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“Benavente esteve anos sem obras e agora vai transformar-se num estaleiro”
Ricardo Oliveira é vereador do PSD na Câmara de Benavente desde 2017

“Benavente esteve anos sem obras e agora vai transformar-se num estaleiro”

Tem 35 anos, é o vereador mais jovem e o único eleito pelo PSD na Câmara de Benavente, gerida pela CDU há mais anos dos que o próprio tem de idade. Em entrevista, Ricardo Oliveira critica a falta de estratégia para o concelho mas está com a maioria comunista na defesa do Campo de Tiro de Alcochete para o novo aeroporto e nas obras que estão a decorrer.

A falta de expressão do PSD no concelho de Benavente não é tabu para Ricardo Oliveira. O vereador social-democrata senta-se na bancada da oposição desde 2017, embora já tenha moldado o assento quando no anterior mandato o ex-vereador José da Avó renunciou ao cargo. Fazendo um prognóstico diz que a mudança já começou a acontecer. Prova disso, é a “diminuição de votação na CDU”, que já deixou de ter maioria na assembleia municipal. Ainda assim, fala numa habituação da população à gestão comunista instaurada há mais de 40 anos que, a seu ver, tem embalado o concelho num adormecimento profundo.
Considera imprudente falar numa recandidatura a meio do mandato e diz-se humilde o suficiente para dar o lugar a alguém nas próximas eleições. Fala de inimizades nascidas no seio da política, pela “falta de senso de democracia de alguns”, e como pai de uma família numerosa lamenta o tempo que a causa pública lhe tem retirado. Não se atreve a criticar o vereador do PS, Pedro Pereira, que já chamou de tudo ao presidente da câmara e aplaude o “trabalho meritório” dos eleitos independentes do Mais Para Todos, que contaram com o apoio do PSD na freguesia de Samora Correia.
Sobre as obras que o município tem projectadas para este mandato Ricardo Oliveira faz um balanço positivo, mas lamenta que venham com anos de atraso. “Benavente esteve anos sem investimento e agora vai transformar-se num grande estaleiro de obras”. É o caso da requalificação da estrada da Azinhaga do Contador, do Parque Ruy Luís Gomes, do museu e biblioteca municipal, diz, considerando que são obras que o PSD também faria caso governasse.
Por outro lado, acrescenta que o desenvolvimento do concelho não se pode resumir a alcatrão, defendendo que faz falta definir uma estratégia de fundo para tornar o território atractivo para viver, trabalhar e visitar. É neste ponto que a sua expectativa enquanto vereador da oposição está a “sair defraudada”, diz.
Ricardo Oliveira nasceu há 35 anos, é casado e tem três filhos. Toda a vida viveu na aldeia de Santo Estêvão, mas não olha para a interioridade como um ponto negativo e garante que a pacatez rural não o incomoda. “O que me irrita é que possa haver regressão. Agora, quem escolhe viver no campo não pode querer ter o mesmo tipo de ofertas que tem uma zona urbana”, diz.
Filiou-se no PSD aos 17 anos mas diz-se mais livre de pensamento do que muitos independentes. Desde os 10 anos ligado a colectividades da freguesia já passou pela direcção da associação de festas de Santo Estêvão e pelo Clube de Futebol Estevense, onde é presidente da assembleia geral. Na Sociedade Filarmónica já tocou um pouco de tudo, desde trombone, contrabaixo e percussão e continua a pertencer ao grupo de teatro amador. Na política garante que não faz teatro “embora às vezes as reuniões de câmara pareçam uma comédia e as discussões requeiram alguma representação para se conseguir passar a mensagem”.

Novos moradores de Santo Estêvão trouxeram dinamismo

Ricardo Oliveira foi eleito presidente da Junta de Santo Estêvão, pelo PSD, nas autárquicas de 2009. Há 10 anos a aldeia começava a despertar interesse pelas suas belas herdades e qualidade de vida que acabou por atrair novos moradores. “A migração dessas pessoas foi fundamental para aquilo que a aldeia é hoje tornando-a mais dinâmica e fazendo progredir o comércio local”, afirma. E sublinha: “Também trouxe mais trabalho, já que os novos moradores precisavam de empregados para as suas herdades”. Actualmente, garante que apesar de não terem raízes no concelho “são considerados gente da terra e dão o seu contributo nas colectividades locais”.

Campo de Tiro de Alcochete é a melhor solução para o novo aeroporto

Tem sido uma voz crítica do Festival do Arroz Carolino das Lezírias Ribatejanas. Como vê esta paragem de um ano do festival?

Esta suspensão do festival é a prova de que a estratégia de valorização turística do município falhou. O que já era de prever porque ao fim de três edições consecutivas não conseguiu envolver os restaurantes do concelho. Gastou-se meio milhão de euros e o retorno foi quase nulo.

Carlos Coutinho justifica dizendo que o festival pára para que outras obras possam acontecer. Acredita que é mesmo assim?

É falso que o festival não possa avançar para que possa haver obras. Não consigo acreditar que é por 150 mil euros que se fazem ou deixam de fazer obras que são financiadas maioritariamente por fundos comunitários. Depois, esta câmara municipal tem capacidade para ir buscar dinheiro à banca. Ou seja, se o executivo CDU acreditasse que a estratégia de valorização turística estava certa teria condições para fazer as obras e o festival.

A população de Samora Correia ainda espera pela variante da EN118 que vai retirar os veículos pesados do centro da cidade. A responsabilidade é da Infraestruturas de Portugal. Podia o município ter feito mais?

Há uma responsabilidade repartida entre o presidente da câmara e o Estado português. O PS governou o país durante quatro anos segurado pelo Bloco de Esquerda e pelo PCP e, nessa altura, o presidente da câmara podia ter pressionado o Governo, através da Infraestruturas de Portugal, para que a variante na estrada da Murteira fosse concluída. Só espero que até lá não venhamos a lamentar nenhum acidente com perda de vidas humanas. Aquela estrada é um atentado à segurança rodoviária.

Sobre a construção do novo aeroporto PSD e CDU estão de acordo que a ser no Montijo será o erro do século. Olha para Alverca como solução?

Acho impressionante como se pode pensar que a alternativa passa por construir um novo aeroporto onde moram milhares de pessoas e onde não há possibilidade de crescimento, tanto em Alverca como no Montijo. O que faz sentido é construí-lo onde haja espaço e menor densidade populacional. Por isso é que a única solução viável é o Campo de Tiro de Alcochete e, enquanto se constrói, fazer da base aérea de Tancos um terceiro terminal para aliviar o tráfego na Portela.

O PSD anda há dois anos a levantar a bandeira do orçamento participativo. Pode dizer-se que a CDU está apostada em chutá-la para canto?

É de facto uma bandeira do PSD, mas mais importante que isso é uma bandeira da comunidade que pôs a circular uma petição pública. Já em anos anteriores o PSD lutou pelo orçamento participativo e este ano foi pedido um sinal político, que consistia na abertura de uma rubrica para a elaboração do regulamento que o presidente de câmara entendeu não dar. Apesar de dizer o contrário, o presidente da câmara não é adepto dos orçamentos participativos e acha que não fazem sentido. Eu acho o contrário.

“Benavente esteve anos sem obras e agora vai transformar-se num estaleiro”

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