Serranos, Campinos e Bairrões - Maneiras de Dizer na Borda d´Água
Bordão a que se encosta muita gente bôa que não encontra saída para a frase que, a custo, carpentejou, ou que quere dar-lhe um termo de comparação vago, indeterminado, insignificativo.
Maneiras de Dizer na Borda d´Água1
É com´ou outro
Bordão a que se encosta muita gente bôa que não encontra saída para a frase que, a custo, carpentejou, ou que quere dar-lhe um termo de comparação vago, indeterminado, insignificativo.
–Ê cá... sou com'ou outro, se o tenho como, se o nan tenho tamém passo sin ele...
–Iss´é vardade; cá a gente do campo chega só inté onde pode chegar: é com´ou outro: quem nasceu para vintém nunca é capaz de chegar a pataco.
–Eu cá por mim, é com´ou outro, se tenho alguma coisa de meu, por isso m´arrubenta a alma a travalhar de dia e de noite; e, é com´ou outro, bem tolo é quem se mata; nesta idade a qu'agente chigou tamém temos direito de descançar um pouco. É com´ou outro: quem vier a-traz que feche a porta.
Êra, madêra, fêra …
Dizem assim as palavras eira, madeira, feira, etc.
Em Benavente e Samora não pronunciam assim: fazem o ditongo ei mais claro, mas apertando a garganta, como nós diremos na palavra feio, quando a não pronunciamos com demasiado purismo, como às vezes se ouve féio e fâio.
É dificil grafar estas maneiras de pronunciar; só ouvindo-se é que se pode fazer ideia perfeita destas modalidades de pronúncia.
E, já que falamos de eiras, é bom acentuar que as eiras da Borda de Água, sendo muito mais necessárias, em virtude das grandes searas que por aqui se fazem, do que o são as das serras, ficam muito mais baratas. Nas serras fazem as eiras de pedra rija, ou de pedra lavrada, com um muro em volta e uma casa ao lado, que serve para guardar os utensílios da eira e mais ainda: para ali dormir alguém que se encarregue da guarda dos géneros debulhados.
No Bairro e Borda de Água em qualquer propriedade se talha uma eira, do tamanho que se quere e não reclama grandes trabalhos a sua construção. Alisase o terreno, rega-se muito bem regado, e, quando está bastante mole a superficie do terreno, mete-se-lhe um rebanho de cabras, ou meia dúzia de bois que vão calquinhando o terreno até a crosta da terra ficar dura como cimento. Está pronta a eira para debulhar o que for necessário.
Com o uso sempre crescente das debulhadoras, quase se dispensa a eira … Se
não fossem as favas e os feijões...
1 Escrito por Francisco Serra Frazão em 1938.