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A paixão pelos aviões não chegou a ganhar asas

A paixão pelos aviões não chegou a ganhar asas

Fernando Caeiro é gerente da Novagráfica e há 25 que trabalha na empresa de arte gráficas que o pai fundou no Cartaxo, mas em jovem queria ser piloto de aviões. Admite que pouco vende no concelho e está descontente com o estado a que chegou a região.

Há 25 anos que está na empresa que o pai fundou mas começou por baixo até ser gerente da Novagráfica, cargo que exerce há cinco anos. Fernando Caeiro nasceu em Santarém há 43 anos e com um ano e meio foi viver para o Cartaxo, quando foi criada a empresa de artes gráficas.
Em miúdo chegou a trabalhar no campo mas deixou essas “aventuras” nos últimos anos. “A última vindima que fiz custou-me 3,500 euros por causa de uma hérnia que tive numa campanha com amigos em Vila Chã de Ourique”, conta.
Hoje o pouco tempo que tem livre dedica-o à família. “O meu sonho era ser piloto de aviação civil, adoro aviões. Tenho muitas horas de voo em trabalho ou com a família e este ano estive em Espanha e na Alemanha em negócios. Mas as muitas horas a pilotar só tenho em simuladores”, diz entre risos.
Com o 12.º ano e os conhecimentos de gestão adquiridos, em grande parte, com a “grande sabedoria” do seu pai, Fernando tem ainda um curso de informática tirado em Lisboa, deixando cair por terra a paixão pelo ar que exigia muitos estudos e muitas despesas. Quando o pai o convidou para entrar na empresa aos 18 anos começou a desfrutar a área para nunca mais a largar. “Os clientes são muito exigentes, puxam muito por nós e isso é bom porque nos faz trabalhar mais. A empresa tem 42 anos mas está no mercado pelo trabalho e pela qualidade e não pelos seus lindos olhos – passe a expressão”, afirma.
Fernando começou na empresa pelos acabamentos. “E ainda bem que foi assim para poder dar valor, conhecer a estrutura e o funcionamento da empresa. Dou valor às pessoas e ao seu trabalho e consigo ajudar no sucesso da empresa com a equipa excelente que tenho”, sublinha.
Passou ainda pelas artes gráficas e com 22 anos foi para parte comercial que lhe exigia deslocar-se todos os dias para a capital até há cinco anos, quando começou a gerir a empresa sozinho. E apesar de grande parte do tempo ser passado no Cartaxo ainda trabalha directamente com alguns clientes e quando é necessário põe a mão na massa: “todos estão disponíveis para ajudar, tal como eu, em todos os sectores”.
“Tiro sempre uma semana de férias na Páscoa e no Verão só tiro três ou quatro dias porque é quando o pessoal as tem e este ano fui recepcionista durante uma semana. Mas também gosto de passar por aqui aos fins-de-semana e nos feriados. Não gosto de acumular serviço”, acrescenta.

“O Cartaxo está descaracterizado”
A fábrica produz para todo o país, incluindo ilhas. O estrangeiro conta com cerca de 6% da produção (Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné Bissau e França) e no concelho do Cartaxo fica apenas cerca 2%, revela.
Fernando fez parte de duas associações de comerciantes do Cartaxo que começaram com “muita força”, “mas o Cartaxo é tão pequeno que esses grupos acabaram”, conta. “Hoje o concelho está completamente descaracterizado, há pouca indústria, não há comércio, está acabado”, constata. “E só não moro em Santarém porque a família não quer”, acrescenta.
Nos tempos livres Fernando aproveita para descansar, ver filmes, ler, jantar com a família. E dos três filhos que tem não vê nenhum a seguir-lhe os passos. “O de 22 anos está ligado à informática mas se ele não encontrar nada terei os braços abertos. O de 15 quer seguir ciências biomédicas e a de 10 quer ser bióloga marinha”, afirma.
A Novagráfica do Cartaxo faz todo o tipo de trabalhos ligados às artes gráficas: papel, sacos de cartão, caixas, expositores, vinhos, caixas de compridos, e até caixas para rebuçados de pau-de-cabinda, revela o gerente. Acrescenta que hoje não tem muitos clientes ao balcão e que a grande maioria contacta os seus serviços por telefone ou por e-mail.
Para Fernando é um prazer enorme ver a solidez do negócio: “gosto de ver as pessoas felizes no trabalho e gosto de criar um bom ambiente”. “Há pouco tempo pus uma mesa de matraquilhos no refeitório para os trabalhadores poderem conviver e no Dia do Trabalhador almoçamos fora e fazemos várias actividades”, conta. “Por isso é que muitas vezes digo que ainda bem que não tirei gestão, gostaria de ter tirado, mas podia estar a ver só números e não teria esta sensibilidade”, remata.

A paixão pelos aviões não chegou a ganhar asas

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