O rock é uma música universal que ganhou raízes na paisagem cultural ribatejana
Centenas de jovens da região cimentaram ao longo dos anos uma comunidade musical.
A música rock está de boa saúde na região. As bandas formadas por jovens músicos continuam a surgir por todo o lado. Umas cantam em português e outras em inglês, mas a base é a mesma. A influência social não é visível mas está latente a inquietação, a rebeldia, a adrenalina.
Banda Open B4 trabalha originais para um dia ganhar asas
“No Time to Fall”, que sai este ano, é o primeiro single da banda de Abrantes
É na garagem de André Damas, transformada em estúdio musical, que os Open B4 ensaiam todas as semanas. Os elementos da banda têm idades diferentes e consideram que isso é uma mais-valia. Eduardo Costa, 42 anos, e Carlos Marcão, 39, são os mais velhos. Há cerca de dois anos conheceram André Damas, 18 anos, que convidou Fabien Nunes de 23 anos para se juntar a eles.
A ideia inicial era que os Open B4 tivessem apenas três elementos mas os músicos sentiram que faltava preencher uma lacuna e a guitarra de Fabien veio completar o quarteto. O jovem é do Entroncamento e os restantes são do concelho de Abrantes.
André toca bateria, Eduardo toca baixo, Fabien e Carlos tocam guitarra e a voz está a cargo de Carlos. Eduardo e Marcão começaram na música há mais de 25 anos e foram sempre fazendo parte de bandas musicais. Em comum têm o facto de sempre terem ouvido muita música em suas casas e de terem elementos da família ligados à música.
“Tem sido fácil trabalharmos juntos porque partilhamos a mesma paixão pela música. O facto de termos idades diferentes não faz com que uns mandem mais do que outros. Os mais velhos ouvem os mais novos e vice-versa. Se um não gosta de uma coisa não se faz e só terminamos quando conseguimos chegar a um consenso. Todos temos que gostar do resultado final”, explica Carlos Marcão.
O objectivo da banda é ser reconhecida a nível nacional mas sabem que o caminho é difícil e querem dar um passo de cada vez. Têm sete músicas originais gravadas. Todas cantadas em inglês mas pretendem ter algumas em português. O estilo de cada música é diferente mas têm todas como base o rock. Vão desde o rock mais pesado até ao funk, consoante a inspiração do momento. “No Time to Fall” é o título do primeiro single que pretendem lançar nas plataformas digitais ainda este ano. A aposta no youtube e nas diversas redes sociais vai ser forte para tentarem chegar a todos os públicos.
Até agora os Open B4 actuaram apenas como banda de covers (tocam músicas de bandas conhecidas), mas a pouco e pouco querem evoluir. Outra das metas da banda é tocar fora do concelho de Abrantes. Actuar num festival de Verão é um dos sonhos de todos os elementos e há desejos mais ousados. Carlos Marcão, por exemplo, gostava de um dia tocar sob uma plataforma amovível no meio do rio Tejo entre as margens norte e sul do Aquapolis, em Abrantes.
Ainda não participaram em nenhum concurso de bandas mas querem começar a fazê-lo depois de lançarem os seus originais. Dizem que o facto de viverem numa cidade no interior do país não prejudica o seu trabalho. “Em Lisboa a visibilidade poderia ser maior mas se conseguirmos ter sucesso poderemos surpreender mais do que se estivéssemos em grandes cidades onde a concorrência é maior”, referem.
Dos corredores do Conservatório de Alhandra para os palcos do rock
Lazy Generation são uma banda de jovens formada há seis anos
Do primeiro ensaio numa cave húmida ao lado de um boneco do Batman até ao palco do programa televisivo Got Talent, passaram seis anos. Os Lazy Generation têm sido um dos rostos das bandas jovens do concelho de Vila Franca de Xira, levando o nome da cidade a diferentes palcos do país. Foram também, em 2015, os vencedores do Riffest, concurso de bandas de garagem promovido pela Câmara de Vila Franca de Xira e a partir daí nunca mais pararam.
Assumem-se como uma banda de garagem, jovem – com idades entre os 15 e os 26 anos – apaixonada pelo rock, rock alternativo e com fortes influências de pop-punk. Dizem ser inspirados por bandas como Blink 182, Sum 41, Green Day ou Foo Fighters.
Afonso Gageiro, Lucas Ferreira, Ricardo Lage, Fábio Mendes e Miguel Vale são os membros da banda e vêm de sítios tão diferentes como À-de-Freire (Alhandra), Sobral de Monte Agraço ou Alverca. Conheceram-se no conservatório regional Silva Marques de Alhandra, onde três dos membros iniciais da banda estudavam música.
“Gostávamos de tocar uns com os outros, de improvisar, por vezes nos corredores”, conta a O MIRANTE Afonso Gageiro. A amizade e a cumplicidade foi crescendo até a banda dar o primeiro passo. Os membros foram mudando mas a espinha dorsal do grupo manteve-se.
“Começámos a levar a banda mais a sério depois de ganhar o Riffest em Vila Franca de Xira. Foi a nossa primeira rampa. O concelho tem feito uma grande aposta nas bandas e isso é bom. Sempre tivemos a ambição de crescer e acreditávamos que não éramos maus a escrever música. O prémio deu-nos a confiança e o dinheiro ajudou-nos a comprar o material de que precisávamos”, explica.
Em 2018 o grupo representou o concelho de Vila Franca de Xira no programa televisivo Got Talent, onde chegou às semi-finais. A notoriedade permitiu-lhes evoluir e hoje já ensaiam num estúdio na Póvoa de Santa Iria, onde estão a gravar novo material para sair até ao final do ano.
“O rock não morreu. Os fãs do rock são os mais fiéis, estão sempre presentes e a ajudar-nos. Hoje em dia o rock saiu das rádios para dar lugar ao pop, rap e estilos latinos mas isso são modas passageiras”, defendem.
“Poison” e “Hercules” são dois dos singles da banda. Inicialmente focavam-se em música cantada em inglês mas estão a mudar para a língua de Camões. “Queremos dar às pessoas música que as faça sentir bem e que elas gostem. Esse é o nosso maior propósito”, revelam. Apaixonados por música, estão também envolvidos noutros projectos além dos Lazy Generation.
O nome da banda, que traduzido para português fica “Geração preguiçosa”, é uma sátira, dizem. “Há muita gente que nos vê como uma geração que não se mexe, tem tudo de mão beijada e não trabalha com empenho para ter as coisas. Nós queremos mostrar que não é bem assim”, sublinham.
Conjunto!Evite assume-se como banda de rock progadélico made in Ribatejo
Dois dos músicos são filhos de Tim, vocalista dos Xutos & Pontapés
Fábio Neves, José Deveza, Manuel Belo, Sebastião Santos e Vicente Santos, formam a banda de rock Conjunto!Evite, totalmente composta por músicos da região. Fábio e José, são de Rio Maior, Manuel é de Santarém e os irmãos Vicente e Sebastião são de Ribeira de São João (Rio Maior). Estes últimos têm a particularidade de serem filhos de um ícone do rock português: Tim, vocalista da banda portuguesa Xutos e Pontapés, que reside em Ribeira de São João.
Vicente é artista plástico e pianista freelancer noutras bandas, Sebastião também trabalha como freelancer na área da música, mas neste momento é a Conjunto!Evite que lhes ocupa a maior parte do tempo. Manuel Belo e Fábio Neves são técnicos de som, trabalham também como freelancers. José Deveza não conseguiu estar presente na entrevista.
Todos são gratos por terem nascido e crescido na região, uns em Rio Maior outros em Santarém. “Tivemos uma infâncias e adolescências felizes e tranquilas aqui e temos recordações espectaculares”. Aliás o grupo é unânime ao idealizar que se tivessem as mesmas oportunidades de trabalho na região, deixavam imediatamente Lisboa.
A conversa com O MIRANTE teve como pano de fundo o Jardim das Portas do Sol, em Santarém, do qual todos guardam recordações e onde vão dar um concerto a 21 de Setembro.
Vicente Santos, tem o 5º grau de piano clássico e um ano de piano jazz. Sebastião Santos, o 3º grau de piano, ambos ex-alunos do Conservatório de Música de Santarém. Fábio Neves e Manuel Belo têm formação apenas em Som e nenhuma experiência musical. São autodidactas, ambos na guitarra. O que os une é a paixão pelo rock. “Só poderíamos ser uma banda de rock. Não temos perfil para ser outra coisa qualquer”, sublinha Manuel Belo.
Dizem que o mais complicado tem sido ganhar espaço. “É muito difícil competir num mercado muito concorrido e com bandas já com algum reconhecimento e montar toda uma equipa por detrás da banda ao nível do marketing”, refere Sebastião Santos.
Reconhecem que o vocalista dos Xutos & Pontapés, Tim, que é pai de dois deles, lhes deu um “empurrãozinho”.
“Claro que é inevitável que o nosso pai nos dê algumas ideias sobre como abrir algumas portas e conselhos sobre com quem devemos trabalhar, mas nem sempre fazemos o que ele sugere. Temos a nossa autonomia e ao fazermos os nossos erros aprendemos muito”, explica Sebastião, entre risos, acrescentando que a melhor ajuda foi deixá-los utilizar o estúdio que tem em casa, em São João da Ribeira.
Rock Progadélico é como denominam o seu estilo musical. É uma mistura de rock progressivo, psicadélico, funck e música improvisada sempre cantada em português. Os jovens ribatejanos orgulham-se de escrever e cantar em português. “Foi uma escolha nossa e nem pensámos muito sobre isso. Pensamos e falamos em português, por isso escrevemos as letras e cantamos em português”.
A propósito da celebração do Dia Mundial do Rock, a pergunta impõe-se: o Rock está morto em Portugal? A resposta é unânime: “não, mas podia estar bem mais vivo! Há um público muito fiel que resiste e há bandas resilientes. O rock forma comunidades e uma das coisas que permite que continuemos como banda é que oitenta por cento deste mundo é feito de camaradagem”, refere Manuel Belo.
Com dois CDs lançados, o primeiro em 2014 e o segundo em 2016, e um LP este ano, que está disponível nas plataformas digitais, as vendas correram bem e superaram mesmo as expectativas. Apesar de não serem grandes fãs das redes sociais, nos dias de hoje é “praticamente inevitável” estar online, caso contrário, “não chegávamos a ninguém”, referem. O próximo concerto em Santarém está já agendado para dia 21 de Setembro, nas Portas do Sol, com entrada gratuita.