Como se esbanja um milhão num edifício que há anos não serve para nada
Chamusca é o exemplo do pior que se pode fazer com o dinheiro público. O caso do edifício Salter Cid começou mal e tem continuado mal. Desde 1999 o espaço só foi efectivamente utilizado durante três anos. Um caso paradigmático de como é possível delapidar as finanças municipais, sem que até agora alguém seja iluminado por uma estratégia para o local.
A Câmara da Chamusca já gastou um milhão e duzentos mil euros num edifício que tem estado fechado e para o qual não tem qualquer ideia conhecida para a sua utilização. É um dos casos mais emblemáticos de esbanjamento de dinheiros públicos no concelho e na região. A história do edifício Salter Cid começa em 1999 e até agora só teve vida durante três anos. O anterior executivo chegou a pagar 2.500 euros de renda durante oito anos para estar fechado. O imóvel, em frente à câmara, foi entretanto adquirido e está a ser alvo de obras.
A câmara não tem qualquer projecto para a utilização do edifício. O mais próximo disso foi a intenção de instalar o arquivo municipal, mas começaram a arranjar o imóvel sem qualquer estudo e avaliação prévia, o que só podia dar mau resultado. Conclusão: o espaço não tinha condições para a intenção do presidente da autarquia, Paulo Queimado, que se viu obrigado a comprar outro prédio, por 80 mil euros, a um autarca do seu partido.
O edifício Salter Cid foi adquirido pelo município em 2015 por 463 mil euros e já foram gastos perto de meio milhão em obras, que ainda estão a decorrer. Antes, já a câmara, na altura da gestão CDU, tinha sido obrigada pelo tribunal a pagar uma renda mensal de 2.500 euros. Porque após a morte do proprietário, os seus herdeiros recusaram receber o imóvel nas condições em que se encontrava. Justificando não ter dinheiro para fazer as obras, orçadas em 50 mil euros, a câmara, então da CDU, deixa arrastar a situação. Acaba por gastar quatro vezes mais, em sete anos, entre 2007 e 2015.
Recorde-se que em 1999 o então presidente da câmara da CDU, Sérgio Carrinho, celebrou um contrato de comodato com os donos do prédio, para a instalação da agência de desenvolvimento regional – Inovartejo, que acabou por funcionar apenas três anos. A contrapartida da autarquia era fazer obras no imóvel. Aquando da dissolução da Inovartejo, Sérgio Carrinho disse a O MIRANTE
que o edifício não ficaria “às moscas”. A comissão instaladora da associação empresarial da Chamusca ainda chegou a usar o espaço, que abandonou com a chegada do inverno porque chovia dentro do edifício.
Quando Paulo Queimado entra para a câmara decide comprar o espaço, já com sinais de degradação, para não continuar a pagar rendas, mas sem qualquer estratégia. Com a aquisição, o presidente socialista foi tendo umas ideias soltas sobre o assunto e chegou a falar na instalação de uma escola de música, o que nunca aconteceu. A população continua à espera de saber para que vai servir o imóvel, mesmo ao lado do antigo centro regional de artesanato que está também ao abandono.