Crónicas do Brasil | 09-04-2023 11:20

O País dos Pedintes

Vinicius Todeschini

Fora o governo federal, conquistado com grande esforço, a Esquerda não governa o país (:) o sul e o sudeste do país estão nas mãos dos neoliberais: em Minas Gerias temos Romeo Zema, o empresário-governador; em São Paulo, Tarcísio de Freitas, um político criado por Bolsonaro; em Santa Catarina, Jorginho Melo, que suspendeu todas as nomeações dos aprovados em concursos públicos estaduais; no Paraná, Ratinho Júnior (filho do apresentador popularesco Ratinho). Já o estado do Rio de Janeiro dispensa qualquer comentário, porque seis dos seus governadores foram presos ou afastados nos últimos quatro anos.

Nunca tantos pediram tanto a bastantes que, aliás, passam sufoco para não ficarem na mesma situação. O Brasil se transformou, pouco a pouco, em um país de pedintes. O número de pessoas nos cruzamentos das ruas e avenidas começou a crescer, gradativa e constantemente, e, quando se viu, tornou-se trivial. “A Direita Civilizada” se nega a aceitar a culpa por qualquer problema social e, muito embora, tenha assumido abertamente o seu apoio às pretensões um golpista ainda se crê democrata, mas se somarmos àquele que pensamos ser com aquele que os outros nos pensam, o resultado não é o que realmente somos e nunca chegaremos a um resultado. Não existe matemática para o que não tem medida.

A Polícia Federal descobriu que Bolsonaro pediu a Anderson Torres, o seu ex-ministro da Justiça, para pedir a Superintendência da Polícia Federal na Bahia e à PRF (Polícia Rodoviária Federal) para interromper o fluxo de eleitores da Lula onde ele foi mais votado no primeiro turno. O diretor-geral da PRF, Silvinei Vasques, atendeu prontamente o pedido. Este cidadão assumiu a sua face bolsonarista em um post no Instagram, na época das eleições, e o apagou logo depois, mas a internet não perdoa. A impressão é que pedir está, tacitamente, aceito por todos e não causa mais constrangimentos a ninguém, porque, além, da reciprocidade existem milhões de novos seguidores. Meninas e meninos pedem dinheiro nas redes sociais em trocas de fotos e vídeos, advogados pedem à inocência dos seus clientes presos em flagrante, políticos pedem dinheiro para liberar apoios e assim por diante... O país se transformou em uma grande delivery e, “o toma lá dá cá”, que já inspirou muitos sambas cheios de picardia e malemolência tornou-se um dos símbolos da nossa decadência. É o fim da “Era Naif” no Brasil.

Muito me acusam de defender os grupos de esquerda, mas, na verdade, tenho sérias críticas à sua atuação e, principalmente, ao grupo que ficou no poder por 16 anos -com Lula e Dilma- e agora retornou com Lula na presidência. São muitos erros cometidos, mas como o espaço que tenho é pequeno para escrever sobre tudo que percebo, priorizo o que é uma ameaça real à democracia e aos direitos da maioria. “A Direita Civilizada” se aliou à Extrema-Direita usando como desculpa o antipetismo e apoiou todo a sorte de fake news e ações desses grupos, inclusive à condenação sem provas do próprio Lula. Sergio Moro foi o ídolo de pés de barro que quebrou os pés nesta empreitada, só não quebrou a cara porque ela é dura e porque no Brasil, mas não só aqui, pessoas como ele continuam com espaço midiático e amplo apoio público. Trump no EUA é um fenômeno americano e mundial, lá, assim como Bolsonaro é regional e universal, aqui, o que confirma o alto grau de insanidade desses tempos.

Fora o governo federal, conquistado com grande esforço, a Esquerda não governa o país (:) o sul e o sudeste do país estão nas mãos dos neoliberais: em Minas Gerias temos Romeo Zema, o empresário-governador; em São Paulo, Tarcísio de Freitas, um político criado por Bolsonaro; em Santa Catarina, Jorginho Melo, que suspendeu todas as nomeações dos aprovados em concursos públicos estaduais; no Paraná, Ratinho Júnior (filho do apresentador popularesco Ratinho) e no Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, que disputou com o ex-governador de São Paulo, João Dória, às prévias do PSDB para à presidência. Leite surpreendeu a todos, quando em plena campanha e em um programa de repercussão nacional, assumiu a sua orientação sexual. Muitos acharam que foi uma jogada política, outros, que era uma forma de evitar ataques dos adversários políticos assumidamente homofóbicos. Fosse qual fosse o seu escopo ele conseguiu quebrar um tabu e se reelegeu governador, mesmo tendo renunciado ao mandato para tentar concorrer à presidência. Já o estado do Rio de Janeiro dispensa qualquer comentário, porque seis dos seus governadores foram presos ou afastados nos últimos quatro anos.

Trump pretende transformar as 34 acusações contra ele em mais um palco para um velho ator medíocre, que não pode nem ser chamado de mau-caráter, porque para isso seria necessário ter um caráter. Bolsonaro aqui age da mesma forma e representa o mesmo ideário, ou seja: mais poder para os mais ricos e o fim de qualquer intervenção do Estado para salvar os afogados da enchente capitalista. Rosângela Moro, devidamente paramentada com uma bolsa Gucci, defendeu, em um shopping de alto padrão de São Paulo, o fim do assistencialismo de Estado. Vejam vocês: ela se elegeu, assim como o seu marido, para um mandato federal; ele senador, ela deputada federal, ele pelo estado do Paraná e ela por São Paulo, mas os dois defendem, invariavelmente, a Iniciativa Privada, como se ela fosse a responsável por todo o sucesso e o Estado fosse o responsável por todo o fracasso brasileiro. Ledo engano, a separação entre o público e o privado nunca existiu de forma clara e definida, ela é articulada em acordos e costuras que recortam o mundo, é assim no planeta inteiro e um não existe sem o outro, a não ser nos discursos “liberais” que pregam liberdade enquanto praticam a escravidão. Talvez por isso, Trump e Bolsonaro não estimularam a invasão da Bolsa de Valores e sim do Capitólio e da Praça dos Três Poderes.

Vinicius Todeschini 07-04-2023

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