Serranos, Campinos e Bairrões - Maneiras de Dizer dos Serranos
Mas antigamente, o olhar de certas mulheres bastava para estragar a massa, azedar a coalhada ou parar um relógio!
Maneiras de Dizer dos Serranos1
Cobranto
Por quebranto; mas nunca significa prostração.
O abatimento físico é que eles atribuem ao cobranto, que designa uma acção que se sofre e nunca um estado.
Nalguns arredores (e nas cidades mais civilizadas) costumam colocar, detraz das portas, uma ferradura já servida (se for do pé esquerdo, melhor); e nas possilgas uma armação de carneiro. Na Serra de Santo António, porém, não se
acredita nessas coisas a não ser por ironia.
–Deu-te o cobranto, cachopa! Trata de ti, trata de ti! Olha qu´isso é muito ruim. –A mim ninguém me dá o cobranto, só se fôr uma pessôa qu´ê cá sei! –Ah desavergonhada!
Mas antigamente, o olhar de certas mulheres bastava para estragar a massa, azedar a coalhada ou parar um relógio!
Danças
Não eram muitas as que os Serranos conheciam: a valsa rasteira, a valsa pulada, a valsa a dois passos, a choutiça, o solo inglês, o verdegaio, o balharico (espécie de vira), o vira e o fandango, que tinha cultores eméritos.
Havia também quem dançasse o fado batido e o fado chulipa.
A valsa rasteira era a valsa propriamente dita; a valsa pulada era a polca; e a valsa a dois passos era a mazurca.
Deus te faça um santo
Esta é a fórmula ritual com que as pessoas mais velhas retribuam o pedido da benção que lhe dirigem os mais novos.
Quando um sobrinho passa por pé do tio, o neto pelo avô, o afilhado pelo padrinho, o filho quando avista os pais, ao levantar da cama, diz (ou dizia, antigamente): “–Deite-me a sua bênçoa; bote-me a sua bênçoa; faz favor de me
deitar a sua bênçoa”.
E a pessoa a quem o pedido se dirige, responde: “–Deus te faça um santo”, ou mais simplesmente: “–Faça um santo!”
1 Escrito por Francisco Serra Frazão em 1936.