Dormir numa autocaravana e vadiar pelo mundo
O Clube Autocaravanista Itinerante comemorou dez anos de actividade com um encontro em Coruche. O MIRANTE conversou com duas famílias ribatejanas que fazem do autocaravanismo um estilo de vida.
O Clube Autocaravanista Itinerante comemorou o 10º aniversário em Coruche, onde a associação tem sede, com mais de uma centena de associados que se juntaram para passar um fim-de-semana ( 21 a 23 de Fevereiro) a descobrir o concelho.
Madalena Simões, natural de Lisboa, mas a viver em Abrantes, estreou-se no autocaravanismo há cerca de 13 anos, depois de se ter aposentado de uma vida inteira dedicada à enfermagem. A geração de que faz parte sempre cultivou muito o espírito do campismo e do escutismo, duas actividades onde prevalece o contacto com a natureza.
Antes de experimentar o turismo itinerante fazia viagens com hotel marcado. Começou a perceber que, muitas vezes, marcava uma semana de férias e ao final de três dias tinha necessidade de mudar de ares. “O autocaravanismo veio dar-me liberdade e alternativas para escolher os meus destinos conforme a minha vontade. É um estilo de vida”, explica a O MIRANTE. É com o marido que partilha as viagens. Uma das últimas foi à República Checa que durou cerca de dois meses. O objectivo foi assistir ao casamento de um afilhado.
Tudo serve de pretexto para passar tempo dentro da autocaravana. “Às vezes penso em passar a noite no Aquapolis, em Abrantes, que fica a 500 metros da minha casa, só para ter o prazer de dormir lá dentro”, afirma.
Nos primeiros quatro anos de autocaravana passava, em média, 24 dias por mês a viajar ou a dormir dentro da viatura. “Vadiar” na verdadeira acepção da palavra, embora muita gente não goste do termo.
A preparação para uma viagem de longa duração é exigente e demorada, mas muitas vezes desnecessária. “O que gosto mesmo é de fugir ao programa. O imprevisível é sempre a parte mais saborosa de uma viagem”, conta Madalena Simões. Obrigatórias são as paragens em cada 48 horas nas estações de serviço para despejar a retrete. De resto é andar ao sabor do vento, explica.
Estava dentro da autocaravana quando, por uma única vez, foi assaltada. Como não deu por isso não ficou traumatizada. “A única sugestão que deixo é para nunca ficarem em sítios isolados”, aconselha.
OS FILHOS É QUE ESCOLHEM O CAMINHO
Ana Marques foi ao encontro com o marido e a filha Catarina, de 14 anos. Vivem em Vale da Pedra, Cartaxo, e há cerca de uma década compraram uma autocaravana para poderem desfrutar das férias em família de uma forma mais intimista. Quando se está numa casa de férias ou hotel, a comunhão familiar é menor porque a tendência é cada um ir para o seu lado, explicam.
A experiência tem sido muito positiva. A flexibilidade que têm entre poder escolher ir passar férias à beira-rio, na praia ou na neve, é uma das mais valias. Mas a grande vantagem, segundo Ana Marques, é a repercussão positiva que o autocaravanismo tem na sua família em termos ecológicos e de gestão dos recursos próprios. “Estamos a ser educados e a educar os nossos filhos”, afirma.
A primeira viagem de Ana Marques na autocaravana foi a Évora. Uma viagem em família é sempre sinal de animação. Canta-se, brinca-se, vê-se televisão, mas sobretudo passa-se tempo em família que, segundo a filha, Catarina, é o mais importante.
A viagem ideal para esta família é aquela em que conhecem uma nova terra. E há uma explicação para esta preferência: “Enquanto na minha altura de escola só aprendíamos geografia na sala de aula, hoje quero proporcionar aos meus filhos esse conhecimento nas viagens que fazemos”, refere Ana Marques, ao mesmo tempo que a filha Catarina explica ao repórter de O MIRANTE a estratégia que os pais utilizam: “Quando chegamos ao final da rua da nossa casa os pais perguntam se vamos para sul ou para norte. Sou sempre eu que decido”, conta com orgulho.
CAI é uma referência no autocaravanismo e tem sede em Coruche
Proximidade com a comunidade é uma das bandeiras da associação.
O Clube Autocaravanista Itinerante trabalha em parceria com as câmaras municipais e juntas de freguesia para conseguirem um conjunto de ofertas turísticas que garantam, aos autocaravanistas, experiências enriquecedoras nos concelhos que visitam. “O país, e sobretudo o Ribatejo, é muito rico em termos de cultura e turismo de natureza. A nossa função é ajudar a promovê-lo”, afirma Vera Coelho, 39 anos, presidente do clube e autocaravanista há cerca de uma década. Durante este ano, e no que diz respeito ao Ribatejo, o CAI vai estar em Salvaterra de Magos (Maio) e em Rio Maior (Outubro).
A direcção do CAI é composta por cinco elementos. Neste momento têm 97 autocaravanas associadas. Chegaram à centena no evento que realizaram em Coruche. “Sentimos que as pessoas cada vez mais apreciam o turismo em liberdade e a possibilidade que têm em mudar de destino conforme entenderem”, sublinha Vera Coelho que, ainda assim, afirma que o autocaravanismo às vezes sai mais caro do que passar férias em hotel. “As autocaravanas e a logística que exige preparar uma viagem não são coisas baratas. Mas vale os sacrifícios”.
O CAI é muito mais do que um clube de passeio: o CAI Escolinhas leva às escolas da região a possibilidade das crianças e dos pais conhecerem uma autocaravana; o CAI Solidário é um projecto que pretende entregar a instituições sociais, bens necessários que são recolhidos em todos os encontros promovidos pela associação. “A proximidade com a comunidade é uma das nossas bandeiras e vamos continuar a lutar por isso”, conclui.
Francisco Oliveira, presidente da Câmara Municipal de Coruche, diz ser um defensor acérrimo do autocaravanismo para as regiões do interior. Desde que o CAI está sediado em Coruche, o número de autocaravanistas tem aumentado de forma significativa. “Os autocaravanistas que visitam a nossa região vão ao restaurante, compram na mercearia, levam os nossos souvenirs. São os mensageiros daquilo que de melhor temos” afirma Francisco Oliveira, que se considera padrinho da associação por uma das primeiras decisões enquanto presidente ter sido levar o CAI para Coruche.