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No Rancho da Azambuja não há margem para modernices
Rancho festejou 63 anos de vida e desfilou pelas ruas de Azambuja

No Rancho da Azambuja não há margem para modernices

Quem quer dançar no grupo não pode ter unhas pintadas, tatuagens ou piercings à mostra nem usar relógio ou pulseiras durante as actuações. A intenção é replicar o mais fielmente possível os tempos de outrora. O MIRANTE esteve na sede do Rancho Folclórico Ceifeiras e Campinos de Azambuja no domingo durante as celebrações do seu 63º aniversário.

As enérgicas gémeas Lara e Mariana, de quatro anos, de totós e vestidas à época, vão agitando as saias, ao mesmo tempo que Raquel Mota, de 21 anos, vai dando os últimos retoques nas tranças do cabelo. A jovem já sabe que tem de seguir à risca todas as regras quando enverga o traje e actua pelo Rancho Folclórico Ceifeiras e Campinos de Azambuja. É que o grupo continua a tentar manter o mais fielmente possível a representação de outra época e não abre excepções para unhas pintadas, piercings ou brincos.
É domingo, 23 de Fevereiro, e a sede do rancho vai-se enchendo de elementos do grupo. É ali que a maioria se traja antes do tradicional desfile que antecede a actuação no Largo do Município nesse dia de festa. A colectividade celebra 63 anos e está de boa saúde, como o presidente, Carlos Sousa, fez questão de destacar a O MIRANTE momentos antes da celebração. O único problema, revela o dirigente, é a pouca adesão de crianças e jovens e, sobretudo, de rapazes para fazer os pares.
Os rissóis e croquetes vão enchendo as mesas de madeira da sede e na cozinha as panelas vão sendo colocadas criteriosamente numa bancada com pitéus que deixavam água na boca. Todos andam numa roda-viva para que tudo esteja devidamente preparado para o lanche. Entre algumas anedotas e dois dedos de conversa pelo meio os rapazes do grupo vão-se ajudando a colocar a famosa cinta, típica do campino e do forcado.

Os rapazes têm vergonha de dançar em público
“De vez em quando parece que passa aqui o barbeiro, mas não me importo. Sabemos que estamos a representar uma época e temos de respeitá-la”, afirma Vasco Carvalho, de 15 anos, que está a frequentar o 9º ano de escolaridade na Azambuja. Desde os cinco anos no rancho, juntamente com a mãe, o irmão e a prima, o rapaz conta que o problema da falta de jovens nem passa tanto pelos fins-de-semana comprometidos nem pelas regras de não se poder apresentar com adereços, tatuagens ou piercings. É mais a vergonha de dançar em público.
“De início, quando entrei, também me senti constrangido, mas tudo passou e hoje gosto muito de estar aqui”, revela Vasco Carvalho, que se apresenta com o traje de trabalho do campino, de calças, colete e barrete escuro. A maior dificuldade, confessa, é mesmo os relógios e as pulseiras que tenho sempre de tirar no dia.
Também Raquel Mota tem de se preparar antes de se trajar. No dia anterior tira o verniz das unhas e os piercings que tem nas orelhas e no próprio dia da actuação é a vez das pulseiras e brincos que tanto gosta de usar. “Não me faz confusão nenhuma. Já estou habituada e faz todo o sentido”, garante a jovem ao mesmo tempo que vai fazendo o laço no avental de uma colega. “É giro andar no rancho e divertimo-nos imenso. Somos muito amigos”, afirma.
Raquel está no rancho folclórico há 13 anos. Foi a mãe, que também pertence ao grupo, que a levou um dia a um ensaio e, a partir daí, o bichinho ficou. E se, ao início, tinha alguma vergonha em dançar com o tempo tudo desapareceu. “Só temos de vir ao ensaio na sexta-feira à noite e ir actuar alguns sábados. No resto do tempo podemos fazer o que quisermos”, diz a jovem.
É no museu e sala de ensaio do rancho que a maioria dos elementos se traja. Um espaço que vai acumulando memórias e que a direcção do rancho faz questão de manter como antigamente. É que a sede do rancho está num local já por si com história, no antigo matadouro da vila.
A sede ocupa este espaço há muitos anos, entretanto ampliado e onde foi criada uma cozinha toda equipada e um espaço de refeições para receberem outros grupos. O rancho, além do apoio anual dado pela câmara, vive do dinheiro angariado nos eventos por si organizados e pelas permutas, recebendo outros ranchos na sede, pelo que ter um espaço condigno é fundamental.

Carlos Sousa acompanhado pelas únicas crianças do rancho, as gémeas Lara e Mariana Santos

Rancho infantil ficou sem pares

Fazer renascer o grupo infantil “Os Rapazes da Grade e Raparigas da Monda” é um dos desejos do presidente do Rancho Folclórico da Azambuja que actualmente conta apenas com duas meninas, Lara e Mariana Santos. Carlos Sousa explica que o rancho infantil tinha 15 elementos, mas as crianças deixaram de vir e agora contam apenas com as gémeas, que têm de dançar no Rancho Folclórico Ceifeiras e Campinos de Azambuja.
O grupo é actualmente constituído por uma média de 50 elementos das mais diversas idades, contando com a parte dos bailadores e tocatas. Olímpio Silva, com mais de 80 anos, é o elemento mais velho do grupo e integra a parte da tocata. É dos poucos que pertence ao rancho desde a sua fundação.

No Rancho da Azambuja não há margem para modernices

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