Tradições | 30-04-2024 10:20

Serranos, Campinos e Bairrões - Maneiras de Dizer na Borda d´Água

Serranos, Campinos e Bairrões - Maneiras de Dizer na Borda d´Água

Primitivamente só se dava o nome de moiral ao encarregado da abegoaria, (depois, abegão) e ao chefe dos guardas do gado.

Maneiras de Dizer na Borda d´Água1

Maioral

Maioral, pastor, guarda de manada.

Primitivamente só se dava o nome de moiral ao encarregado da abegoaria, (depois, abegão) e ao chefe dos guardas do gado.

Habituado, como nenhum outro à vida servil, o povo ribatejano tem ainda o culto pelo patrão; está convencido de que, se o patrão não existisse, ou se um dia resolvesse retirar e entregar-lhe as terras, morreria de fome, porque chegava ao sábado e quem lhe havia de entregar a féria, contadinha, ali à portinhola do escritório?

Por isso, dá-se com o Ribatejano um singular fenómeno: Se a gente se dirigir a um destes bons homens e lhe diz: “–Olhe lá, amigo: não me faz o favor de ir ali abaixo levar este embrulhinho?” O homem cofia as suiças, olha-nos com olhar superior e velhaco e é muito capaz de responder: ”–Vá lá bócê incanto m'ha de estar a mandar a mim...”.

Mas a gente diz-lhe: “–Eh moiral: vai ali a casa do patrão F... e entrega-lhe este embrulho, que lhe mando eu”. Levanta-se rapidamente, leva o barrete a escorregar da cabeça ao ombro esquerdo, e, sem resmungar, diz: “–Pronto, patrão, é já… Quem sabe”, pensa ele, “se este será amigo cá do patrão?".

Pano

Guardanapo grande, espécie de meia toalha em que os trabalhadores do Ribatejo embruIham e enfardelam o almoço ou a merenda, para comerem no local do trabalho.

Andar de pano, ou ir de pano, é a expressão contrária, oposta a ir de alforges, ou andar de alforges.

Ir de pano quere dizer que o trabalhador vai trabalhar para um serviço que não dista muito do povoado, voltando a casa todas as tardes depois de despegar.

Ir de alforges significa que o trabalhador vai para muito longe, para sítio onde tem de passar a semana inteira, e, por isso, leva os alforges aviados com três ou quatro pães, uma mancheia de batatas, um saquitel de feijões, duas ou três cebolas, um bom naco de toucinho, um trapinho cheio de sal, um corno com azeite... eles lá sabem o que lhes é preciso para passar a semana.

Se andam de pano, comem qualquer coisa em casa antes de irem enregar no trabalho, e levam no pano, ou no saquitel de chita, um fatacaz de pão com uma lasca de bacalhau, ou uma talhada de toucinho, que assam sobre a brasa e comem gostosamente, com aquele apetite pronto e são de que só se gaba a gente do campo.


1 Escrito por Francisco Serra Frazão em 1938.

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