O dia em que a ponte de Coruche caiu contado pelo fotógrafo que registou o momento
Manuel Ribeiro é o único fotógrafo que há quarenta anos registou a queda da Ponte General Teófilo Trindade. Do acidente não resultaram mortes nem feridos. O fotógrafo foi depois convidado a fotografar a construção da nova ponte, mas desses momentos não tem uma única fotografia.
Eram cerca das 10h00 do dia 26 de Abril de 1979, quando o fotógrafo Manuel Ribeiro estava a tirar uns retratos, na loja de fotografia onde trabalhava. A electricidade falhou e começou a ouvir gritos na rua. “A ponte caiu”, era a frase mais repetida entre a população. Pegou na máquina fotográfica e correu para perto da Ponte General Teófilo Trindade, sobre o Rio Sorraia, na Estrada Nacional (EN) 114. Quando chegou ao local, ainda meio incrédulo pelo que ia ouvindo nas ruas, viu um cenário que parecia surreal. Perante uma amálgama de ferro ninguém tinha morrido.
O tabuleiro da ponte cedeu quando uma grua de grandes dimensões embateu na estrutura metálica. A objectiva de Manuel Ribeiro captou o momento em que as pessoas que atravessavam a ponte a pé fugiam da confusão. A sorte, diz o fotógrafo de Coruche, foi que o Rio Sorraia estava vazio e as pessoas conseguiram sair pelo próprio pé, sem qualquer ferimento grave. “Se calha o rio estar cheio, tinha sido uma tragédia como o caso de Entre-os-Rios”, recorda Manuel Ribeiro. O motorista do camião também saiu ileso. Era o único veículo a atravessar a ponte naquele momento.
Manuel Ribeiro é o único coruchense que tem fotografias do acontecimento e, aliás, por ser o único profissional no activo na altura, a empresa que ganhou a empreitada para construir a nova ponte, recorreu aos seus serviços para fazer a reportagem fotográfica dessa reconstrução. Manuel Ribeiro lamenta não ter um único retrato das obras, porque por acordo entre as partes, foi tudo entregue à empresa de construção civil Teixeira e Duarte.
Durante o dia as pessoas foram passando pelo local para verem o que tinha sucedido, mas sem grande alarido, uma vez que se aperceberam que não havia feridos. A Ponte Rodoviária de Coruche sobre o Rio Sorraia tinha sido inaugurada em 16 de Agosto de 1930, na presença do então presidente Óscar Carmona. Foi a maior de todas as pontes que cruzam o Sorraia. O que restou da ponte foi removido e foi instalada uma ponte militar a título temporário, a cerca de um quilómetro, para as pessoas poderem fazer a circulação pedonal.
A actual Ponte General Teófilo Trindade demorou, segundo Manuel Ribeiro, cerca de oito anos até ficar totalmente concluída.
Manuel Ribeiro começou a fotografar à luz do candeeiro a petróleo
Manuel António Ribeiro é o único fotógrafo profissional com loja aberta em Coruche, a Foto África. O gosto pela arte de fotografar começou desde muito cedo e conta que aos 13 anos iniciou a actividade, ainda amador, à luz de um candeeiro de petróleo.
Ao longo do tempo foi aperfeiçoando a técnica e começou a trabalhar como empregado na Foto Sorraia e depois na Foto Luz e Arte. O serviço militar em Angola, entre 1969 e 1972 travaram a sua progressão. Mas assim que regressou da guerra colonial começou a trabalhar por conta própria. O nome do estúdio fotográfico é uma homenagem à sua passagem pelo continente como combatente. Desde esse tempo até agora foram 47 anos dedicados à fotografia. Conseguiu aproveitar os momentos áureos do serviço. Hoje em dia diz que só aguenta a loja por carolice e por causa da esposa. “Já não há casamentos nem baptizados. As pessoas agora juntam-se e não baptizam os filhos e esses trabalhos eram o sustento da loja. Isso e as revelações, mas as máquinas digitais e os telemóveis vieram matar o que restava do nosso trabalho”.
O fotógrafo está já reformado, mas não consegue deixar a rotina de ir abrir a loja e atender os poucos clientes que aparecem. Restaurar retratos antigos é uma das actividades que lhe dá mais prazer.