O perigo de partilhar fotografias íntimas
Inspectora-chefe da Polícia Judiciária, Fátima Marques, alerta para que não se partilhe códigos e palavras-passe para evitar invasão de privacidade assim como fotos íntimas nas redes sociais e no telemóvel.
Uma rapariga, de 17 anos, começou a comunicar com um jovem, supostamente da sua idade, através de mensagens de telemóvel. O rapaz tinha os mesmos gostos da adolescente e incentivava-a em todas as suas ideias. Ela apaixonou-se pelo rapaz com quem comunicava todos os dias, apesar de nunca se terem conhecido pessoalmente. Quando ele lhe pediu uma fotografia dela nua, ela enviou porque estava apaixonada e confiava naquele namorado virtual. Depois desta fotografia ele começou a ameaçá-la que mostrava as fotos a toda a gente. A Polícia Judiciária (PJ) começou a investigar o caso e descobriu que o jovem por quem a adolescente se apaixonou tinha 45 anos e não 17 como tinha dito.
“É preciso ter muito cuidado com o que se coloca nas redes sociais, o que se fala e o que se partilha com desconhecidos. As pessoas tentam agradar para conquistarem a confiança do outro e depois quando conseguem fotos ou vídeos ameaçam torná-los públicos deixando a vítima numa situação de humilhação e medo”, afirmou Fátima Marques, inspectora-chefe da PJ de Leiria. A responsável foi uma das oradoras de mais uma sessão de “Conversas com Café”, desta vez intitulada “Bullying e Cyberbullying: o que é, como prevenir e como intervir?”, organizada pela Câmara do Entroncamento, desta vez com o apoio da Comissão de Protecção de Crianças e Jovens (CPCJ) do concelho, que decorreu na tarde de sexta-feira, 8 de Fevereiro, na biblioteca municipal da cidade.
A inspectora-chefe disse ser muito comum namorados trocarem fotografias íntimas entre si e quando o namoro acaba essas fotos vão parar à internet com muita facilidade. “Uma fotografia que vá uma vez para a internet vai estar para sempre lá”, alerta.
Segundo Fátima Marques, a PJ viu aumentar a prática de crimes com o uso da internet, sobretudo com o aparecimento das redes sociais. A inspectora-chefe explicou também que cyberbullying e bullying não são crimes. Considerados crime são os delitos associados ao uso indevido das novas tecnologias, nomeadamente ameaça, perseguição, difamação, injúria, devassa da vida privada, abuso sexual de menores, actos sexuais com adolescentes, aliciamento de menores para fins sexuais e acesso ilegítimo. “Estes casos chegam à justiça porque falhou a família - tanto do lado do agressor como do lado da vítima -, falhou a escola, o Serviço Nacional de Saúde, falharam os vizinhos, falhou tudo”, realça.
Fátima Marques terminou a sua intervenção alertando pais e filhos presentes para nunca partilharem códigos ou palavras-passe com ninguém. “Quando são crianças devem partilhar os códigos apenas com os pais”, reforçou.
EXEMPLO DOS PAIS É FUNDAMENTAL
“Os pais não podem prescindir de dar atenção ao seu filho e passar tempo com ele. Tempo de qualidade não chega, é preciso haver uma grande ligação. Isso vai formar o carácter das crianças. As crianças não são violentas. O mundo em que vivemos é que é violento e as crianças precisam adaptar-se. Não pode faltar amor e carinho a uma criança, porque isso vai ser muito importante na formação da sua personalidade no futuro. Isso pode fazer a diferença na existência do bullying”. A opinião é de Adelino Antunes, sociólogo, doutorado em Indisciplina e Violência em contexto escolar, o outro orador convidado da conferência.
Adelino Antunes explicou que as crianças aprendem por imitação. Imitam tudo o que vêem os pais fazer e mais facilmente aprendem as coisas más do que as boas. Por isso, os pais têm que ter consciência da importância do seu comportamento diante dos filhos. No entanto, referiu também, é muito importante estabelecer limites e construir regras. “Por exemplo, antigamente subíamos às árvores e magoavamo-nos, mas isso fazia com que aprendêssemos a defender-nos. Hoje, tiraram tudo o que possa constituir perigos para as crianças e os miúdos agora não se sabem defender”, disse.
O sociólogo alertou para a necessidade das crianças precisarem de incentivos positivos e elogios por parte dos pais e da família. “O problema é que os adultos têm o vício de apontar tudo o que as crianças e jovens fazem de mal e não elogiam o que fazem bem”, referiu.
Para Adelino Antunes a única forma de travar o bullying é através da prevenção e essa prevenção deve começar logo que um casal decide ter um filho porque a educação é fundamental para criar uma criança com uma personalidade bem estruturada.