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Cercipóvoa renasceu das cinzas e voltou aos resultados positivos
Para José Gonçalves os bons resultados devem-se a uma gestão rigorosa e a um corte profundo nas despesas

Cercipóvoa renasceu das cinzas e voltou aos resultados positivos

Actual direcção fez o que outras no passado não conseguiram: endireitou as contas de uma associação que todos julgavam condenada a fechar. Nesta entrevista a O MIRANTE, o presidente da associação, José Gonçalves, confirma rescisões com alguns trabalhadores e cortes drásticos nas despesas. Quem hoje ali trabalha viu actualizado o salário e pagos todos os subsídios em atraso.

Há quem fale em milagre financeiro: a Cercipóvoa, instituição da Póvoa de Santa Iria que apoia pessoas com deficiência, saiu de uma situação de quase ruína para lucros mensais que lhe têm permitido amortizar dívida e regularizar a sua situação com os fornecedores e trabalhadores.
Numa altura em que muitas associações se debatem para conseguir sequer pagar os ordenados aos seus colaboradores, como acontece no Centro de Bem-Estar Infantil de Vila Franca de Xira, a Cercipóvoa dá o exemplo com uma gestão que retirou da bancarrota uma casa que esteve prestes a fechar depois de construir instalações milionárias na Póvoa de Santa Iria sem que tivesse capacidade financeira para as pagar.
A direcção actual tomou posse em Setembro de 2015 e José Gonçalves encontrou um passivo de dois milhões e 74 mil euros, incluindo dívidas a fornecedores, bancos, Estado e trabalhadores. Em cinco anos a dívida foi reduzida em 600 mil euros, situando-se actualmente em um milhão e 400 mil euros mas com resultados positivos de exploração a rondar os 200 mil euros por ano. Isto significa que aquela que é uma das maiores instituições particulares de solidariedade social da Póvoa de Santa Iria saiu de uma situação de défices crónicos – perdia 30 mil euros por mês – para um cenário de excedentes orçamentais mensais que lhe estão a permitir pagar o que deve. A este ritmo, garante o actual presidente, a Cercipóvoa vai chegar a 2026 sem dívidas por liquidar.
“Actualizámos os retroactivos dos vencimentos dos trabalhadores, pagámos todos os sete subsídios de férias que estavam em atraso e estamos hoje com todos os ordenados em dia e vamos pagar os subsídios de férias e de Natal este ano com total normalidade”, explica a O MIRANTE.
A inversão do rumo deve-se a uma gestão de maior rigor e a um corte profundo com as despesas, a começar pelo pessoal e passando pelos serviços como água, gás e comunicações, onde se incluiu o fecho da piscina da instituição, que era um luxo que não podia pagar.
“Tivemos de ser incisivos e dizer a verdade aos nossos colaboradores. Em 2017 chegou a estar em cima da secretária do ministro a possibilidade da Segurança Social rescindir os protocolos que tinha connosco por causa do mau funcionamento e pela inviabilidade financeira da instituição. Esse foi o pior momento de todos e obrigou a muito trabalho”, recorda. O mérito, diz o dirigente, é de todos: dos órgãos directivos aos trabalhadores.

Saída de trabalhadores ajudou
Uma das principais poupanças foi obtida na adaptação da força de trabalho às necessidades e que ditou que havia gente a mais para o que precisava de ser feito. De 122 colaboradores a Cercipóvoa passou para 98. “A qualidade do serviço prestado aos utentes é o nosso principal objectivo e estamos hoje a funcionar melhor. Tudo foi feito com muita tranquilidade e foi preciso ser transparente com as pessoas. Elas precisaram de saber exactamente o que estamos a fazer e qual era a nossa estratégia. Não foi fácil mas não tivemos medo de tomar as decisões que eram difíceis”, explica.
Para o dirigente, houve durante muitos anos na instituição uma “inércia prolongada” que não permitia que os problemas se resolvessem. “Éramos uma instituição subsídio-dependente dos dinheiros que iam entrando. Quando vinha uma injecção de dinheiro servia para pagar os ordenados desse ano e não se resolvia o problema de fundo. Não havia outro caminho a tomar senão a redução de custos”, nota.
A actual direcção está eleita para um mandato que acaba em Dezembro de 2022. Até essa data o dirigente acredita que fechará o ano com dívidas abaixo de um milhão de euros. “Em termos financeiros a tormenta desta casa acabou. Está orientada, equilibrada e segura”, garante.
A Cercipóvoa tem um orçamento anual de dois milhões e 500 mil euros e tem quase 700 utentes. É também responsável pelo fornecimento de 500 refeições diárias para as escolas da Póvoa, preparando-se actualmente para aumentar esse número para 750 devido à nova descentralização de competências da educação no município de Vila Franca de Xira.
“O grande problema das IPSS é o amadorismo com que as direcções gerem as instituições e a sua politização. As instituições não podem ser usadas como arma de arremesso político ou local para promoções a cargos políticos. Quem estiver disponível deve ter nas associações uma gestão empresarial. Essa é a única forma de as manter vivas”, defende.

Elogios a Rosinha

A ex-presidente da Câmara de Vila Franca de Xira, Maria da Luz Rosinha, que à data inaugurou as instalações da Cercipóvoa e é hoje secretária da mesa da Assembleia da República, “tem sido uma importante ajuda” na recuperação da instituição, elogia José Gonçalves. “A Maria da Luz foi uma peça fundamental em todo este processo, ajudando a criar a ponte e a ligação com a Segurança Social. Sem o seu apoio isto teria sido mais difícil ou até impossível”, diz.

Visita surpresa da Judiciária

Em 2016 a Cercipóvoa não tinha muitos amigos, diz José Gonçalves. Poucos dias depois de tomar posse recebeu uma chamada de inspectores da Polícia Judiciária (PJ) que estavam a caminho da associação para realizar buscas. “Queriam apurar umas denúncias feitas por um ex-presidente que cá tinha estado sobre o então director-geral, envolvendo alegados aumentos e auto-promoções. O processo acabou arquivado mas valeu-me três horas na sede da PJ em Lisboa a tentar perceber o que estava a acontecer. Foi surreal”, recorda.

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