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“As mulheres têm um jeitinho especial para resolver chatices”
Mónica Santarém, Anabela Capaz, Lurdes Quaresma e Isabel Lobo

“As mulheres têm um jeitinho especial para resolver chatices”

Várias mulheres dirigentes associativas em Alcanena partilharam experiências no último sábado, a poucos dias de mais um Dia Internacional da Mulher. A conferência “Associativismo no Feminino” teve apresentação de Fernanda Asseiceira, presidente do município, e na assistência os homens estiveram em minoria.

A maioria usa saia em vez de calças, vem sozinha e vai transmitindo as suas experiências entre risadas e sem complexos. Algumas confessam que os filhos e marido nunca foram um problema, outras dizem que o que menos importa é a hora de jantar. Tudo, dizem elas, por amor ao associativismo. Um sentimento que nasceu quando eram mais novas, por culpa dos pais, ou na hora da reforma, como forma de se manterem activas.
Segundo dados apresentados pela presidente da Câmara de Alcanena, Fernanda Asseiceira, no início da sessão “Associativismo no Feminino” que decorreu nessa vila, das 56 associações activas no concelho 11 são lideradas por mulheres. São mulheres que acabaram por aprender a mudar uma lâmpada ou a identificar uma ficha trifásica e que se habituaram a que os filhos as acompanhassem para qualquer lado onde fossem em representação da colectividade.
Na manhã de sábado, 29 de Fevereiro, a poucos dias da data que assinala o Dia Internacional da Mulher, 8 de Março, a conferência “Associativismo no Feminino”, faz jus à audiência que apresenta. Os poucos homens presentes estão como dirigentes de associações do concelho. Por alguns minutos a timidez dominou o auditório da Câmara Municipal de Alcanena, mas rapidamente as mulheres dirigentes começaram a fazer as primeiras confissões. “O meu marido quando me conheceu já sabia que a banda existia. Se quisesse interferir é porque as coisas não estavam bem entre nós”, revelou a presidente da direcção da Banda da Sociedade Musical Mindense, Anabela Capaz, lançando de seguida uma gargalhada.
Anabela Capaz confessa que o segredo é saber conciliar tudo. A dirigente entrou na colectividade ainda menina para tocar na banda e desde aí nunca mais saiu. “Esta é a minha segunda casa. E o mais engraçado é que, se faltar alguma vez, parece que a semana já não tem o mesmo sentido”, admite, garantindo que as mulheres têm um jeitinho especial para resolver as chatices que aparecem no dia-a-dia na associação.
“Isto é muito simples: quando estou com a banda o meu marido fica com os filhos. Quando ele vai à bola é a minha vez de ficar com eles”, explica Anabela, garantindo que há poucas meninas na banda, mas é bom para as bandas filarmónicas ter elementos femininos até porque, garante, “uma perninha à mostra a actuar fica sempre bem”.
E se a estratégia de Anabela é andar sozinha, já a maestrina do grupo Robustuna Afonsina do Centro Sócio Cultural e Recreativo de Casais Robustos, Mónica Santarém, faz questão de levar os seus rebentos sempre com ela. A professora diz ser fácil dirigir a tuna. Basta saber-se conciliar o tempo entre a família, o grupo e as tarefas domésticas.

“Queria continuar válida e não ficar o dia todo de avental”
Em cada partilha o riso impera no espaço. Para a presidente da direcção da Associação Cultural e Recreativa de Moitas Venda, Isabel Lobo, viúva e já reformada, a maior dificuldade nem é ficar com a cama por fazer, a roupa por lavar mais um dia ou ter tempo para estar com os netos, é mesmo saber o que vai levar naquela semana para os sócios fazerem. “Ser uma mulher ou um homem a dirigir não é importante. Somos todos iguais e temos os nossos dramas”, afirma Isabel Lobo, que decidiu apresentar-se de vestido, representando bem o género feminino.
Também a assessora da presidente da direcção da Associação de Desenvolvimento Socioeducativo e Cultural ABC de Alcanena, Lurdes Quaresma, é bancária na pré-reforma e só entrou na direcção quando os filhos atingiram a maioridade. Sempre foi uma mulher activa, dividida entre o trabalho e a família. Quando viu a reforma a aproximar-se decidiu que queria continuar válida e não ficar o dia todo de avental. Daí até candidatar-se a um cargo de direcção na associação foi “um pulinho”.
Lurdes Quaresma garante ser muito gratificante esse trabalho e ainda mais por ser voluntário e contar com uma grande massa associativa feminina, já que todo o corpo directivo da associação é composto apenas por mulheres. “Só existe um homem na colectividade, é o motorista”, conta a assessora.

Mais mulheres que homens em Alcanena

Há mais mulheres que homens a residir no concelho de Alcanena. Segundo dados da Pordata, dos 12.915 habitantes residentes em 2018 no concelho, 6.789 são mulheres e 6.126 são homens. Apesar disso, são eles que mais lideram as associações do município. A nível de associações culturais, o sexo feminino dirige sete colectividades contra 18 dirigidas por homens.
Também a nível de associações sociais o género masculino está em maioria, estando oito homens à frente desse tipo de colectividades, contra apenas duas lideradas por mulheres. As mulheres só se destacam a nível das associações ambientais, estando duas a dirigir colectividades nessa área enquanto apenas uma é liderada por um homem. Nas associações desportivas, as 18 existentes no concelho são dirigidas unicamente por homens.

“As mulheres têm um jeitinho especial para resolver chatices”

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