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Idosa de Aveiras de Cima vive em condições precárias e não quer ser ajudada
Graça Bacalhau desloca-se com a ajuda de uma vassoura enquanto treme de frio

Idosa de Aveiras de Cima vive em condições precárias e não quer ser ajudada

Mulher reside numa casa onde a falta de higiene se sente à distância. Autarca diz que se trata de um caso de saúde pública. Rede de acção social de Azambuja já esgotou as diligências estando o caso entregue ao Ministério Público.


O cheiro que se faz sentir à porta dessa casa, em Aveiras de Cima, permite adivinhar a falta de higiene que se esconde para lá da porta onde não é permitida a entrada. Graça Bacalhau, de aspecto frágil, suja e com roupas velhas desloca-se com a ajuda de uma vassoura enquanto treme de frio. A situação em que vive está a preocupar os autarcas de Azambuja e apesar de já estar sinalizada desde 2017 não se resolve porque, alegadamente, “o filho não permite que as técnicas de Acção Social entrem na casa”, afirma a O MIRANTE a vereadora com o pelouro da acção social da Câmara de Azambuja, Sílvia Vítor (PS).
A autarca refere que se trata de um “caso de saúde pública” que está a ser acompanhado pela rede social onde estão todos os técnicos de saúde e acção social do concelho de Azambuja”, mas a idosa não mostra vontade em colaborar. Depois de várias tentativas de auxílio, inclusivamente na presença da GNR, o caso transitou para a alçada do Ministério Público (MP) no final de 2019.
A septuagenária foi abordada por O MIRANTE no caminho para casa quando seguia acompanhada por dois dos muitos gatos que consigo habitam. Graça Bacalhau mora com o filho mas passa os dias “deitada na cama” ou a deambular pelas ruas. Lembra-se de ter trabalhado como empregada de limpeza e de gostar de se “pôr bonita” mas agora, refere, deixou de ser exigente e não gosta de se queixar. “O chão está sujo. Tem de ser limpo e arranjado”, diz quando se lhe pergunta sobre as condições em que habita.
A vizinhança conhece bem a história de Graça Bacalhau e, por isso, estranham que tenha chegado a este estado de abandono. Há quem diga que costumava andar limpa e bem vestida, na altura em que o marido era vivo. Graça não se lembra há quantos anos ficou viúva e fala bem do filho, dizendo que “trabalha muito, vai às compras e faz a comida”.
O presidente da Junta de Aveiras de Cima, António Torrão (CDU), também está ao corrente da situação da idosa e garante que “tudo tem sido feito para que seja encontrada uma melhor solução de vida”. Mas sem sucesso até ao momento.
“Estamos de mãos e pés atados”, reafirma a vereadora, garantindo que foram esgotadas todas as diligências. “Marcámos-lhe consultas no Centro de Saúde às quais não faltou”, mas o relatório médico, diz a autarca, não deu como provado tratar-se de um caso de demência. “É triste pois sabemos que vive sem higiene absolutamente nenhuma, a arrastar-se pelas ruas, num estado de degradação humana que constrange as pessoas da vila”, diz Sílvia Vítor.

Caso semelhante em Samora Correia

Em Samora Correia existe um caso semelhante de uma idosa que vive desde 2006 rodeada de lixo sem as mínimas condições de higiene. Tal como O MIRANTE noticiou na edição de 27 de Fevereiro, a denúncia foi feita por uma familiar durante a última Assembleia Municipal de Benavente.
Na reunião de câmara de 2 de Março a vereadora com o pelouro da Acção Social, Catarina do Vale (CDU), informou que mais nenhuma diligência pode ser tomada pelo município e que o caso está entregue ao Ministério Público. “Há uma recusa relativamente ao apoio. Tudo o que podíamos fazer foi feito”, referiu.
De acordo com Catarina do Vale, a mulher, de 76 anos, foi recentemente ao hospital onde tomou banho e foi avaliada sem que lhe tenham sido detectados problemas psiquiátricos. Perante as declarações da autarca, o vereador Ricardo Oliveira (PSD) referiu que se ao fim de 14 anos a situação persiste é porque as instituições do Estado falharam e solicitou nova avaliação do caso.

Idosa de Aveiras de Cima vive em condições precárias e não quer ser ajudada

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