Tomar quer Festa dos Tabuleiros como Património Mundial mas vai ter de esperar muitos anos
Município dá o primeiro passo com candidatura a Património Nacional para justificar interesse da Unesco. Presidente da Câmara de Tomar diz que Festa dos Tabuleiros é única no país e no mundo e está enraizada há vários séculos na comunidade tomarense. O grande objectivo da autarquia é obter o reconhecimento mundial do trabalho, da genuinidade da Festa dos Tabuleiros e da identidade cultural das suas gentes.
A presidente da Câmara de Tomar tem consciência que a Unesco vai demorar uns anos até começar a avaliar a candidatura da Festa dos Tabuleiros a Património Imaterial da Humanidade. Mesmo assim, Anabela Freitas mantém essa intenção como objectivo, mesmo que a decisão sobre a candidatura demore uma década. O primeiro passo foi dado na semana passada com a apresentação da candidatura da Festa dos Tabuleiros a Património Nacional.
Anabela Freitas está ciente de que a Unesco não está a dar prioridade às candidaturas europeias, mas realça que a autarquia vai dar um passo de cada vez e que a candidatura só deverá ser submetida daqui por dois anos. Durante este tempo o município vai estruturar a proposta com mais elementos. A candidatura a Património Nacional, já entregue e que está para decisão, vai servir de base para a candidatura à Unesco. “Queremos conseguir agregar um conjunto de entidades à volta desta candidatura, como o Presidente da República, embaixadores de Portugal e outras entidades, para fortalecer a nossa candidatura”, explicou Anabela Freitas a O MIRANTE.
A autarca recorda que a festa está enraizada há vários séculos na comunidade de Tomar e é única no país e no mundo, tendo na sua essência a partilha e sendo uma festa feita pelo povo e para o povo. O reconhecimento mundial desta iniciativa, da sua genuinidade e identidade é importante para a visibilidade não só da festa, como também do município, do seu potencial patrimonial, arquitectónico, natural e cultural.
Com origem pagã, simbolizando a época das colheitas, a Festa dos Tabuleiros adquiriu carácter religioso na Idade Média, com a Rainha Santa Isabel. Os tabuleiros da festa de Tomar, pela sua forma, são únicos no âmbito das tradicionais festas do Espírito Santo que se realizam um pouco por todo o país. A autarca referiu que o processo para o reconhecimento mundial há décadas que é falado, mas só agora este executivo decidiu passar das palavras à prática. Anabela Freitas reforça que 2019 é o ano para trabalhar no sentido da Festa dos Tabuleiros integrar o Património Cultural Imaterial Nacional.
O registo de inventariação da Festa dos Tabuleiros de Tomar no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial (PCI) contempla dois tipos de informação, nomeadamente sobre a manifestação de PCI, de carácter histórico e etnográfico, que ateste obrigatoriamente a dinâmica actual da prática social, assim como, com a profundidade temporal possível, o devir histórico e as dinâmicas que a tradição conheceu no âmbito da sua génese e transmissão ao longo das gerações”, disse André Camponês, do Instituto de História Contemporânea (IHC), que coordena cientificamente o projecto de candidatura.
O investigador e antropólogo dedicou os últimos meses a recolher informações, depoimentos e documentos sobre a Festa dos Tabuleiros. Neste trabalho foram incluidas propostas de salvaguarda de registos vídeo e fotográficos de profissões em vias de extinção, como o latoeiro ou o cesteiro, para que possam ser replicados no futuro, ou que sirvam de base à criação de um centro interpretativo da festa, que a autarquia já aprovou em sede de executivo.
A data mais antiga que documenta a existência da Festa dos Tabuleiros (então designada Festa em Honra do Divino Espírito Santo) é de 1844, segundo o livro de actas e contabilidade da Academia Philarmónica Tomarense (já desaparecida). O testemunho mais antigo da Festa do Espírito Santo é a Coroa da Asseiceira de 1544.