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“Um presidente de junta tem de saber ser padre, médico e advogado”
José António Gomes está a cumprir o seu último mandato como presidente da Junta de Vialonga

“Um presidente de junta tem de saber ser padre, médico e advogado”

Casado e com dois netos, José António Gomes, 66 anos, está na recta final como presidente da Junta de Freguesia de Vialonga por causa da lei de limitação de mandatos. Diz sair de cabeça erguida de um cargo que ocupa desde 2009 e com a consciência tranquila de quem deixa trabalho feito. Nunca foi rico mas sempre soube ser feliz e esse, diz, é o segredo para ter uma vida saudável.

Tento sempre acordar de manhã e viver o dia a dia de forma positiva. Encarar cada dia como um desafio que temos de vencer. Nunca fui rico e quando casei, ainda novo, fui pai. Muitas vezes para conseguir dar uma boa alimentação ao meu filho eu e a minha mulher comíamos esparguete com rodelas de chouriço. Havia muitas dificuldades. A renda era alta e para conseguirmos pagá-la tínhamos de fazer esses sacrifícios. Já tive momentos muito difíceis na minha vida mas nunca me deixei ir abaixo. Não sou rico mas tenho saúde e sou feliz e isso é o mais importante.
As rendas de casa são muito altas. Quando vim para Vialonga já era assim. Ainda hoje é muito difícil encontrar uma casa para arrendar. Moro num prédio de três andares com 40 anos e um T2 no terceiro piso, sem elevador, foi agora arrendado por 600 euros por mês. Como é isto possível? Chegou-se a preços exorbitantes. Somos a freguesia que mais está a crescer no concelho e temos espaço para novas urbanizações, mas temos de ter cuidado para não ficarmos transformados numa segunda Póvoa de Santa Iria, com bastantes prédios.
Quando me candidatei à junta era conhecido como o marido da Paula do talho. Hoje em dia já mais gente me conhece mas gostava mais do anonimato. Temos sido uma junta aberta à população. Trabalhei no gabinete de engenharia da Central de Cervejas até vir para a junta de freguesia em 2009. Vou a meio do terceiro mandato e por lei não me posso recandidatar. Há quem me peça para continuar mas o meu tempo terminou. Estou numa idade em que tenho de dar espaço a gente jovem. Saio com a sensação de dever cumprido, criámos uma boa dinâmica em Vialonga e metemos a vila no mapa.
Sentimos que a câmara municipal não nos apoia tanto como poderia. Temos um orçamento de 850 mil euros que é muito baixo para uma freguesia com 22 mil habitantes e 18 quilómetros quadrados. Temos uma área de varrição enormíssima. Fazemos omeletes sem ovos. É uma situação muito apertada. A câmara vai passar o orçamento com saldo de gerência de 25 milhões de euros. E interrogo-me o que se poderia fazer com mais algum dinheiro…
Reconhecemos que há investimentos que têm vindo mas com algum atraso. Temos obras que se arrastam há anos. A escola do Gentil vai ser ampliada mas face ao crescimento que a freguesia está a ter claramente não vai chegar nos próximos anos. Há muito que esperamos por um novo centro de saúde. Das piscinas já nem vale a pena falar porque é uma promessa da câmara com décadas.
Tenho pena que muita gente ainda não saiba quais são as competências da junta e da câmara. A junta é o serviço que está mais perto e onde todos reclamam. Temos muitas dificuldades mas tentamos fazer o melhor que podemos. Saio numa altura em que ser autarca é muito difícil. Tenho pena de viver num país onde ainda há uma grande falta de civismo, por exemplo, de gente que atira o lixo para o chão. As redes sociais ligaram a junta aos moradores mas perdeu-se com isso o contacto físico.
Irrita-me não conseguir fazer tudo o que a população merece. O trabalho de um autarca nunca está concluído. O presidente de junta tem de saber ser o padre, o médico e o advogado. Chegam aqui pessoas que desabafam e contam tudo da sua vida. Gente que vive com dificuldades e precisa de apoio e soluções. Quando têm problemas é aqui que desabafam. Este é um trabalho onde temos de encontrar soluções.
Vialonga é hoje uma terra segura e pacata onde vale a pena viver. Hoje em dia tudo o que está junto ao rio é para melhorar e concordo com isso. Mas é preciso não nos esquecermos destas freguesias que estão no interior do concelho. Como estamos esquecidos isso tem-nos causado alguns desafios. Chegou a hora das freguesias do interior serem mais bem apoiadas pela câmara e isso é um factor importante para onde se deve olhar. Tenho esperança que se consiga até ao final de 2021 a conclusão do novo centro de saúde e da requalificação da Escola Básica dos 2º e 3º Ciclos de Vialonga.
Nos tempos livres gosto de passear e todos os dias estou com o meu neto. Gosto muito de ir à pesca mas desde que estou como presidente da junta nunca mais fui. Mesmo assim ao fim-de-semana gosto de sair com a minha mulher e ir dar uma volta, por exemplo, à zona de Setúbal e às praias do Sado. Damos sempre uma voltinha para recuperar energias. Quando sair da junta vou dedicar-me à pesca, tenho um passe social muito barato e não vou parar. Não sou homem de estar sentado num banco de jardim. Gosto de ler e vou aproveitar para viajar.

“Um presidente de junta tem de saber ser padre, médico e advogado”

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