenhum presépio nem feito uns bigodes ao menino Jesus, metido uns óculos ao burro e feito um Tag no véu de Nossa Senhora.
O movimento Coletes Amarelos à Portuguesa, que tantas expectativas de negócio gerou junto das lojas do chinês, foi um falhanço. Eu não me admirei. Querer copiar uma coisa feita por franceses é no que dá. Ainda se tivessem anunciado que havia porco assado no espeto, pão de Rio Maior e vinho do Cartaxo à descrição. Agora assim, a seco... vai lá vai. E além disso o pessoal também já começa a estar farto de comissões de utentes e de grupos de cidadãos formados por pessoal apartidário... que trás o cartão do partido no bolso.
Saudações verde garrafa
Manuel Serra d’Aire