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Formidável Manuel Serra d’Aire

O presidente da Câmara de Alpiarça, o comunista Mário Pereira, vai responder em tribunal por um crime de injúria agravada, por ter mandado “para o caralho” (a partir daqui designado por “cara…”, para não ferir os leitores mais sensíveis e pouco habituados a esse palavreado) o vereador da oposição Francisco Cunha. A situação passou-se numa reunião de câmara há dois anos e por causa da história o presidente vai ter que sentar o rabo no mocho.

Confesso que estou preocupado. Este caso vem abrir um precedente perigoso para a nossa justiça, que corre o risco de ficar completamente entupida de processos se houver apresentação de queixa por injúrias sempre que alguém for mandado para o dito cujo. Imagina tu o que seria se cada árbitro de futebol que fosse invectivado nesses termos mandasse parar o jogo e pedisse à polícia que identificasse quem, no meio daquela turba ululante nas bancadas, o tinha mandado para o “cara…” e chamado nomes feios à sua querida mãezinha. Os jogos não chegavam ao fim, os polícias não faziam mais nada e os tribunais colapsavam por overdose processual. Ou, como diria o povo, era um sarilho do “cara…”!!
Além disso, este patusco processo vem também deixar o aviso a quem, como nós, usa o vernáculo com alguma frequência para exprimir determinadas emoções. A partir de agora, eu, pelo seguro, vou deixar de mandar para o “cara…” quem me mói o juízo e passar a utilizar um mais diplomático “vá para o raio que o parta” ou mesmo um prosaico “vá ver se chove”. Acredito que assim fico a salvo de um eventual processo, embora o melhor mesmo seja contar até 10 e deixar a ira passar sem dizer palavra, não vá ter pela frente uma pessoa com a sensibilidade tão apurada como a do vereador Francisco Cunha. Por isso, meu caro, cuidadinho com a língua, sobretudo quando andares pelas bandas de Alpiarça…
Por Tomar a epopeia tragicómica em que se transformou a política local continua a divertir-me à grande. Aquilo é muito bom! São episódios atrás de episódios que confirmam que a realidade, por vezes, ultrapassa mesmo a ficção mais delirante. Ele é o vereador que entrega os pelouros e depois se arrepende e depois volta a entregar, numa rábula só ao alcance dos predestinados; ele é o chefe de gabinete que é contratado para técnico de informática do município e depois é posto a andar porque o concurso afinal não contou e lá se vão os tachos - embora tenham ficado os dedos com que continua a teclar com afã; ele é o fanático apoiante da maioria socialista que, de repente, passa a descobrir defeitos onde antes só via virtudes e converte-se em franco-atirador por conta própria, cada vez mais convencido de que a História lhe reserva um lugar no panteão nabantino; ele é a presidenta que gosta mais das reuniões de câmara à porta fechada porque há coisas que não gosta de debater em público, vá lá saber-se porquê…
Enfim, como vês são tantas as personagens e os enredos que já era tempo do nosso amigo Carlos Carvalheiro montar uma peça de teatro com o seu Fatias de Cá, baseada em factos reais, ainda que inverosímeis, sobre as tramas nos corredores do poder da cidade templária. O sucesso estava garantido.
Um abraço quebra-costas do
Serafim das Neves

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