No Agrupamento Gil Paes de Torres Novas aprende-se a pedalar desde pequenino
O hábito de ensinar as crianças a andar de bicicleta tem vindo a perder-se nas famílias e hoje são cada vez menos as que o sabem fazer. O Agrupamento de Escolas Gil Paes quer contrariar os números e pôs em marcha um projecto que ensina os mais novos a pedalar.
A cada duas semanas cinco centenas de alunos do Agrupamento de Escolas Gil Paes, em Torres Novas, passam a manhã ou a tarde sobre rodas. Uns põem à prova a sua habilidade nas provas de gincana enquanto outros tentam manter o equilíbrio e dar as primeiras pedaladas. O objectivo, explica Paulo Mourão, um dos três professores responsáveis pelos projectos Aprender a Andar de Bicicleta e Desporto Escolar Sobre Rodas, é que todos cheguem ao final do ano lectivo a saber andar bem de bicicleta.
“Aprender a andar de bicicleta no seio da família é uma prática que está a desaparecer. Constatou-se a nível nacional que apenas 50% dos alunos sabia andar e se descêssemos na idade baixava para os 30%, ou seja, apenas um em cada três é que sabia”, afirma o professor de educação física salientando que era urgente contrariar estes números e começar pelos mais pequenos.
Diego Duarte tem quatro anos e é uma das muitas crianças do Centro Escolar Visconde de São Gião que está a aprender a manter o equilíbrio numa bicicleta sem pedais. Com os pés no chão e mãos no guiador arranca sem grande pressa numa corrida onde nenhum dos participantes se parece interessar por cortar em primeiro a linha da meta. Estão a divertir-se e isso basta-lhes apesar dos desequilíbrios os deixarem inseguros. “Ao início alguns choravam quando caíam mas agora o que querem é voltar rapidamente para cima da bicicleta”, assegura a educadora, Judite Silva, destacando que reconhece a este projecto uma enorme importância no ganho de autonomia e confiança.
Brigite Gomes, professora de Educação Física responsável por ensinar esta turma, alerta que grande parte das crianças apresenta descoordenação e pouca agilidade, fruto de terem cada vez menos experiências que envolvam a componente motora. Mesmo em actividades menos exigentes como, por exemplo, a corrida demonstram fragilidades ao nível da coordenação. “Quando comecei nesta turma apenas duas crianças eram capazes de andar de bicicleta autonomamente, hoje temos oito a fazê-lo”, afirma.
Além do desenvolvimento ao nível motor, a directora do agrupamento, Isilda Pereira, destaca que este projecto contribuiu para que os alunos se libertem, por momentos, dos telemóveis e de outros hábitos sedentários. “Comprovamos que esta actividade – pelas regras e energia que obriga a gastar – acaba por disciplinar alunos que tinham comportamentos desadequados na sala de aula”, acrescenta.
Receio dos pais atrapalha
Madalena Gomes, aluna do quarto ano, é a única menina do grupo que mostra mais habilidade em cima da bicicleta que lhe foi oferecida pela avó. Tem a vantagem, explica, de ter sido ensinada cedo pelos seus pais ao contrário de outros colegas. Mas nem por isso desvaloriza as aulas dos professores Paulo Mourão e Sérgio Galvão. “É muito divertido e desafiante, estamos sempre a aprender coisas novas”, diz antes de confessar que gostava de ir para a escola de bicicleta.
O agrupamento chegou a lançar o projecto “Sempre a Pedalar” que pretendia colocar os alunos a irem para a escola de bicicleta, mas acabou por não ter sucesso porque, dizem os professores, os pais têm receio em deixar os filhos andar sem supervisão, o que se compreende por não haver percursos cicláveis que ofereçam a segurança desejada. Mas como desistir não está nos planos do agrupamento vai ser lançado antes do final do ano lectivo o dia da mobilidade ciclável e um passeio que vai envolver pais e filhos. “Temos a noção que este processo leva o seu tempo mas acreditamos que poderá ter frutos a longo prazo”, sublinha Brigite Gomes.
Gil Paes é o agrupamento com mais bicicletas do país
O projecto começou há três anos com poucas bicicletas mas a direcção e restante comunidade escolar empenharam-se em dar a volta. Com a ajuda da Câmara de Torres Novas – que facultou 61 bicicletas – mas também da população local, o agrupamento é o que tem mais bicicletas à disposição dos alunos, a nível nacional.
As 213 bicicletas nas várias escolas do agrupamento, que tem dois mil alunos, são alvo de vistorias e reparações sempre que se justifica. Para isso recebem do município um apoio anual de dois mil euros, que lhes permite pagar ao mecânico de bicicletas Rui Maia, responsável por garantir que todo o equipamento está em condições para ser utilizado, quer no projecto de ensino aos mais novos quer no Desporto Escolar Sobre Rodas implementado no âmbito da Estratégia Nacional para a Mobilidade Activa Ciclável.