Implacável Manuel Serra d’Aire
A geringonça PS/PCP em Tomar parece que ficou meio avariada com a renúncia aos pelouros de um vereador socialista, que se terá passado para o lado do inimigo. A coisa está tão tremida para a coligação de esquerda que o vereador comunista teve que sair a terreiro para defender a sua dama, no caso a presidenta socialista Anabela Freitas. Um facto histórico e que evidencia que por detrás de um carrancudo bolchevique pode haver um gentil e garboso cavaleiro andante.
Aliás, esta experiência inédita que se vive no país, com PCP e Bloco de Esquerda a apoiarem um Governo, parece que amoleceu o coração dos comunistas e da esquerda radical, até há pouco aguerridos contestatários de tudo o que produzia a governação do país. Os sindicatos estão parados, as greves quase não existem e, recentemente, até se ouviu uma comissão de utentes da saúde a pedir ao Governo a recondução da administração do Centro Hospitalar do Médio Tejo, a quem teceu rasgados elogios. E pensava eu, na minha proverbial inocência, que as comissões de utentes só serviam para denunciar, contestar e reivindicar.
Mais grave ainda: no teu último email mencionaste de raspão o ilustre tomarense Mário Nogueira e de repente dei conta do desaparecimento súbito desse intrépido sindicalista dos professores, que provavelmente foi raptado por marcianos. A verdade é que se ele por cá estivesse, depois da bagunça no início do ano lectivo por causa da falta de auxiliares nalgumas escolas, no mínimo, o bigodudo sindicalista já teria pedido o linchamento do ministro da Educação.
Como não pediu ele nem as esquerdas, andam os de direita a fazer o papel reivindicativo para o qual, diga-se, não têm treino nem grande vocação. Basta ouvir o Passos Coelho ou a Assunção Cristas. Já o presidente da Câmara de Santarém, o social-democrata Ricardo Gonçalves, não fez as coisas por menos e há uns dias exigiu ao Governo socialista que devolva à autarquia mais de dois milhões de euros que esta suportou pelo Estado em matéria de educação nos últimos oito anos.
Porquê agora e não há dois ou três anos, quando estava o seu partido no poder, é fácil de explicar: na altura, a esquerda tinha a exclusividade em matéria de exigências e reclamações e parecia mal um autarca do PSD pisar esse chão sagrado. Entretanto o mundo mudou (e muito!) e já só resta saber onde é que isto vai parar. Um dia destes temos banqueiros a manifestarem-se e à briga com a polícia de choque e um cordão de estivadores a garantir a segurança da Assembleia da República.
As praxes académicas cá pelo Ribatejo deixaram de estar na ordem do dia desde que a malta da Agrária de Santarém foi proibida de despejar bosta na cabeça dos caloiros. Diz quem sabe que esse era um tónico capilar de elevada qualidade e a verdade é que, durante estes anos todos, não soube de ninguém que processasse os praxadores por ter ficado careca. Agora, diz-me um amigo que vive perto do Politécnico de Santarém, nestas primeiras semanas de “aulas” os alunos passam a vida a ensaiar cânticos e a apanhar bezanas. É de dia e de noite, de semana e ao fim de semana. O que nem está mal pensado: se depois de se formarem não conseguirem arranjar emprego, sempre podem aderir a uma claque de futebol. Experiência já levam com fartura.
E com esta me vou. Saudações académicas do
Serafim das Neves