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Os Sardinheiros vivem a festa a trabalhar para que todos possam festejar
A comissão contou com a ajuda dos antigos sardinheiros no sábado para distribuir à população as sardinhas, pão e vinho

Os Sardinheiros vivem a festa a trabalhar para que todos possam festejar

Festa da Amizade - Sardinha Assada, em Benavente, decorreu de 27 a 29 de Junho. No final de Junho Benavente sai à rua para viver três dias de festa. Come-se muita sardinha, fintam-se os toiros e dança-se até de madrugada. Enquanto milhares se divertem, nos bastidores da festa 21 homens trabalham horas a fio para que nada falhe. Em troca recebem a satisfação de dever cumprido e a alegria de verem o povo feliz.

Fernando Bandeira foi sardinheiro há 30 anos. Todos os anos ajuda os novos sardinheiros e já ganhou o título de “Mestre do Estaleiro

A três dias da festa já a comissão organizadora anda num frenesim. São apenas 21 homens, conhecidos como “sardinheiros”, que têm a missão de ter tudo pronto para que a Festa da Amizade - Sardinha Assada de Benavente seja cumprida. Começam por distribuir os lugares dos feirantes, preparam a iluminação e coordenam a montagem dos palcos e tronqueiras com a ajuda de funcionários da Câmara de Benavente. Com os fornecedores de cerveja, vinho, pão e sardinha acordam-se as quantidades e acertam-se os horários de entrega. “Temos uma grande responsabilidade em cima das costas, nada pode falhar. Nestes dias damos o máximo”, diz Rafael Frederico, presidente da comissão de 2019.
Para que a festa, tradição há 51 anos, não desiluda os milhares de visitantes os sardinheiros têm o plano de trabalho bem traçado. Divididos em pequenos grupos, uns ficam encarregues da alimentação, outros das bebidas, do palco, dos feirantes e das largadas de touros.

Do estaleiro municipal sai a festa
É do estaleiro municipal que sai a sardinha, o pão e o vinho, os fogareiros e o carvão, em cima de atrelados guiados por tractores. Um dos responsáveis pelo estaleiro é Ricardo Barrão, de 29 anos. A inexperiência em organizar um evento com esta dimensão vive-lhe estampada no rosto. É sexta-feira e há um dia que não dorme. Por sorte, conta com a experiência de um ex-sardinheiro que se disponibiliza há 30 anos para ajudar os novatos. Fernando Bandeira foi sardinheiro em 1989. Desde aí que oferece as suas mãos calejadas para três dias de trabalho frenético.
São 16h00 de sexta-feira. “Está a chegar o vinho e passado meia hora chega o pão”, nota o ex-sardinheiro. Descarregadas as caixas de vinho, é tempo de começar a preparar as pipas. “Têm de ser regadas durante 16h00 para poderem receber o vinho”, explica. Os cinco mil litros de vinho, tal como os 10 mil pães, são produzidos naquele concelho, em Samora Correia. “Já é habitual a comissão de cada ano dar preferência a produtos do concelho ou da região para valorizar o nossos produtores”, justifica Rafael.
A festa vai seguindo a bom ritmo. Já se largaram os toiros, desfilaram as fanfarras e Quim Barreiros deu música ao povo. Às 05h30, Benavente já dorme, mas Fernando Bandeira continua no estaleiro sem pregar olho. Sabe que não tarda a chegar o camião de Peniche, carregado com cinco toneladas de sardinhas.

Ao som do morteiro acendem-se os fogareiros
A festa vive no sábado o seu dia mais intenso, pois para além de ser o da despedida é o que junta milhares de pessoas nas ruas para a sardinhada à borla, até altas horas da madrugada. No estaleiro, pelas 20h30, concentram-se os sardinheiros em grande número e neste dia contam com a ajuda dos “padrinhos” - os que organizaram a festa no ano anterior. É preciso a ajuda de todos para carregar os fogareiros e o carvão. “Parece que já não durmo há três meses”, grita, ao chegar ao estaleiro, o sardinheiro que conduz o jipe carregado de barris de cerveja. “Estamos cansados, mas em breve todo o esforço vai ser compensado, quando estivermos em cima do atrelado a distribuir a sardinha, o pão e o vinho”, incentiva Rafael Frederico.
Ao som do morteiro acendem-se os fogareiros nas ruas. São 21h30 e do estaleiro partem dois atrelados carregados com as pipas de vinho. As sardinhas, as mais cobiçadas da festa, vão alimentar o povo não tarda.
Estão as chegar as 22h00 e em volta dos fogareiros, as pessoas vão marcando o seu lugar na fila. Há música nas ruas a marcar o ritmo da festa e a entrada dos atrelados. É desta que vêm carregados de sardinha. Lá em cima, o semblante dos sardinheiros muda assim que entregam as caixas. Nota-se a felicidade nos sorrisos rasgados e o cansaço parece ter ficado esquecido algures. Mas sabem que a missão ainda não terminou. Às 04h30 regressam para recolher os fogareiros ainda quentes, pois tudo o que saiu tem de voltar a entrar no estaleiro na mesma noite. A festa fez-se e os sardinheiros descansaram ao domingo. Para o ano haverá mais tempo para a viver, ainda que com o sentido de responsabilidade de ajudar ao sábado a nova comissão organizadora.

Rafael Frederico tem 38 anos e foi este ano o presidente da Comissão da Sardinha Assada

Não há tempo para viver a festa

André Calado, 34 anos, já percorreu 300 quilómetros em menos de três dias, entre a vila e o estaleiro. É o sardinheiro responsável por abastecer os postos de cerveja. Para três dias foram encomendados 350 barris. “Já perdi a conta às viagens que fiz. Só fui uma hora à cama e só lá volto no domingo à tarde. Mas como só se faz a festa uma vez na vida tenho de manter o foco”, diz a O MIRANTE.
Tal como os restantes membros da comissão, cujas idades andam entre os 17 e os 40 anos, André só lamenta não poder disfrutar da festa. “Mas vive-se de outra maneira, a fazer as pessoas felizes”, sublinha. Rafael Frederico concorda: “Enquanto sardinheiro não há tempo para viver a festa, estamos a fazê-la para os outros e é a nossa maior alegria”.

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