“O emprego para toda a vida já passou de moda”
Lígia Casimiro tem 54 anos e é coordenadora técnica na Junta de Freguesia de Vila Franca de Xira. É responsável por coordenar o trabalho dos funcionários da autarquia e estabelecer a ponte com o executivo. Diz vestir a camisola da junta de freguesia independentemente de quem a lidere e tem como maior desafio gerir conflitos quando as pessoas já se dirigem a um serviço público predispostas a reclamar. Só teve um emprego mas constata que esse já deixou de ser um desejo da nova geração.
As gerações anteriores queriam ter casa comprada, casar, ter filhos e um emprego para a vida. O panorama, entretanto, alterou-se, constata Lígia Casimiro, coordenadora técnica na Junta de Freguesia de Vila Franca de Xira. “Hoje os jovens são do mundo, não se importam de trabalhar cá ou no estrangeiro”, diz. E é positivo querer experimentar novos desafios, abraçar novos projectos na esfera profissional. “Mesmo na administração pública há cada vez mais pedidos de mobilidade. O emprego para toda a vida já passou de moda. Ninguém quer ficar estagnado”, afirma.
Lígia Casimiro tem 54 anos e trabalha na junta de freguesia desde os 22. Faz parte das gerações que contrariam aquela que diz ser a nova tendência: a constante troca de emprego. No seu caso, conta, nunca houve tempo para se sentir estagnada profissionalmente porque “teve espaço para crescer e evoluir na carreira”. Escalou a categoria de assistente técnico até ocupar o cargo que hoje desempenha. Além disso, defende, “este também não é um trabalho monótono. As caras que vemos são diferentes todos os dias. As situações para resolver mudam e os eleitos trocam de quatro em quatro anos”.
Em 32 anos de casa já trabalhou com 11 presidentes de junta. Todos com “feitios diferentes, mais ou menos difíceis e todos homens”. O que importa reter, diz, é que os eleitos do povo são “gestores que ditam as suas directrizes” sobre o rumo a tomar para a freguesia e quem lá trabalha tem de ser alheio a diferenças partidárias. “Sempre vesti a camisola de qualquer executivo e o que defendo é esta junta de freguesia independentemente de quem a lidere”, afirma.
Numa das estantes do local onde trabalha há uma fotografia da filha, agora com 21 anos, para dar um toque familiar ao gabinete. Mas em casa “o lema é não se falar de trabalho”. O motivo é simples: “Passamos tantas horas a trabalhar que, em casa, foi preciso criar um mecanismo para desligar”. O mesmo não se passa enquanto caminha pelas ruas de Vila Franca de Xira, cidade onde nasceu e vive.
“Abordam-me muitas vezes, porque me conhecem da junta, mas não me incomoda nada”, garante. O que perguntam? Essencialmente se o que precisam de tratar se resolve na junta de freguesia. “É o primeiro ponto de paragem e deve continuar a ser”, sendo um sinal da “proximidade que existe entre a população e o executivo eleito”.
Viajar para desligar
Lígia Casimiro é responsável pela coordenação de 16 funcionários daquela autarquia e por “fazer a ponte com o executivo”. Diz ter a sorte de trabalhar numa área que a fascina e onde é posta à prova para resolver conflitos. “Tento ser um pêndulo entre uns e outros. Faz parte da minha função eliminar problemas”, destaca. Mas a experiência diz-lhe que a gestão não é assim tão simples. Com o público, constata, nem sempre é fácil. “As pessoas quando entram num serviço público já vêm predispostas para reclamar. O que exijo de mim é ponderação, bom senso e esperar que quem grita baixe o tom de voz”.
Estudou até ao 12º ano e ficou-se por ali. O arrependimento existiu, mas garante já ter caído por terra. Tem um percurso profissional sólido e a sorte de fazer o que gosta. Apesar de na juventude ter ambicionado ser guia turística. “Compenso com as viagens que faço para fora do país”. Já conhece dez destinos e nunca revisitou um lugar. Prefere viver “experiências únicas e regressar mais rica e conhecedora de realidades distintas”. Além de que, partilha, viajar para fora é a única altura em que desliga completamente do trabalho.