uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante
As histórias de quem conhece o Castelo do Bode como ninguém

As histórias de quem conhece o Castelo do Bode como ninguém

Está há 35 anos ao serviço da central hidroeléctrica e é o mais antigo trabalhador da empresa nesse centro. O electricista Vítor Rendeiro costuma brincar ao dizer que só lhe faltou nascer ao pé das turbinas, pois a mãe e o pai também ali trabalharam. Dos mais de 80 trabalhadores, já só restam nove. Agora, as máquinas fazem (quase) tudo sozinhas. Uma história de vida em dia de visita à barragem ribatejana.

Quando a barragem de Castelo do Bode foi inaugurada, em Janeiro de 1951, Vítor Rendeiro ainda não tinha nascido. Mas os seus pais já, e foi no Centro de Produção Tejo-Mondego que encontraram, ambos, emprego. Como outras famílias no meio século que se seguiu. Para acolher os moradores, a EDP - proprietária da barragem - mandou construir um bairro onde chegaram a morar 211 famílias. “Costumo dizer que nasci na central, porque a minha mãe fazia limpezas aqui e passou toda a gravidez a trabalhar”, conta Vítor, hoje com 57 anos, e o mais antigo trabalhador da central hidroeléctrica. “Tenho 35 anos de profissão”, conta a O MIRANTE o electricista, que conhece o centro de Produção Tejo-Mondego como a palma da sua mão.
Dos cerca de 80 trabalhadores que se chegaram a cruzar nos pisos superiores e inferiores da central restam nove - e actualmente estão em funções apenas sete. Foram os custos da modernização: cortou-se em meios humanos, que deixaram de ser necessários. Vítor percebe a necessidade de evolução, mas recorda os tempos movimentados com saudade. “Tínhamos tudo aqui: um médico, uma enfermeira e até uma parteira”, conta.
A EDP construiu uma escola e contratou dois professores e ainda pagava o transporte até Tomar para onde iam os filhos dos trabalhadores aprender um ofício. Uma profissão que fosse útil à empresa, claro: electricista e serralheiro eram, normalmente, as profissões escolhidas. O que resta, hoje, desses tempos, transformou-se em museu: há peças antigas em vitrines, como antigas (e grandes) máquinas de calcular, telefones e até alguns dos primeiros capacetes, utilizados para segurança dos trabalhadores. Também uma antiga carteira da escola primária, um velho globo terrestre e até a cadeira de partos, utilizada pela parteira para ajudar as mulheres de Castelo do Bode - que trabalhavam ou eram familiares de quem lá trabalhava - a darem à luz.
Vítor Rendeiro ainda vive numa das casas da empresa, mas os que chegam de novo - como Rita Machado, engenheira do ambiente - preferem morar em Tomar. “Gosto muito de trabalhar na barragem, mas sou de Lisboa e tenho saudades da família”, confessou a O MIRANTE.
Para Vítor, a central faz parte do seu ADN. Conhece todos os cantos, os lugares perigosos, sabe de cor medidas e procedimentos, os de antes e os de agora. Percebe as razões de não restarem sequer uma dezena de trabalhadores. “Antigamente, em caso de intempérie, se houvesse uma falha na corrente eu demoraria 35 minutos a restabelecer a energia e tinha de usar a força dos braços. Agora, demoro apenas cinco segundos e só tenho de carregar num botão”.
Dentro da enorme central, equipada com três gigantescas turbinas - basta uma estar em funcionamento para o ruído se tornar ensurdecedor - Vítor escolhe o canto favorito: a sua oficina de trabalho, onde procede a pequenas reparações no equipamento. Será o último da sua família a vestir as cores da EDP ou a conhecer, sem consultar manuais, as manhas do edifício.
Devido à sua antiguidade e experiência, é ele que, em conjunto com um engenheiro do ambiente da EDP, guia as visitas pela central [ver caixa]. E nunca se cansa de repetir as mesmas histórias. “As pessoas do concelho não visitavam a central, mas começámos a chamá-las. Já houve uma altura em que estávamos sempre abertos aos fins-de-semana para receber os visitantes, agora organizamos visitas, mas as pessoas também podem propor-se para uma visita”, explica.

Como visitar a central hidroeléctrica

O MIRANTE acompanhou uma visita ao Centro de Produção Tejo-Mondego, organizada pela EDP em parceria com o Centro de Ciência Viva de Constância. “Temos organizado muitas visitas, que podem ser consultadas e solicitadas na página da empresa [http://www.a-nossa-energia.edp.pt/ - em Pedidos de Visita a Centros Produtores da EDP] ou nos sites dos Centros de Ciência Viva”, explicou ao nosso jornal Rita Machado, a engenheira do ambiente que acompanhou Vítor Rendeiro nesta visita.
Durante cerca de três horas, a equipa da EDP explica como é feito o aproveitamento hidroeléctrico da Barragem de Castelo do Bode, para depois exemplificar com uma visita aos equipamentos. Pelo caminho, respondem a todas as perguntas realizadas pelos visitantes, que descobrem, in loco, onde nasce a energia e como esta é transportada até suas casas. Alunos de escolas e universidades são os principais grupos de visitas, mas cada vez mais famílias e habitantes do concelho se deslocam à barragem para conhecer o interior da central. André Chico, por exemplo, é de Tomar mas dá aulas de ensino básico numa escola de Lisboa. Já tinha visitado o Centro de Produção Tejo-Mondego com duas turmas da capital, mas aproveitou as férias escolares para levar os filhos - os gémeos Tiago e Rita, de 9 anos - a conhecerem a central. Apesar da imponência das turbinas e da opulência da antiga sala de Comando, o que impressionou Tiago foi mesmo a História: “Gostei muito de ver as coisas antigas”, confessou a criança, que nunca tinha visto um telefone sem fios... ou sem acesso à Internet.

Barragem de Castelo do Bode em números

* Foi construída com o objectivo de produzir energia eléctrica e a albufeira é actualmente o principal recurso abastecedor de água potável a Lisboa e a muitos outros municípios. Fornece água a cerca de dois milhões de habitantes
* Situa-se entre os concelhos de Tomar e Abrantes e foi inaugurada a 21 de Janeiro de 1951. Um investimento de 600 mil contos, que demorou cinco anos a construir e dez meses a encher
*Possui três gigantescas turbinas que produzem energia eléctrica: cada um dos geradores eléctricos tem uma potência de 140 milhões de “watt”
* A altura máxima do paredão é de 115 metros
* A bacia hidrográfica tem 4 mil quilómetros quadrados

As histórias de quem conhece o Castelo do Bode como ninguém

Mais Notícias

    A carregar...

    Capas

    Assine O MIRANTE e receba o Jornal em casa
    Clique para fazer o pedido

    destaques