População de Abrantes une-se ao Padre José da Graça
Mais de duas centenas de paroquianos de Abrantes mobilizaram-se para obrigar a Igreja e o Bispo de Castelo Branco a repensarem o afastamento do cónego José da Graça.
Mais de duas centenas de pessoas juntou-se no sábado à tarde num hotel em Abrantes e à noite na igreja de Chaínça – para definirem estratégias de acção para que o Padre José da Graça não deixe as paróquias do concelho. A sociedade civil está contra a dispensa do cónego por parte da Diocese de Portalegre-Castelo Branco, depois de José da Graça ter sido condenado pelo Tribunal de Santarém pelos crimes de burla qualificada, burla tributária e falsificação de documentos. O pároco recorreu da decisão.
O movimento da comunidade abrantina quer que o bispo da Diocese de Portalegre-Castelo Branco volte atrás na decisão de afastar o padre do seu trabalho na igreja e na direcção do Centro Social Interparoquial de Abrantes. Os populares enviaram uma carta ao bispo onde demonstram a sua surpresa pela dispensa do Cónego José da Graça que tem quase quarenta anos de serviço às populações e instituições do concelho.
O Movimento Social de Apoio e Reconhecimento (MOSAR) surgiu no início deste ano com o objectivo de homenagear o padre José da Graça pelo trabalho que tem desenvolvido. Devido à decisão do Tribunal voltaram a reunir e dizem que o Bispo tomou uma decisão precipitada, não teve em conta os interesses da instituição nem o passado do Padre José da Graça ao serviço da comunidade. “A decisão do tribunal não é definitiva. O que hoje é verdade amanhã pode ser mentira”, dizem em uníssono Marli Esteves e Domingos Chambel, porta-vozes do movimento.
“Queremos que o Bispo nos ouça, que tenha em conta a obra que o padre José da Graça fez, as responsabilidades que tem nesta comunidade, as obras que estão a decorrer e o facto de ele ser um homem de causas e não de negócios. Alguém o tramou. Não podemos abandonar os nossos melhores amigos e cidadãos”, disse Domingos Chambel a O MIRANTE. Marli Esteves reforça: “O princípio da presunção de inocência só se ultrapassa quando a decisão transitar em julgado. São 34 anos de trabalho do padre José da Graça por uma obra humanitária. Não podemos aceitar que o bispo tome uma decisão destas sem ouvir a população”, afirmou.
Padre surpreendido com dispensa da Diocese
O sacerdote, de 76 anos, foi condenado, no dia 12 de Junho, a cinco anos de prisão, com pena suspensa por igual período, pelos crimes de burla qualificada, burla tributária e falsificação de documentos, num esquema que terá lesado o Estado em cerca de 200 mil euros através do Centro Social Interparoquial de Abrantes, instituição da qual era presidente. O padre recorreu da decisão do Tribunal Judicial de Santarém.
A decisão do bispo Antonino Dias foi dada a conhecer na semana passada em comunicado, quando foi divulgada a lista de nomeações para o novo ano pastoral, e na qual se lê que o cónego José da Graça foi “dispensado de pároco das paróquias de São Vicente e São João de Abrantes” e também de capelão da Unidade Hospitalar de Abrantes do Centro Hospitalar do Médio Tejo e de capelão da corporação dos Bombeiros Voluntários de Abrantes.
O padre José da Graça diz que foi apanhado de surpresa e alega inocência. O sacerdote diz que sente o peso da responsabilidade pela obra que dirige, que inclui um lar de idosos e uma unidade de cuidados continuados, entre outras missões.
Padre foi tramado por Pedro Moreira que também foi condenado a prisão
Pedro Moreira, um terapeuta e ex-autarca de Alferrarede, que trabalhou 15 anos com o padre José da Graça, também foi condenado pelo tribunal igualmente com pena suspensa. Foi ele que denunciou o esquema às autoridades. Pedro Moreira despediu-se do emprego e passados cinco meses alertou a inspecção “para fraudes, ilegalidades e irregularidades”, o que deu origem a uma investigação, que agora acabou em condenação.