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As pedreiras são um grande negócio mas quem paga é a população
José Alho

As pedreiras são um grande negócio mas quem paga é a população

Há cidadãos que aproveitam para venderem as casas e terrenos a bons preços às pedreiras que estão sempre a aumentar a sua área de expansão


Enquanto foi vereador na Câmara de Ourém José Alho definiu no PDM que não haveria mais área de expansão das pedreiras. Não sabe se essa decisão está contemplada na revisão do PDM, que ainda não foi aprovada. O líder da bancada do PS na Assembleia Municipal de Ourém diz que as constantes aprovações de declarações de interesse municipal para as pedreiras alargarem a sua área de exploração não defendem os interesses das populações.
As constantes aprovações de Declarações de Interesse Municipal (DIM) na Assembleia Municipal de Ourém (AMO) para as pedreiras alargarem a sua área de exploração não estão a defender o interesse das populações. A opinião é do biólogo José Alho, que já foi vereador na Câmara de Ourém e também director do Parque Natural da Serra d’Aire e Candeeiros. Actualmente é o líder da bancada do Partido Socialista (PS) na AMO. José Alho considera que as populações das aldeias de Casal Farto e Boleiros, situadas paredes meias com as pedreiras, não estão protegidas. “Além do pó, que é muito fininho e se entranha nas casas, há também o ruído, o trânsito e as lamas no Inverno. Tudo isto prejudica quem ali vive e tem direito ao sossego”, afirma.
O negócio da pedra é tão grande que há moradores a venderem casas e terrenos a bons preços a algumas pedreiras para estas poderem aumentar a sua área de expansão. Há quem diga, em jeito de ironia, que qualquer dia deixa de existir população nas localidades de Casal Farto e Boleiros em nome dos interesses da pedra que vale milhões em países como a China.
José Alho afirma que a população percebe onde termina a área protegida da Serra d’Aire e Candeeiros porque aí existem regras ambientais. “Do outro lado, onde as pedreiras estão a laborar e onde não existem regras, é a anarquia, o caos”, critica. E acrescenta a O MIRANTE: “Parece que existem dois ritmos nas regras ambientais. Na área protegida está tudo acautelado. Fora disso não existem regras ambientais. Os planos de Gestão Ambiental e Recuperação Paisagística, que estão na lei, têm de ser apresentados no acto de licenciamento e depois têm de ser cumpridos e nem sempre isso acontece”.
Foi por todas estas razões que os eleitos do PS na AMO não estiveram presentes aquando da inauguração da peça em pedra oferecida pela pedreira Filstone à AMO em 2018. “Não estivemos presentes porque, não havendo nada a opor do ponto de vista legal, parecia que existia uma ligação entre a aprovação de uma declaração de interesse municipal à empresa que ofereceu uma escultura para colocar junto aos edifícios da assembleia municipal e da câmara municipal. Eticamente não nos pareceu o mais adequado”, justificou o autarca. Além disso, votaram contra, assim como a bancada do MOVE (Movimento Ourém Vivo e Empreendedor).
José Alho sabe que não é competência da câmara municipal fiscalizar o funcionamento das pedreiras – é responsável por monitorizar apenas o nível do ruído – mas defende que o município poderia convocar as entidades responsáveis, pedir declarações de impacte ambiental e fazer um acompanhamento mais próximo do funcionamento das pedreiras.

Postos de trabalho e contrapartidas
O município e os eleitos que aprovam as declarações de interesse municipal justificam a decisão com as centenas de postos de trabalho que estão em causa e com as contrapartidas que as empresas apresentam. Estão prometidas obras de melhoramentos no cemitério de Maxieira/Boleiros, construção de um parque infantil com árvores numa antiga lixeira em Fátima e alcatroar uma estrada na freguesia de Nossa Senhora das Misericórdias.
Enquanto foi vereador na Câmara de Ourém José Alho definiu no PDM que não haveria mais área de expansão das pedreiras. Questionado se tudo o que delineou está contemplado actualmente na revisão do PDM o biólogo prefere esperar pelo documento final para se poder pronunciar.

As pedreiras são um grande negócio mas quem paga é a população

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