Cultura | 13-05-2021 18:00

A Ascensão é também  uma altura de alguma transgressão e muito convívio

A Ascensão é também  uma altura de alguma transgressão e muito convívio
ESTAMOS EM ASCENSÃO
Luís Botas, Manuel Aranha e João Aranha vivem as tradições da Chamusca como ninguém

Jovens da Chamusca que fazem questão de manter vivas as tradições

O Manuel, o João e o Luís sentam-se à mesa de uma tertúlia numa casa de campo na Chamusca, na semana das Festas da Ascensão. O início do texto, que também pode ser o início de uma anedota, assinala o momento em que três amigos aceitam o desafio de O MIRANTE para irem à apanha da espiga dias antes da Quinta-Feira de Ascensão.
Manuel Aranha, é o mais extrovertido e foi ele que disponibilizou o espaço para a conversa. Começa por avisar que nunca apanhou a espiga embora saiba de cor como é feita; “três espigas de trigo, três malmequeres, três papoilas, um ramo de oliveira em flor, uma esgalha de videira e um pé de alecrim ou rosmaninho”.

Manuel vive intensamente os costumes e as tradições chamusquenses. Quem o conhece sabe que, em certas alturas, é possível encontrá-lo numa das antigas tabernas a beber uns copos com homens meio século mais velhos do que ele.

“Acompanhava o meu avô e o meu pai para almoços com os amigos e deliciava-me a ouvir as histórias do passado. A única diferença é que nessa altura não bebia e agora gosto de beber uns copos”, afirma com um sorriso no rosto.

Os dois amigos aplaudem-lhe a sinceridade dos 23 anos e reiteram. “É verdade que ele gosta de beber uns copos, mas agora anda mais calmo desde que tem namorada”. E para manter a situação sem problemas durante o período da Ascensão já arranjou solução. “Conversámos e decidimos que eu não devia ir à festa. São muitas horas sem dormir e ia andar a chatear-me para ir para casa e eu preocupado por ela querer ir. Vale mais jogar pelo seguro”, sublinha.

Luís Botas, da mesma idade do amigo, leva as mãos à cabeça para lamentar não ter tido a mesma opção quando, já lá vão dois anos, levou à festa a namorada. Foi obrigado a ir para casa mais cedo, acabou por adormecer de manhã e faltou, pela primeira vez, à habitual entrada de toiros pela rua principal da vila. “Escusado será dizer que fiquei sem ver os toiros e, dois dias depois, sem namorada também”, conta em jeito de brincadeira.

João Aranha não tem “cara-metade”, mas a sua personalidade, diz, não é assim tão rebelde para se conseguir livrar de uma namorada. A primeira memória que tem de uma Quinta-Feira de Ascensão é de trajar com o avô Manuel José Moedas para fazer, a cavalo, o percurso da entrada de toiros, na Rua Direita de S. Pedro.

O avô, um homem de bons valores e muitos princípios, que entretanto já partiu, ensinou-lhe muito sobre a história da Chamusca e do orgulho que é ter o ferro da terra cravado no peito. “Estudo em Lisboa e quando me perguntam de onde sou, digo sempre que sou da Chamusca e nunca, como acontece com alguns, de Santarém”, assegura.
A dois dias da Ascensão já decidiu que não vai às aulas. “Esta é uma altura especial. E também é importante sair da linha, ainda por cima quando é em prol das tradições da nossa terra”, afirma.

Manuel concorda e vinca que os jovens devem dedicar-se mais às tradições da terra, como o Enterro do Galo e o Jogo do Quartão, em Quarta-Feira de Cinzas. “São traços identitários da Chamusca. Há uma tendência para os pais acharem que são actividades para os bêbados, mas não podiam estar mais enganados. Os mais velhos devem preocupar-se em passar o conceito de bairrismo aos mais novos”, sublinha.

A semana da Ascensão na Chamusca é o local de encontros, reencontros, convívios e confraternizações. Este ano, tal como no ano passado, os toiros não vão andar na rua e as tasquinhas vão estar fechadas. No entanto, os três amigos vão organizar pequenos convívios para manter a chama da tradição acesa. Escusado será dizer que o mais certo é haver muito vinho e cerveja e poucas mulheres.

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