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Rosto do Festival de Gastronomia é “um pisco” à mesa e com pouco jeito para a cozinha

Rosto do Festival de Gastronomia é “um pisco” à mesa e com pouco jeito para a cozinha

Come pouco mas come de tudo e confessa que não tem grande habilidade para cozinhar. Luís Farinha, vereador da Câmara de Santarém, é o homem que coordena a produção do Festival Nacional de Gastronomia, evento onde tem imprimido mudanças significativas desde há dois anos. O programa estende-se até 1 de Novembro na Casa do Campino.

Está aí mais uma edição do Festival Nacional de Gastronomia. É mais do mesmo ou há receitas novas para provar? Há muita coisa nova para provar entre receitas e outras coisas. Pretende-se que o festival seja durante 12 dias um espaço de experiências e de grande promoção da gastronomia. Nos últimos dois anos iniciámos um processo de modernização do festival e este ano vamos continuar.
O festival estava parado no tempo? Não diria isso. O festival era muito rígido no formato. Mas ao dizer isto não estou a criticar o formato, pelo contrário, está aqui implícito um certo elogio. Porque foi este formato que permitiu que o festival granjeasse a fama e a importância que passou a ter no país.
Mas era preciso mudar alguma coisa…Nós assumimos responsabilidades na 34ª edição. Volvidos 34 anos, naturalmente que o formato se desgasta. Além disso havia a concorrência, pois hoje não há nenhum município que não tenha um festival de gastronomia.
E o perfil dos consumidores também foi mudando. Como é óbvio. E desse ponto de vista havia que modernizar o festival adaptando-o aos novos hábitos de consumo. As pessoas hoje já não se sentam três ou quatro horas a comer pratos consistentes, como acontecia há 30 anos. Hoje há mais preocupações com a saúde. Tudo isto acaba por condicionar os hábitos e o festival tinha naturalmente que acompanhar essa tendência.
Qual foi para si a mudança mais relevante? Uma é a aposta na exposição dos agroprodutos. Paralelamente destaco a introdução da figura dos chefs. Já por aqui tinham passado, mas nunca tinha havido um formato que os tornasse elementos residentes. A criação, no ano passado, do restaurante Lucky 13 permite todos os dias uma rotatividade de chefs nesse espaço, aberto só para jantares. Este ano temos 18 chefs. Depois há ainda a componente mais formativa e teórica do festival. Vamos ter seminários e a final do jovem talento da gastronomia. Apostamos também na modernização da imagem e nas condições de conforto dos visitantes.
Os vinhos passaram também a ter mais atenção. Sendo os vinhos uma componente fundamental da gastronomia percebemos que não estavam presentes de uma forma cuidada, tratada, com expositores próprios. O que procurámos fazer foi criar um espaço dedicado aos vinhos que este ano vai estar no meio da zona da restauração, no sítio onde devem estar.

“É impossível resistir a tantas iguarias”
Depois de cada festival tem que fazer horas extra no ginásio ou consegue resistir a tanto petisco? Desde há dois anos que o festival cria na minha vida um período dramático. Antes e depois. Antes porque isto é muito absorvente, envolve uma estrutura muito grande e tem que começar a ser preparado com muita antecedência. O pico é um mês antes e a partir daí acabam-se as idas ao ginásio, embora não seja muito regular. E depois, durante o festival, passo a comer muito mais, pois é impossível resistir a tantas iguarias. Procuro recuperar depois.
Santarém criou o primeiro festival nacional de gastronomia digno desse nome mas continua a ser uma cidade que não tem um prato típico que imediatamente se associe a ela. Temos pensado muito nisso. Mas apesar de tudo há pratos que estão identificados com esta região, como o torricado, o magusto com bacalhau e a própria massa à barrão. Por isso achámos que o festival devia contribuir para a afirmação de um ou mais pratos. E como tínhamos que começar por um optámos pela massa à barrão. Fizemos um desafio informal a um chef, João Correia, que aceitou o desafio e vai trazer ao Lucky uma reinterpretação da massa à barrão. Na sequência disso, outro chef também ligado a Santarém vai igualmente apresentar o mesmo prato com outra interpretação.
De zero a cinco, quantas estrelas dava à restauração de Santarém no global? A restauração de Santarém, tendo qualidade, nunca conseguiu a projecção que o festival conseguiu. O grande desafio da nossa parte é fazer com que através do festival haja um efeito indutor na qualificação da oferta. Mas é evidente que a oferta hoje é melhor do que há três ou quatro anos. E há perspectivas que auguram bom futuro, pois há alguns chefs que querem abrir restaurantes em Santarém. O município está também empenhado nisso, pois melhorando a nossa oferta de restauração estamos a potenciar a capacidade de atracção turística. Daria 4 estrelas à restauração de Santarém.

“Sei fritar um ovo por razões de subsistência”
À mesa é um pisco ou um glutão? Sou um pisco, mas como literalmente de tudo…
Não tem nenhum inimigo de estimação na culinária? Não, nenhum. Mas realmente não como muito.
É capaz de percorrer muitos quilómetros para ir propositadamente comer um determinado prato? Sou e cada vez mais. Gosto imenso de caldeirada, por exemplo. Mas o meu prato favorito é um que a minha mãe fazia, e que uma tia minha ainda faz, que é tomatada com ovo. É um manjar dos deuses. Agora estou curioso para provar a tomatada com peixe, que fazem no Algarve.
Tem jeito para a cozinha ou é dos que não sabe fritar um ovo? Não tenho jeito para a cozinha mas sei fritar um ovo por razões de subsistência.
Não há nenhum prato em que se considere um modesto especialista? Nem por isso. Mas gosto de fazer uns bifes grelhados, de preferência de peru.
Tem muito cuidado com o que come?
Não tenho muito cuidado, mas há coisas que evito porque não me agradam, não me sabem bem. Nomeadamente comidas muito gordurosas.
Valoriza a apresentação, o lado estético dos pratos, ou o que interessa mesmo é a qualidade da comida? Acho que hoje tudo importa e o lado estético, talvez por deformação profissional, para mim é importante. Aliás, um provérbio diz que os olhos também comem.
É daqueles que precisa de um dicionário para decifrar o nome de certos pratos e ter uma ideia do que vai comer? Há pratos muito complexos e cada vez mais… E como a minha capacidade de memória não é boa, com certos nomes tenho mesmo muita dificuldade.
Com tanto chef, tanto restaurante gourmet e tantos programas na TV sobre culinária não se corre o risco de haver uma indigestão colectiva? Tudo o que é excessivo tende a desgastar-se. Embora me pareça que na gastronomia as coisas são ligeiramente diferentes. Porque a alimentação é como o ar, necessitamos dela para viver. Actualmente é um sector de actividade em crescendo e daí ser natural que atraia cada vez mais gente e mais atenções. Mas acredito que o mercado vai ajustar-se naturalmente.
Vamos ter mais taxas sobre produtos com açúcar e gordura a mais. É justo que o Governo queira influenciar a dieta dos governados inflacionando com impostos o preço de determinados produtos? Acho que em Portugal já existe uma carga fiscal elevadíssima. Temos que encontrar outro modelo, pois este não é sustentável. Diria que este Governo assumiu funções fazendo uma série de promessas e baixando até alguns impostos, levando muita gente a acreditar que por essa via poderia estimular o consumo. Não é isso que está a acontecer. O que me parece é que o país está muito desgastado e agastado com os impostos. Por isso não me parece correcto aplicar estas medidas, porque os objectivos são outros.

“O meu contrato é por quatro anos”

Está a viver neste mandato a sua primeira experiência na política. É dose para repetir? O meu contrato é por quatro anos e foi o desafio que estabeleci a mim próprio. Tivemos a sorte e o azar de governar num contexto muito difícil, mas apesar das dificuldades, das incompreensões e também de alguns erros, o balanço é positivo e alguns resultados são já visíveis. O meu compromisso é para quatro anos e quando o aceitei pensei que mais do que isso poderia ser comprometedor em termos de carreira profissional.
Está a gostar da experiência? Tem sido muito gratificante, apesar das dificuldades. Estou satisfeito com o desafio. Mas isto altera muito a nossa vida. Todos os hábitos, até as relações familiares e de amizade, alteram-se porque de repente deixamos de ter tempo para participar, para conviver.

Um arquitecto que chegou tarde à política

Luís Farinha nasceu no dia 22 de Março de 1968 no Hospital de Santarém mas considera-se natural do Vale de Santarém. Reside em Santarém, tem uma namorada e não tem filhos. É formado em Arquitectura e arquitecto de profissão. Vive a sua primeira experiência política como vereador da Câmara de Santarém eleito pelo PSD, mas não é filiado no partido.

Rosto do Festival de Gastronomia é “um pisco” à mesa e com pouco jeito para a cozinha

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