Morreu Costa Braz, figura incontornável dos primeiros anos de democracia
Coronel aposentado ajudou a preparar o 25 de Abril e foi figura de topo no pós-revolução. Antigo ministro era natural do Pombalinho, Golegã. Faleceu na terça-feira, 2 de Julho, vítima de doença prolongada, aos 84 anos. Pela sua carreira multifacetada, foi distinguido por O MIRANTE com o prémio Personalidade do Ano Vida em 2015.
Morreu na terça-feira, 2 de Julho, o coronel Costa Braz, aos 84 anos, vítima de doença prolongada. O militar fez parte do grupo que preparou o 25 de Abril e, mais tarde, do Grupo dos 9, que normalizou a democracia em Portugal no Verão de 1975. Costa Braz foi ministro da Administração Interna em quatro governos do período pós-revolução. Foi também provedor de Justiça, Alto Comissário Contra a Corrupção e presidente da administração da Hidroeléctrica de Cahora Bassa.
Manuel da Costa Braz nasceu em 4 de Novembro de 1934 no Pombalinho, freguesia do concelho de Santarém que se mudou em 2013 para o município vizinho da Golegã, mas a profissão do pai, ferroviário, determinou que passasse grande parte da infância e juventude longe da terra natal. Fez a escola primária na Guia (Pombal) e o ensino secundário em liceus de Leiria, Figueira da Foz e Coimbra, antes de ingressar no curso geral preparatório da Escola do Exército quando estava prestes a cumprir 18 anos. Começou aí a sua vida ligada à instituição militar.
Em 2013 deu uma entrevista a O MIRANTE
(ver edição 23 Abril 2013) onde confessava que há uns anos tinha decidido dedicar-se a explorar as propriedades agrícolas de que era proprietário nos campos do Pombalinho. No entanto, a missão não correu da melhor maneira e perdeu “alguns milhares de contos de economias que tinha feito”, tendo depois arrendado as terras.
Costa Braz tinha orgulho nas suas raízes ribatejanas (o pai chegou a ser presidente da Junta do Pombalinho) e era apreciador de touradas, embora preferisse vê-las pela televisão em casa. Confessava-se uma pessoa pouco dada a excessos emocionais. Deixou dois filhos e três netas.
Militar da arma de artilharia, Manuel da Costa Braz foi uma figura de topo da vida pública nacional nos anos seguintes à revolução de 25 de Abril de 1974, tendo integrado a comissão política do Movimento das Forças Armadas. Participou activamente na preparação do 25 de Abril, fazendo parte do grupo que elaborou o chamado Documento de Cascais e o Programa do Movimento das Forças Armadas. Como oficial cumpriu três comissões de serviço nas ex-colónias, duas em Angola e uma na Guiné, durante a guerra colonial.
Foi ministro da Administração Interna nos II e III governos provisórios e nos I e II governos constitucionais, entre 1976 e 1980, tendo nestes casos como primeiro-ministro Mário Soares e Maria de Lourdes Pintassilgo. Foi também o primeiro Provedor de Justiça do país, nomeado em Dezembro de 1975, e Alto Comissário Contra a Corrupção entre Dezembro de 1983 e Maio de 1993. Em 1997 foi nomeado presidente do Conselho Nacional para a Reabilitação e Integração das Pessoas com Deficiência.