Uma igreja com séculos é património cultural
A propósito da notícia sobre o estado de degradação da igreja de São João Baptista, no centro histórico de Abrantes, classificada como Monumento Nacional e de certos comentários contra o recurso a apoios do Estado ou da União Europeia para obras, seria bom esclarecer que uma igreja do século XIV não é uma garagem ou uma casota de um cão. É património nacional e faz parte da nossa cultura, da nossa história, da nossa identidade.
Relembro que, nos termos da Lei de Bases do Património Cultural, o património cultural é constituído por todos os bens que, sendo testemunhos com valor de civilização ou de cultura portadores de interesse cultural relevante, devam ser objecto de especial protecção e valorização, e que tal constitui um dever do Estado, que assim assegura a transmissão de uma herança nacional, cuja continuidade e enriquecimento unirá as gerações num percurso civilizacional singular.
Sou defensora da separação do Estado e da Igreja mas sou contra radicalismos. No início do século XX, na primeira República, o que se passou com o ataque à igreja católica e confisco dos seus bens, a maioria dos quais devolvidos posteriormente, devia ter servido (e serviu de algum modo) para aprendermos alguma coisa. O que é feito a nível do património resulta de acordos com a igreja. Só é pena que não haja uma maior capacidade, nomeadamente financeira, para evitar a degradação do nosso património.
Filipa Mendes