Valdemar Alves entra no Tribunal de Santarém como testemunha e sai arguido
O presidente da Câmara de Pedrógão Grande está indiciado de falsas declarações ao tribunal, quando testemunhava no caso do ex-arquitecto da Câmara de Santarém, contratado por Moita Flores do qual Valdemar Alves era assessor, que está a ser julgado por pedir dinheiro para fazer aprovar projectos.
Valdemar Alves, o actual presidente da Câmara de Pedrógão Grande, está em maré de azar com a justiça e conseguiu entrar no Tribunal de Santarém como testemunha e sair como arguido. O autarca está indiciado de falsas declarações ao tribunal no caso do arquitecto e ex-director do urbanismo da Câmara de Santarém, António Duarte, que está a ser julgado por abuso de poder e recebimento indevido de vantagens, acusado de ter feito depender o andamento de processos da contratação do gabinete de arquitectura da filha ou da concessão de apoios a um centro social que dirigia.
O autarca foi indicado como testemunha pelo arguido, já que são conhecidos do tempo em que Valdemar foi assessor de Moita Flores, o presidente da Câmara de Santarém entre 2005 e 2012 que contratou o arquitecto. O presidente de Pedrógão Grande estava a testemunhar há cerca de dez minutos, quando a procuradora do Ministério Público estranhou a suas declarações e solicitou à presidente do colectivo de juízes para que a testemunha fosse confrontada com as declarações que tinha feito na fase de inquérito.
As declarações não foram lidas porque a juíza indeferiu o pedido, atendendo a que o advogado de defesa do arquitecto se opôs. Com esta posição Valdemar Alves ficou em maus lençóis. A procuradora pediu então que fosse extraída uma certidão de falsas declarações, que agora vão servir de base para o Ministério Público mover o processo contra o autarca, antigo inspector da Polícia Judiciária, onde foi colega de Moita Flores.
Recorde-se que Valdemar Alves já está a contas com a justiça por causa dos incêndios de 2017 naquela zona e a reconstrução de casas. O autarca é arguido no processo de apuramento de responsabilidades nos fogos, que mataram 66 pessoas. O autarca foi também constituído arguido recentemente na investigação às irregularidades na reconstrução das casas afectadas pelos incêndios.
Sobre o caso que está a ser julgado no Tribunal de Santarém, o arquitecto António Duarte responde à acusação de ter pedido dinheiro a empresários de construção e do ramo imobiliário para que os projectos fossem aprovados. Está também acusado de se aproveitar do cargo para angariar clientes para o gabinete de arquitectura da filha. Foi convidado em 2006 por Moita Flores para seu consultor e em 2009 passou a director do Departamento de Planeamento e Gestão Urbanística, onde esteve até Dezembro de 2011, altura em que foi constituído arguido.
Na primeira sessão do julgamento, o arquitecto negou alguma vez ter feito depender o andamento de processos quer da contratação do gabinete da filha quer da entrega de donativos para o Centro Social, Recreativo e Cultural de Vila Verde (Alijó), que dirigiu entre 2008 e 2012.